Capítulo 7

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POV Edmilson

Quando chegamos à escola hoje, quarta-feira, Rodrigo já está a nossa espera, ou melhor, de Paty. Ele tem uma sacola de presente nas mãos e entrega para ela com um grande sorriso.

- Trouxe para você.

- Para mim, por quê? – ela se surpreende e ao abrir, há uma caixa de chocolates decorados.

- Me ajudou muito com as provas, é minha forma de agradecer.

- Não precisava, mas obrigada, eu adorei – ela sorri para ele e meu estômago se contorce com a cena.

- Comecei a ler o livro que me indicou. Estou adorando, não vejo a hora de assistir ao filme com você.

Fico para trás remoendo esta história. Então agora já estão tão amigos que fazem planos juntos? E eu? Vou para a sala irritado e me sento longe deles, atrás da Karen. Paty me olha confusa, mas finjo que não vi.

- Oi, gatinho. Que cara é esta? - Karen me questiona, e alivio minha expressão na mesma hora.

- Nada não. Como foi nas provas? – sei que não é boa aluna, mas precisava começar um assunto logo.

- Não muito bem. Acho que fiquei para recuperação. E você?

- Sabia a maioria das questões, estou tranquilo – sempre fui bom aluno, e ser quieto ajuda, já que não me envolvo com conversas paralelas durante a aula.

- Poderia me dar umas aulas? Meus pais ficarão uma fera comigo, mas tenho muita dificuldade – faz um beicinho ao dizer isto, mas o motivo para ir mal é que ela não para de falar durante a aula, impossível aprender alguma coisa.

- Claro, ajudo sim – se Paty pode dar aulinhas para o Rodrigo, vou ajudar a garota também.

- As novas provas serão na próxima semana, pelo que me disseram. Precisarei de ajuda em português, matemática e física, com certeza e talvez em química.

- Vamos combinar um horário todas as tardes, o que acha?

- Adorei, gatinho – ela abre um sorriso enorme e pisca sedutora, e me arrependo na mesma hora.

A aula começa e vejo os bilhetinhos que Rodrigo envia para Paty. Qual o problema desse cara? Minha amiga sorri para ele e tento parar de prestar atenção neles e focar no professor, mas não tenho sucesso. Por fim envio um para Karen combinando nosso estudo para a tarde seguinte.

- Por que se sentou longe de mim, Ed? – ela me questiona assim que a aula termina e estamos de saída para nossas casas.

- Por nada, queria conversar melhor com a Karen.

- Não sabia que eram tão amigos...

- Ela é muito legal e interessante – por que estou dizendo isso, se não é verdade? - Irei ajudá-la com as provas de recuperação.

- Certo – Paty parece chateada, mas ignoro seus olhares confusos e continuo falando da garota.

- Ela é muito bonita, não acha?

- Claro, uma das mais lindas da sala, pelo que todos dizem.

- Concordo – digo com um sorriso largo e ela parece irritada, e não sei por que isso me deixa tão satisfeito.

- Vá na frente, tenho que falar com o Rodrigo – ela volta para a sala e me deixa sozinho. Vou para minha casa lentamente, olhando para trás para ver se ela está vindo. O que tanto tem para conversar com aquele cara?

Jogo meus materiais no chão e me deito na cama. O que está acontecendo com a Paty? Ela está tão estranha desde que conheceu aquele Rodrigo. Será que está apaixonada por ele? O que ela vê naquele garoto cheio de sorrisos irritantes?

Passo a tarde em meu ateliê, mas meu trabalho não rende muito. Queria pintar algo para tirar essa angústia que sinto, mas agora não tenho tempo. Preciso parar mais cedo, pois haverá terço hoje aqui em casa e minha avó faz questão de nossa presença.

Estou ajudando receber as amigas dela, enquanto está na cozinha com Inês, quando Paty chega com sua mãe e o tal do Rodrigo. Não acredito que até no terço eles estão juntos.

- Oi, Ed. Trouxe um amigo e minha mãe.

- Que bom. Entrem e fiquem à vontade – vejo-a se afastando e continuo na porta, direcionando as velhinhas.

Pelo canto do olho observo que conversam animados com minha irmã Inês e Toninho. Deixo a porta agora que minha avó chegou e me junto a eles, que riem de algo que o Rodrigo falou.

- Não conhecia este seu amigo, Edmilson. Que garoto divertido – minha irmã elogia, e sorrio, me contendo para não dar uma resposta indelicada.

- Ele é muito legal. Acredita que é jogador de futebol num time amador? – meu irmão parece fascinado.

Saio de perto com a desculpa que irei ajudar minha mãe a trazer mais cadeiras, mas Paty nem parece notar, tão envolvida que está na conversa com eles.

Sento-me distante e passo o terço todo vigiando-os de canto de olho. O rapaz está meio perdido e minha amiga cochicha o tempo todo com ele, lhe ensinando.

No final, minha mãe serve um chá com bolos e só então me junto a eles.

- Sua mãe cozinha muito bem, Edmilson – ele diz pegando mais uma fatia.

- Ela tem uma padaria e cafeteria maravilhosa aqui perto. Já conhece a Mãinha? – Inês pergunta.

- Ainda não, mas preciso urgentemente.

- Te levo lá amanhã, pode ser? – minha amiga oferece e recebe o maior sorriso que alguém pode dar.

- Claro, vou adorar.

- Quer ir conosco, Ed? – Paty me pergunta.

- Não posso, vou estudar com a Karen – ela me dá um sorriso estranho, meio forçado, mas não faz nenhum comentário e continua falando com o Rodrigo.

- Inês deu a ideia para um cantinho literário na cafeteria que é o maior sucesso. Podemos levar nossos livros, o que acha?

- Lógico. Mas já estou quase no fim, teremos que passar na biblioteca.

- Qual está lendo? – Inês pergunta interessada, já que ama ler.

- Patrícia me indicou Assassinato no Expresso do Oriente. Estou gostando muito.

- Já li e amei, foi um dos poucos que consegui descobrir o criminoso.

- Não conhecia Agatha Christie ainda e estou fascinado.

Continuam a conversa e elas nem notam quando saio da roda, tão interessadas que estão no que ele está falando.

Vou para meu ateliê e me tranco lá. Sinto uma vontade de pintar estranha e começo um novo quadro abstrato, que não sei onde me levará, mas que com certeza me ajudará a extravasar esses sentimentos confusos que estou sentindo.

Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora