Despertando para sonhar - Livro 4 da Série Sonhos

Capítulo 12

POV Patrícia

Quando vejo Ed em minha porta, fico dividida entre convidá-lo ou não a entrar, e escolho a segunda opção. Se quero esquecê-lo, não posso ficar todo meu tempo com ele. Vejo que fica decepcionado, mas preciso pensar em meu coração.

Rodrigo chega para assistirmos ao filme Assassinato no Expresso do Oriente, como combinado. É um ótimo programa para um sábado à tarde, ele é muito legal, mas me pego, várias vezes, pensando quão melhor seria se Edmilson estivesse aqui comigo.

Apesar de minha mãe estar melhor, falto à aula hoje, pois ela tem médico e quero ir junto.

- Então, doutor, como está meu filho?

- Muito bem, Sra. Judite. Precisará ainda de cuidados, já que pela sua idade a gravidez requer mais atenção, mas ele não corre perigo. O colo do útero está fechado, os batimentos do bebê ótimos e sua pressão também.

- Já é possível saber se é menino ou menina? – não aguento a curiosidade e pergunto.

- Ainda não, talvez no próximo exame.

- Muito obrigada, doutor. Posso voltar ao trabalho?

- Fique mais uma semana em casa, porém já não precisa ficar todo o tempo deitada, mas evite esforços.

Vamos embora de táxi e minha mãe deita logo que entramos, pois cansou-se com nossa saída. Coloco a roupa no varal, lavo a louça e estou preparando o almoço quando a campainha toca. É Edmilson com a matéria do dia. Agradeço, mas comento que já pedi para o Rodrigo e vejo seu desgosto.

- Se precisar de algo, sabe que pode contar comigo, não é? – ele me diz e vejo como é sincero. Sinto meu coração amolecer, enchendo-se de saudade.

- Obrigada, Ed. Sei sim – estou para convidá-lo para entrar quando meu celular toca e ele se despede.

Atendo a ligação e é Rodrigo avisando que passará aqui depois do almoço. Combinamos para às 14h, e quando olho pela janela da sala, ainda vejo Ed caminhando lentamente em direção a sua casa, voltando-se várias vezes para olhar para a minha.

Meu novo amigo passa a tarde comigo e conversamos muito sobre o livro que ele terminou. Apesar de ele ser tudo que uma garota como eu pode sonhar, não consigo sentir algo especial por ele, apenas amizade. Minha razão grita que Rodrigo é perfeito para mim, mas meu coração é surdo à sua voz.

- Quer sair para um lanche na sexta à noite? – ele me convida antes de ir embora. Disse-lhe que minha mãe está melhor e ele não perde tempo.

- Sim, gostaria muito – resolvo escutar minha razão, já que só sofri até agora a ignorando.

- Vou contar os minutos – me diz com um sorriso bonito e os olhos brilhando - Nos vemos na aula amanhã?

- Sim, quero deixar para falar nos dias em que minha mãe precisar de mim.

- Até mais, então – Me abraça e beija meu rosto e vai embora.

Não sei se fiz bem, mas preciso tentar. Edmilson disse que me beijar foi um erro e cada vez que me lembro disso, meu coração se aperta dolorido. Para mim, foi o momento mais perfeito da minha vida. Perco horas me recordando de como foi mágico e lindo, de como me senti plena e absurdamente feliz naqueles breves instantes. Isso até a realidade intervir e a imagem dele se afastando horrorizado me deixar com vontade de chorar.

Meu pai aparece após o jantar. Está sóbrio e pede para conversar conosco.

- Judite, meu amor. Patrícia, minha filha. Quero novamente pedir perdão. Não reconheço o homem que me tornei e não quero mais repetir as barbaridades que cometi. Tenho me enganado há anos, dizendo que posso parar de beber na hora que quiser, mas não é verdade. Porém não consigo sozinho, preciso de ajuda.

- Tentei te ajudar, Jonas, mas você nunca aceitou – minha mãe diz com os olhos marejados.

- Eu sei, querida, mas tenho que encarar a verdade. Sou um alcoólatra, é um vício. Por isso decidi me internar numa clínica de recuperação. Procurei um médico amigo meu e ele me afastou do trabalho e providenciou o meu encaminhamento.

- Que ótima notícia, fico muito feliz por ter se decidido – minha mãe levanta-se e o abraça.

- Vou me tornar digno de você, meu amor. Merecerei seu perdão.

- Por favor, Jonas, não desista. Há uma nova criança aqui, e ela precisa do pai.

- Sim, por ela, por nossas filhas, por nosso casamento, eu vou me libertar, eu juro.

Abraço meu pai, com medo de sentir esperança, porém sem conseguir evitar. Sei que o vício é uma doença, mas ele finalmente está decidido a se tratar. Tomara que não desanime, quero muito meu pai de volta.

Minha primeira reação, após meu pai sair, é ligar para o Edmilson, mas me contenho. É difícil não dividir tudo com ele, mas preciso manter distância. Ligo para Rodrigo que me escuta com atenção, mas não é com ele que quero falar.

A cada dia, nesta semana, Ed passa para me chamar para ir para a escola, mas arrumo desculpas e peço para ir à frente. Seu olhar magoado me fere, mas não sei como me afastar sem feri-lo.

Chega a sexta-feira e não estou animada com meu encontro com o Rodrigo. Mas coloco uma roupa bonita, me arrumo com apuro, decidida a dar uma chance a este rapaz tão bom e merecedor.

Combinamos de ir a uma lanchonete no centro. Ele já tem seu próprio carro, e passa para me buscar. A noite é divertida e ele é perfeito, mas não é meu Ed.

Quando paramos em frente à minha casa, eu o convido a sentar-se um pouco comigo na varanda. Sei que ele espera mais desta noite, e não posso e não quero fugir, em minha determinação de esquecer o Edmilson.

Ele para a minha frente, olhando-me intensamente.

- Gosto muito de você, Patrícia. Quero muito que dê certo entre nós.

- Também quero, Rodrigo – sorrio, para esconder meu nervosismo.

- Vou te beijar, posso? – concordo com um aceno e ele aproxima-se e toca meus lábios com os seus. É um beijo delicado, singelo. Seria perfeito, se a lembrança de outro momento não nublasse este.

- Boa noite, linda. Sonhe comigo, pois vou sonhar com você.

- Boa noite – ele me beija novamente antes de partir.

Espero ele ir para então correr para meu quarto,jogar-me na cama e chorar até dormir .

O que acham da decisão da Paty? Será que vale a pena começar a namorar o Rodrigo?