Capítulo 5

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POV Edmilson

Paty apenas me envia um boa noite e não responde minhas mensagens, apesar de ter visualizado ontem à noite.

Saio com meu pai de manhã. Ele tem que ir ao centro e preciso comprar mais material para minhas obras. Gosto destes momentos só nós dois. Ele mudou muito de uns anos para cá, graças ao meu irmão José Carlos. Era intransigente e achava que nós, descendentes de nordestinos, só servíamos para serviços braçais. Nunca aceitaria minha profissão, a não ser que fosse para pintar paredes. JC resolveu estudar engenharia, sofreu muito com suas opiniões, mas não desistiu. Foi preciso um professor de meu irmão se orgulhar dele para que meu pai enfim visse o mal que estava fazendo com suas ideias preconceituosas. Hoje ele nos entende e apoia e sei que se orgulha de nós.

Passamos na Mãinha, padaria e cafeteria de minha mãe. As reformas para ampliação terminaram há poucos meses, mas já está pequeno de novo e ela e sua sócia estão pensando em abrir uma filial.

Chego em casa e Toninho me avisa que Paty esteve aqui. Ela não me esqueceu, afinal. Estava chateado por ela preferir ficar com aquele garoto, mas ela é minha melhor amiga, nunca me trocaria.

Fico a tarde toda no meu ateliê e minha avó me leva um lanche lá mesmo, pois estou empolgado com meu trabalho e até me esqueço de comer. Quando percebo, já é noite. Tomo meu banho e resolvo procurar algo para jantar. Saio de meu quarto e dou um encontrão com Paty. Ela está muito diferente, linda num vestido azul e maquiada. Ela me conta então que irá a uma festa com aquele tal de Rodrigo e sinto algo se contorcer dentro de mim, porém não a deixo perceber e lhe desejo um bom divertimento.

Rodrigo chega e os olhos até brilham ao olhar para minha amiga. Fico sondando da porta do corredor e vejo-a se despedindo de todos e não se voltar para me procurar.

Vou para meu quarto e me deito, nem me lembro de comer, já que perdi completamente o apetite. O que será que estão fazendo? Será que ele a respeitará? Irão começar a namorar? Uma sensação desagradável se instala em meu peito e não entendo o que está acontecendo. É claro que um dia ela arrumaria um namorado, até que demorou muito. Mas eu nunca imaginei que perderia minha amiga, e agora me deparo com esta possibilidade.

Não durmo direito esta noite e envio uma mensagem para ela logo pela manhã, mas ela só me responde com uma frase lacônica.

Vou até sua casa, mas o que encontro me deixa pasmo.

- O que aconteceu com seu rosto, Paty? Foi o Rodrigo que fez isso?

- Não! Meu pai se zangou porque cheguei tarde. Minha mãe sabia e havia autorizado, mas ele estava bêbado e não raciocina nestes momentos.

- Esta situação não pode continuar. Devia ir até a polícia.

- Minha mãe não quer, já tentei convencê-la. E não posso ir sozinha.

- Sinto muito, Paty. Há algo que eu possa fazer por você?

- Não, mas obrigada.

- Quer ir lá em casa? Podemos jogar um pouco, ou assistir a um filme.

- Claro, vamos lá. Preciso mesmo sair daqui.

Passamos algumas horas juntos, mas não tive coragem de perguntar do Rodrigo. Percebi que ela fez várias pausas para responder mensagens, o que me irritou, mas não fiz comentários.

- Desculpa, mas o Rodrigo me chamou para sair, porém disse que hoje não dá.

- Hum – respondo chateado comigo mesmo por estar tão incomodado.

- Está tudo bem?

- Claro.

- Você está estranho.

- Não é nada. Quer assistir a outro filme?

- Acho melhor ir embora, meu pai saiu e só voltará tarde, mas quero estar na cama quando ele chegar.

- Não que dormir aqui?

- Não, meu pai vai querer me ver em casa. Não quero provocá-lo ainda mais.

- Você não fez nada de errado ontem, não se culpe pela violência dele.

- Tem razão. Sempre digo isto para minha mãe, e caí no mesmo erro.

Ela vai embora e me sento na sala com minha família.

- O que aconteceu com o rosto da Patrícia, meu filho. Foi o pai novamente?

- Sim, chegou bêbado em casa, não a encontrou e ficou furioso.

- Pobre menina, estava tão linda ontem – minha mãe diz compadecida.

- Um diabo vestido de gente é o que ele é. Temos que fazê alguma coisa.

- Mas o que vovó? A mãe não toma uma atitude.

- Minha vontade é dá uma surra naquele disgramado, mas não acho que vá resolvê – até meu pai está indignado.

- Vamos rezá e cuidá da menina. Vou falá com a mãe dela também.

- Obrigada, vovó.

Vou para meu quarto, me deito, mas demoro a dormir, preocupado com minha amiga. Ela me avisa que o pai chegou, mas não a procurou, apenas caiu na cama e dormiu. Respiro aliviado e me ajeito para descansar.

Passo em sua casa para irmos à escola, e seu rosto já está quase normal.

- Pensei que faltaria hoje.

- Não posso perder aulas, temos prova amanhã.

- É a última do bimestre. Já estudou?

- Sim, mas ajudarei o Rodrigo hoje à tarde.

- De novo?

- Ele está com dificuldades e é meu amigo.

- Pensei que eu que fosse o seu amigo.

- E é, o melhor. Mas ele também.

Não gosto de ouvir isso, mas me calo. Ela tem direito a outras amizades, mas não nego que fiquei enciumado. O problema é que só tenho ela. Era diferente antes da morte da Janaína, tinha um grande grupo de amigos, mas me fechei para todos e só a Paty permaneceu. Agora, não sei o que fazer sem ela. Talvez precise conversar mais com meus colegas e conhecê-los melhor.

Rodrigo se aproxima e minha vontade é me afastar no mesmo momento, mas decido dar uma chance para ele, já que minha amiga diz ser um rapaz muito legal.

- Oi, Patrícia. O que houve com seu rosto? – ele pergunta preocupado.

- Nada, só um acidente doméstico bobo. Já está sarando, mas ontem estava horrível.

- Por isso não quis ir ao cinema comigo?

- Sim, quase não venho à aula também. Meu rosto ficou medonho.

- Não é possível, é linda até com hematomas – este cara não perde uma oportunidade... E o pior é que tem razão, pena que não me lembrei de tranquilizá-la quanto a isto antes.

- Obrigada, Rodrigo – ela diz toda sorridente, o que apenas me faz sentir mais idiota por me esquecer que meninas são vaidosas, mesmo Paty que é tão tranquila quanto a isto.

Entramos na aula e ele se senta ao seu lado, comentando sobre a festa. Sinto-me deslocado e me fecho. Nisso, Karen, uma garota que senta atrás de mim e sempre tenta conversar comigo, sem sucesso, me chama e resolvo tentar ser mais sociável. Mas as risadas de minha amiga ao lado dele me perturbam.


O que dizem para este "avuado" do Ed? 

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Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora