POV Edmilson
Meu irmão Manoel e sua esposa Andréia vieram para jantar em comemoração ao ultrassom de hoje. Descobriram que terão uma menininha, que se chamará Amanda.
- Eu sabia – diz vovó.
- Sabia nada, está é contando vantagem – Toninho leva um cascudo por sua gracinha, mas se afasta rindo, com cara de quem ainda vai aprontar.
- Homem que se gaba é cavalo-do-cão. E vovós sabichonas?
- Moleque atentado, vou te mostrá uma coisa – ele corre e ela vai atrás com o chinelo na mão.
O riso é geral, estes dois brigam o dia todo, mas não se largam. Até no terço, o Toninho acompanha a vovó. Diz que é para segurar vela para ela e Sr. Magalhães, mas acho que gosta mesmo de rezar.
Ele me surpreende. É tão arteiro e divertido, mas também preocupado com os mais necessitados e não perde a missa por nada. Frequenta o grupo de jovens da paróquia e também ajuda na Pastoral da Criança. Pensei que seria um namorador, mas até agora não se interessou por nenhuma garota.
Depois dos cascudos, o jantar prossegue tranquilo. Inês conta sobre seus velhinhos, Larissa e JC falam das últimas descobertas de seu filhinho Tiago. Joana com o marido não puderam vir, pois o bebê deles, Lucas, está resfriado. Mas domingo, estaremos todos reunidos para o almoço. Estou morrendo de saudades de Lívia, minha sobrinha linda.
Estamos nos despedindo de Manoel e Andréia quando ouvimos os pedidos de socorro do Sr. Jonas. Minha cunhada e meu irmão correm na frente. Ela é médica, mas está grávida e meu irmão não a deixa ir sozinha.
Encontro minha amiga desesperada ao lado de sua mãe, caída inconsciente no chão. Abraço-a e ela soluça em meu peito.
A ambulância chega, imobilizam D. Judite e a levam para o hospital. Andréia vai junto, enquanto o restante de nós segue atrás do veículo. Nos reunimos todos na sala de espera.
- O que aconteceu, Paty? Ela tropeçou?
- Foi meu pai. Ele bateu nela no alto da escada. Ela perdeu o equilíbrio e caiu.
- Diabo de homem, disgramado. Sabia que ainda ia machucá ela de verdade – vovó não esconde sua indignação.
- O certo é fazer um boletim de ocorrência – minha mãe opina – Ele não pode sair impune.
- Não sei o que minha mãe vai fazer. Só quero que ela fique bem.
Não há sinal do pai de Paty e ninguém sabe qual providência tomar. D. Judite que deve resolver se dará ou não queixa do marido. Cerca de meia hora ficamos esperando, até que Andréia vem nos dar notícias.
- Ela acordou e falou comigo. Ficará dolorida e com várias escoriações, mas está bem. Porém o que me preocupa é o bebê.
- Que bebê? Minha mãe está grávida?
- Sim, de 10 semanas. Ele ainda vive, mas ela precisará ficar de repouso absoluto pelos próximos dias. Teve um pequeno sangramento e ameaça de aborto.
- Por isso ela estava tão abatida nos últimos dias. Pelo jeito nem desconfiou.
- Eu achei algo diferente nela no dia que fui levá a minha broa de macaxeira, mas não quis falá nada.
- Ela ainda é jovem, mas como já tem filhas crescidas, não imaginou esta possibilidade – Andréia comenta.
- E aquele diabo vestido de gente quase mata a mulher e o próprio filho – é bom o Sr. Jonas não aparecer na frente da vovó, pois ela está furiosa.
- Posso vê-la? – Minha amiga se solta de mim, ansiosa para estar com sua mãe.
- Sim, venha comigo. Mas será uma visita rápida, pois ela precisa descansar.
Elas entram juntas e o restante de nós permanece na sala de espera. Passe-se pouco tempo e logo ela volta.
- Como ela está?
- Dolorida, mas bem. Chorou bastante ao saber do bebê e do risco que corre. Já o ama muito.
- Ela decidiu o que fará com seu pai?
- Não quer denunciá-lo, mas disse que não o quer mais por perto. Precisou quase morrer e perder um filho para tomar uma decisão.
- Ela tinha esperanças. É difícil desistir de alguém que se ama, eu entendo – minha mãe abraça Paty e a consola.
- Vamos embora então. Pose em nossa casa esta noite, menina – meu pai convida e todos o seguimos para fora do hospital.
Inês ficou em casa com Toninho, e aguarda ansiosa por notícias. Após saber do que aconteceu, providencia uma troca de roupa para minha amiga e a leva para seu quarto.
Não consigo dormir, e vou para meu ateliê. Não sei ainda o que este quadro será, mas é algo novo, que nunca pintei antes. Ouço uma batida de leve na porta, que se abre e revela Paty.
- Posso ficar aqui um pouco?
- Claro, sente-se. Como você está?
- Assustada. Meu pai se superou esta noite, podia ter matado minha mãe.
- Creio que não era a intenção dele, mas ele não pode continuar assim.
- Precisa de tratamento, porém não aceita.
- Quem sabe, depois do que aconteceu hoje, ele não se resolva a procurar ajuda?
- Estou rezando para isso acontecer. Pobre mamãe...
Ela começa a chorar e a abraço novamente. Deixo que ela desafogue seu coração, enquanto a acalento em meus braços. Ela sempre esteve presente em minhas dores, dividindo-as comigo. Quero estar aqui por ela agora.
Depois de muitas lágrimas, ela se afasta e me dá um sorriso triste, que corta meu coração.
- Obrigada, Ed. Estava precisando de um colo.
- Estarei sempre aqui para você.
- Senti muito sua falta nos últimos dias, esteve tão distante...
- Achei que não me queria por perto, já que tinha o Rodrigo...
- Ninguém substitui você, Ed – seus olhos dizem tanto, mas não sei ler. Apenas me aproximo e toco seu rosto. Ela aninha-se em minha mão e me fita com intensidade. Chego mais próximo e encosto meu nariz no seu e, quando percebo, estou beijando-a. Afasto-me rápido, assustado com minhas ações.
- Me desculpe, Paty, isso nunca deveria ter acontecido. Foi um erro, me perdoe.
- Vou me deitar – ela sai e não sei o que pensa do nosso beijo, pois ela correspondeu. Será que me aproveitei de um momento de fragilidade dela? Será por isso que me beijou de volta? E por que eu fiz isso?
Primeiro beijo do Ed e da Paty ... O que acharam?
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Despertando para sonhar - Livro 4 da Série Sonhos
RomansaEdmilson perdeu sua namorada de infância para o câncer, e se fechou para todos, com exceção da melhor amiga de seu amor. Patrícia sempre foi apaixonada pelo namorado de Janaína, mas nunca sonhou que ele conhecia seu segredo. Antes de partir, confia...