Capítulo 9

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POV Edmilson

Meu irmão Manoel e sua esposa Andréia vieram para jantar em comemoração ao ultrassom de hoje. Descobriram que terão uma menininha, que se chamará Amanda.

- Eu sabia – diz vovó.

- Sabia nada, está é contando vantagem – Toninho leva um cascudo por sua gracinha, mas se afasta rindo, com cara de quem ainda vai aprontar.

- Homem que se gaba é cavalo-do-cão. E vovós sabichonas?

- Moleque atentado, vou te mostrá uma coisa – ele corre e ela vai atrás com o chinelo na mão.

O riso é geral, estes dois brigam o dia todo, mas não se largam. Até no terço, o Toninho acompanha a vovó. Diz que é para segurar vela para ela e Sr. Magalhães, mas acho que gosta mesmo de rezar.

Ele me surpreende. É tão arteiro e divertido, mas também preocupado com os mais necessitados e não perde a missa por nada. Frequenta o grupo de jovens da paróquia e também ajuda na Pastoral da Criança. Pensei que seria um namorador, mas até agora não se interessou por nenhuma garota.

Depois dos cascudos, o jantar prossegue tranquilo. Inês conta sobre seus velhinhos, Larissa e JC falam das últimas descobertas de seu filhinho Tiago. Joana com o marido não puderam vir, pois o bebê deles, Lucas, está resfriado. Mas domingo, estaremos todos reunidos para o almoço. Estou morrendo de saudades de Lívia, minha sobrinha linda.

Estamos nos despedindo de Manoel e Andréia quando ouvimos os pedidos de socorro do Sr. Jonas. Minha cunhada e meu irmão correm na frente. Ela é médica, mas está grávida e meu irmão não a deixa ir sozinha.

Encontro minha amiga desesperada ao lado de sua mãe, caída inconsciente no chão. Abraço-a e ela soluça em meu peito.

A ambulância chega, imobilizam D. Judite e a levam para o hospital. Andréia vai junto, enquanto o restante de nós segue atrás do veículo. Nos reunimos todos na sala de espera.

- O que aconteceu, Paty? Ela tropeçou?

- Foi meu pai. Ele bateu nela no alto da escada. Ela perdeu o equilíbrio e caiu.

- Diabo de homem, disgramado. Sabia que ainda ia machucá ela de verdade – vovó não esconde sua indignação.

- O certo é fazer um boletim de ocorrência – minha mãe opina – Ele não pode sair impune.

- Não sei o que minha mãe vai fazer. Só quero que ela fique bem.

Não há sinal do pai de Paty e ninguém sabe qual providência tomar. D. Judite que deve resolver se dará ou não queixa do marido. Cerca de meia hora ficamos esperando, até que Andréia vem nos dar notícias.

- Ela acordou e falou comigo. Ficará dolorida e com várias escoriações, mas está bem. Porém o que me preocupa é o bebê.

- Que bebê? Minha mãe está grávida?

- Sim, de 10 semanas. Ele ainda vive, mas ela precisará ficar de repouso absoluto pelos próximos dias. Teve um pequeno sangramento e ameaça de aborto.

- Por isso ela estava tão abatida nos últimos dias. Pelo jeito nem desconfiou.

- Eu achei algo diferente nela no dia que fui levá a minha broa de macaxeira, mas não quis falá nada.

- Ela ainda é jovem, mas como já tem filhas crescidas, não imaginou esta possibilidade – Andréia comenta.

- E aquele diabo vestido de gente quase mata a mulher e o próprio filho – é bom o Sr. Jonas não aparecer na frente da vovó, pois ela está furiosa.

- Posso vê-la? – Minha amiga se solta de mim, ansiosa para estar com sua mãe.

- Sim, venha comigo. Mas será uma visita rápida, pois ela precisa descansar.

Elas entram juntas e o restante de nós permanece na sala de espera. Passe-se pouco tempo e logo ela volta.

- Como ela está?

- Dolorida, mas bem. Chorou bastante ao saber do bebê e do risco que corre. Já o ama muito.

- Ela decidiu o que fará com seu pai?

- Não quer denunciá-lo, mas disse que não o quer mais por perto. Precisou quase morrer e perder um filho para tomar uma decisão.

- Ela tinha esperanças. É difícil desistir de alguém que se ama, eu entendo – minha mãe abraça Paty e a consola.

- Vamos embora então. Pose em nossa casa esta noite, menina – meu pai convida e todos o seguimos para fora do hospital.

Inês ficou em casa com Toninho, e aguarda ansiosa por notícias. Após saber do que aconteceu, providencia uma troca de roupa para minha amiga e a leva para seu quarto.

Não consigo dormir, e vou para meu ateliê. Não sei ainda o que este quadro será, mas é algo novo, que nunca pintei antes. Ouço uma batida de leve na porta, que se abre e revela Paty.

- Posso ficar aqui um pouco?

- Claro, sente-se. Como você está?

- Assustada. Meu pai se superou esta noite, podia ter matado minha mãe.

- Creio que não era a intenção dele, mas ele não pode continuar assim.

- Precisa de tratamento, porém não aceita.

- Quem sabe, depois do que aconteceu hoje, ele não se resolva a procurar ajuda?

- Estou rezando para isso acontecer. Pobre mamãe...

Ela começa a chorar e a abraço novamente. Deixo que ela desafogue seu coração, enquanto a acalento em meus braços. Ela sempre esteve presente em minhas dores, dividindo-as comigo. Quero estar aqui por ela agora.

Depois de muitas lágrimas, ela se afasta e me dá um sorriso triste, que corta meu coração.

- Obrigada, Ed. Estava precisando de um colo.

- Estarei sempre aqui para você.

- Senti muito sua falta nos últimos dias, esteve tão distante...

- Achei que não me queria por perto, já que tinha o Rodrigo...

- Ninguém substitui você, Ed – seus olhos dizem tanto, mas não sei ler. Apenas me aproximo e toco seu rosto. Ela aninha-se em minha mão e me fita com intensidade. Chego mais próximo e encosto meu nariz no seu e, quando percebo, estou beijando-a. Afasto-me rápido, assustado com minhas ações.

- Me desculpe, Paty, isso nunca deveria ter acontecido. Foi um erro, me perdoe.

- Vou me deitar – ela sai e não sei o que pensa do nosso beijo, pois ela correspondeu. Será que me aproveitei de um momento de fragilidade dela? Será por isso que me beijou de volta? E por que eu fiz isso?



Primeiro beijo do Ed e da Paty ... O que acharam?

Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora