Confissões, Anúncios e Baile

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[Flashback]

Desde sempre eu fui mantido nessa prisão invisível. Por que invisível? Bem, normalmente quando tu é uma criança seus pais mandam tu fazer algo e não tem nem como reclamar, certo? Ainda mais com o meu pai, se houvesse algum tipo de reclamação eu levava algum tapa ou era batido com a bengala. Isso é desde que eu me lembro como pessoa, quando comecei a realmente pensar e conseguir fazer algo sem cair ou tropeçar.

- Mas pai, eu quero ir brincar como os outros garotos da escola...

- Deixa de bobagens Aidan, você tem aula agora de piano, depois de técnica vocal, violino, esgrima e de noite precisa melhorar em vôlei e natação. Sem contar nos outros dias, não há tempo para descanso ou essas bobagens de brincar.

Isso foi quando eu tinha 4 anos. Sim, tão novo e já aprendendo tanta coisa. Da escola eu via as crianças dormirem durante o dia ou irem brincar no parquinho umas com as outras, mas eu era mantido na sala fazendo alguma matéria. Eu sentia inveja delas, podiam ficar se divertindo enquanto eu estava lá preso a todas essas aulas, tentando meu máximo para me tornar o número 1 que meu pai tanto queria. Minha mãe era muito ocupada com suas coisas, mesmo que fosse para fazer as unhas isso ainda era mais importante do que eu. Ela me deixava as custas do pai e nem ligava se eu gostava ou não. Afinal, eles se casaram mais por status do que por amor e ainda tiveram a mim só porque ter um filho número 1 em tudo é chique demais, sem contar que a casa fica linda cheia de troféus.

Os anos foram passando e eu ficava cada vez melhor em tudo que fazia. Eu só trazia os troféus e medalhas lindas algumas feitas em ouro até. Eu via tudo aquilo e sentia vontade de gritar. Toda aquela exposição, todo aquele "talento" que me foi imposto me matava cada vez mais. No primeiro dia em que foram visitas lá em casa meu pai mandou eu me arrumar todo e me comportar. Fiquei o dia inteiro parado vendo todos elogiando meu pai por eu ser tão bom. Sim, eu não recebia nem ao menos um elogio sequer pelo esforço que eu tive para receber aqueles prêmios.

- Eu não aguento mais! – gritei de noite quando estava sozinho naquela maldita biblioteca treinando com o violino. – Eu não quero mais ser o garoto perfeito, eu não quero mais estar sozinho, eu não quero mais pessoas vindo atrás de mim por interesse e não por amizade... Eu quero ser livre... – falava chorando mais para desabafar comigo mesmo, eu quase nunca chorava, mas em raras ocasiões eu não conseguia controlar tudo que eu deixava escondido.

Eu já estava com 12 anos quando atingi ao ápice de perfeição. Eu tirava nota máxima em todas matérias, em todos cursos extras, em todas aulas particulares. Eu não tinha vida própria, eu era apenas um robô. Eu fiquei tão no meu limite que cheguei a ficar doente por um mês inteiro. Meu corpo definido e forte havia diminuído e minha força sumiu, meu pouco ânimo não existia mais então com isso cheguei até a piorar mais ainda. Meu pai mandava todos médicos me tratarem, era muita gente para apenas uma criança. Quando melhorei um pouco, o bastante para conseguir sair de casa, meu pai me obrigou a ir em outros concursos e competições. Eu dava meu melhor, mas como ainda estava mal então tirava 2°, 3° ou até mesmo 10° lugar. Foi a segunda vez que havia visto meu pai tão louco de raiva quando viu essas medalhas não douradas entrarem em casa. Eu sinceramente estava feliz com elas, pois vi que eu não era mesmo um robô e sim um ser humano comum. Meu pai me bateu inúmeras vezes com sua bengala, cheguei a ficar com hematomas imensos por dias graças a minha condição física. Ele jogou todas elas no lixo, mas consegui pegá-las depois sem ele ver e as levei para meu quarto. Claro que tive que continuar nas competições, mas escondiam com maquiagem meus hematomas. Antes meu "porto seguro" era imenso para alguém tão pequeno quanto eu, mas com essas derrotas fui levado para um dos menores quartos da mansão. Eu não precisava de um lugar grande já que agora teria que treinar bem mais do que antes para recuperar os prêmios perdidos.

O Cretino e o ProstitutoOnde histórias criam vida. Descubra agora