CAPITULO 15 - O surto

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Acordo com um susto e levanto-me da cama rápido, saio do quarto ouvindo gritos e fico atordoado.

-Alguém ai?

Pergunto enquanto caminho pelo corredor da casa. Olho minhas vestes e me vejo com uma roupa de dormir vermelha com ursinhos nela, sorrio. Vejo Sara vir em minha direção correndo.

-Menino, não fique aqui.

Havia pânico em sua voz e medo estampado em seu rosto, ouço novamente gritos.

-Quem está gritando? Mande-a parar, esta me irritando.

Digo cruzando os braços como se estivesse emburrado. Ela sai do quarto rápido fechando a porta, mas os gritos não param então eu resolvo tomar uma atitude. Olho para o chão o vendo longe, dou um pulo e saio do quarto devagar me escondendo pelas paredes. Caminho ate o fim do corredor onde era o quarto do papai e abro a porta devagar.

-Os gritos estão me...

Olho para dentro vendo meu pai segurar com força o pescoço de minha mãe e então eu petrifico caindo no chão.

-MÃE

Grito desesperado, Will levanta assustado olhando para mim e para a poça de suor na cama. Meu corpo todo treme e eu não consigo me mover, encaro fixo a parede.

-Tedy, você esta bem?

Ouço Will falar e tento responder, mas me sinto preso dentro de mim. Ele me puxa e meu corpo se move, mas eu não sinto nada.

-Por favor, fale comi...

Ele começa a falar e sua voz vai ficando mais baixa a cada momento que passa ate eu não ouvir mais som saindo de sua boca. Então eu paro de vê-lo e a imagem do meu pai segurando minha mãe se repete em minha cabeça, meu corpo fica rígido. Eu queria fugir daquilo, parar de ver aquela cena, mas ela não parava. De repente sinto um toque familiar, ele vem me puxando de volta daquela lembrança ruim e me acalmando. Escuto meu nome sendo pronunciado como um sussurro, e a memoria se vai, a repetição cessa e eu vejo um loiro a meu lado e Sara segurando minha mão.

-Oi Tedy, vamos comer algo?

Ela pergunta com a voz calma e eu sorrio concordando, me levanto de cama com ela me guiando e vamos até a cozinha. Desço as escadas degrau por degrau e lá embaixo sento em um banco.

-O que quer comer?

Ela pergunta e eu ainda com um sorriso no rosto dou de ombros, ela consente e se vira ao fogão. O loiro vem e se senta a meu lado e segura minha mão sobre o balcão, estranho a ação e recolho a mão o olhando de lado. Vi seus olhos me analisarem, sua boca tremer e seu cabelo cair sobre o rosto.

-Você podia cortar o cabelo.

Digo e lhe sorrio largo. Sara então põe um prato de ovos mexidos a minha frente e eu os como saboreando cada pedaço, era uma comida tão boa. Depois de comer e beber muita água Sara me guia ate meu quarto e me deita na cama, o loiro a acompanha e eu fico curioso.

-É seu filho?

Pergunto e ela se deita a meu lado, o loiro sai do quarto e eu fico sem entender, mas logo pego no sono.

.

Sentado na poltrona olhando Alex com a porta aberta esperando qualquer movimentação ao lado, mas nada. Levanto totalmente preocupado e caminho pelo quarto, não podia fazer nada, mas eu queria.

-Vai furar o chão.

Sara surge na porta e meus olhos lacrimejam.

-Ele não se lembra de mim?

Digo segurando o máximo o choro e ela se aproxima.

-Acontece... As vezes ele não lembrava nem dos próprios pais, mas ele vai lembrar assim que acordar.

Ela sorri e me abraça, sentia-me uma criança que tinha perdido seu doce favorito em algum lugar complicado para se alcançar com qualquer meio.

-O que aconteceu? Explique-me...

Digo choroso e me afasto a olhando nos olhos.

-Ele deve ter se lembrado de algo, geralmente de alguma coisa familiar.

Ela fala calma e eu me acalmo com sua voz.

-Certo e quanto tempo ele vai dormir?

Pergunto sentando na cama e a olhando de lado.

-Não sei, ele já chegou a dormir dois dias seguidos.

Ela se vira saindo do quarto.

-Isso é tudo culpa minha, não é?

Pergunto e então ela se vira a mim sorrindo.

-Nunca se culpe por algo que você não controla.

Dessa vez ela se vira e sai do quarto, passo minhas mãos no cabelo e sorrio.

-Sim Tedy, eu preciso cortar.

Levanto e coloco Alex no carrinho e então saio da casa seguindo rua abaixo, passo próximo à padaria e cumprimento todos sorrindo. Passo frente minha casa e não ouso olha-la, não queria lembrar mais coisas ruins. Sigo ate o fim da rua e entro na barbearia.

-Olha ele ai... Que cabelo horroroso, parece que uma vaca o mastigou e cuspiu em sua cabeça, Argh... senta.

Marcelo me empurra sobre uma cadeira e prepara suas coisas.

-Vai fazer o que?

Pergunto com certo medo, mas eu confiava muito nele.

-Vou tirar fora isso que você chama de cabelo e essa barba também... Ninguém merece um homem com essa cara.

Ele aponta para mim e eu sorrio, vejo outros dois pegarem Alex do carrinho e brincar com o mesmo. Marcelo era um cara forte, alto e bem branquinho, sempre com a barba bem feita e com roupas estilosas.

-Não tive muito tempo pra me manter como tinha antes de karen ir embora.

Um silêncio se estabelece e eu olho para o espelho vendo a cara perplexa de Marcelo. Pigarreio e ele volta a si com o rosto corado, fico curioso.

-Vamos começar.

Ele diz penteando meu cabelo.

-Porque fez essa cara?

-Que cara?

Ele para e fica me olhando no espelho e eu nego com a cabeça deixando pra lá.

-Pode terminar.

Ele volta a mexer em meu cabelo e eu fico pensativo. Nada mudaria o fato que Keren foi embora e eu não podia negar isso, pois só faria me sentir pior. Mas parecia que as pessoas ao meu redor queriam me colocar em uma bolha, como se fosse possível tudo ser pior do que já era. Depois de quase uma hora naquela cadeira desconfortável ele termina.

-Bem vindo de volta.

Ele sorri quando tira o avental e eu me levanto olhando fixo para o espelho, eu realmente parecia diferente. Lhe agradeço, pago e saio de lá com Alex indo para casa.

Amor para dois... ou mais.Onde histórias criam vida. Descubra agora