Acordei na sala com Sara entrando em casa, tampei-me com um travesseiro.
-Não achei que voltaria.
Disse olhando para ela indo para a cozinha.
-Eu não deixaria o senhor sozinho.
Me sentei no sofá e desliguei a televisão, comecei a juntar tudo o que comi. 'Quanta porcaria', deixei tudo na pia e fui para o quarto vestir uma roupa.
Nunca vi tanta paz em um quarto, a cama estava intocada, o guarda roupas semivazio, sem papeis pelo chão e sem sandálias em todo o canto. Uma felicidade tomou-me e peguei uma roupa sem olhar, a vestindo e indo para a rua.
Caminhei ate a padaria e sentei-me no balcão.
-O senhor está radiante hoje.
Roberto sorriu.
-Me sinto assim.
Ele me serviu um café.
-Que ótimo, e o que vai comer?
-Somente um pão.
Ele concordou balançando a cabeça e saiu. Com meu copo de café em mãos me virei no banco olhando para a rua, vi o rapaz de outro dia entrar na padaria e parar ao meu lado. Acho que seu nome era Will, fiquei o olhando discretamente ate não resistir.
-Oi, Will né?
Ele me encarou como se nunca tivesse me visto, eu o olhei sorrindo. Sabia que era ele quando seus olhos me hipnotizaram, percebi que sua boca não estava mais roxa e que seus cabelos eram loiros, longos e caíam sobre os ombros.
-Sou eu Tedy, do bar na outra noite.
Ele sorriu, tirou o cabelo do rosto e me olhou.
-Ha sim. Bom me desculpe não me lembrar de você, minha vida anda uma bagunça.
Ele levantou a mão chamando Roberto que trouxe meu pão consigo.
-O de sempre, por favor.
"O de sempre" o quão "sempre" ele vem aqui? Perguntei-me.
-Você mora aqui perto?
Perguntei sem olhar para ele.
-Quase um quarteirão à direita.
Arregalei os olhos.
-Eu moro nessa.
Disse apontando reto para a rua, ele olhou e sorriu.
-Somos quase vizinhos.
Seu pedido chegou, ele pagou e juntou as sacolas.
-Ate uma próxima vez, vizinho.
Sorriu e me estendeu a mão em um cumprimento.
-Até.
Apertei firme sua mão e ele saiu, fiquei tentando imaginar os milhões de problemas que um pai solteiro teria ao cuidar de uma criança.
-Esse ai é um lutador.
Roberto disse me puxando de meus devaneios.
-Como?
Perguntei confuso
-Will, ele é um lutador.
-Por que diz isso?
-A mulher dele deu a luz a um menino lindo, mas não quis ficar para cuidar. Fugiu com um cara da aula de dança da escola em que dava aula. Um mês depois ela mandou uma carta para Will dizendo que o filho não era dele e que se ele quisesse poderia dar a criança para adoção, mas ele quis ficar com o menino.
Levantei do banco sem pensar e sem terminar de comer, joguei o dinheiro sobre o balcão e sai correndo. Virei à direita e logo após a direita novamente e encontrei com Will andando cabisbaixo e lentamente na rua.
-Ei... Você... Esqueceu... Uma... Coisa...
Disse ofegante, ele parou imediatamente e me encarou.
-O que?
-ajuda.
Sorri, peguei as sacolas de suas mãos e o ajudei.
-Obrigado.
Ele disse quase inaudível.
-Com quem seu filho fica?
Ele me encarou.
-Com uma babá. Você deseja me ajudar de que forma? Se for com dinheiro eu recuso.
Acenei minha cabeça negando.
-Quero ser um amigo que ajuda um amigo.
Ele me encara e volta a andar, sobe as escadas e abre a porta da casa.
-Entre.
Subo rapidamente as escadas atrás dele e entro na casa, não sabia que existiam casas tão pequenas naquele bairro. A sala estava forrada de brinquedos, pacotes de fraldas descartáveis e caixas de papelão com roupas e cobertas, debaixo daquilo tudo havia moveis comuns como: sofás, televisão e uma mesa de centro.
-Acabamos de mudar.
Ele disse após fechar a porta e sumir pelo corredor. Fui caminhando devagar e olhando a casa, era tudo tão simples.
Caminhei ate o fim do corredor passando por três quartos e chegando onde era a cozinha e lá estava a babá segurando o bebê no colo e arrumando seu leite.
-Desculpe a demora.
Will se desculpou com ela e apontou para mim.
-Esse é... É... Um amigo, Tedy.
Ela me olhou, acenou e voltou ao leite.
Will foi para o quintal recolher umas roupas e sentei-me em uma cadeira da mesa, coloquei as sacolas sobre a mesa e fiquei observando, mas não me contive. Levantei e caminhei até a babá.
-Posso pegar?
Pergunto sorrindo, ela olha para o quintal onde Will esta e me olha.
-Claro.
Ela me entrega o menino e ele sorri pra mim. Sinto-me extasiado, tão feliz como nunca me senti antes, sento na cadeira e brinco com ele.
-Alex.
Will diz entrando na casa.
-O que?
-Alex é o nome dele.
Olho para o bebê Alex, como alguém pode não gostar de criança? Penso na provável tristeza de Samanta. Levanto-me e entrego Alex para a babá e sigo Will indo para o quarto com as roupas.
-O que você quer?
Ele pergunta quando chegamos ao quarto do bebê.
-Ajudar.
Repito firme, ele me encara.
-sendo assim tudo bem. Hoje tenho aula, Gabi também. Preciso de alguém para olhar Alex.
Meus olhos brilham.
-Aceito.
Digo de imediato e ele se assusta.
-ok.
Continua andando e começa a me mostrar onde estão as coisas que posso precisar usar durante a noite como: telefone, fraldas, remédios, roupas, brinquedinhos e muitas mais coisas.
-Se realmente não souber o que fazer quando ele chorar, me ligue.
Concordo balançando a cabeça, quando ele termina de me mostrar às coisas digo que vou em casa banhar e volto.
-Saímos às 18 horas.
Ele afirma. Tenho uma hora para ficar pronto, corro para casa e subo imediatamente para o banho.
-Que emocionante tudo isso.
Sorrio deixando a água aquecer meu corpo.
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Amor para dois... ou mais.
Storie d'amoreTedy, um cara solitario que entre varios erros resolveu fazer a coisa que mais valeu a pena, terminar com a pessoa que sugava sua alma. Depois de anos de tristeza e frustrações decide se aventurar de diveros modos e acaba por achar o amor em coisas...