Entramos no quarto e sentamos na cama. Não sabia o que dizer ou agir.
-Você... Você está bem?
Pergunto preocupado e ele afirma com a cabeça.
-Sempre estive acostumado com isso.
Dá um sorriso fraco.
-Me desculpe... Eu...
-Não precisa se desculpar, não precisa ter dó, não precisa ficar por mim...
Diz me olhando e então volta a olhar para o braço
- Melhor eu cuidar disso.Forço um sorriso quando o vejo se levantar. Não conseguia digerir tudo que havia ocorrido, em uma noite estamos bem, em outra ele some e seu pai surge fazendo um auê e agora ele quer que eu simplesmente suma?
Levanto-me e o sigo ate a mesa onde ele passava uma espécie de pomada de coloração roxa no braço.-Eu não vou embora e...
-Eu vou ficar bem, não precisa ficar com dó de mim. Essa "doença" -ele faz aspas com os dedos de uma mão- É coisa da cabeça dele.
Olha-me e volta a massagear o braço.
-Deixe-me te ajudar.
Digo sentando no banco a seu lado deixando próximos nossos corpos, ele vira o braço para que eu o ajude e fala baixo.
-Não quero que fique comigo por achar que eu sou o que meu pai disse, quero que fique comigo por eu ser quem sou e embora eu não seja a melhor pessoa pra você... Bom, não consigo deixar de pensar em você.
Ouço tudo de cabeça baixa, não tinha muito para dizer a ele. Meu corpo dizia para beija-lo e meu cérebro só queria cuidar dele e o vê-lo bem, no fundo eu tinha medo que aquele apagão se repetisse e eu queria evitar ao máximo ser o motivo disso novamente.
-Acho melhor ir ao hospital, seu braço parece bem inchado.
Digo por fim e ele sorri e se levanta pegando chaves, carteira e celular.
-Já estou indo.
Ele passa a mão pelos cabelos arrumando os poucos fios fora do lugar e sai do quarto. Eu fiquei esperando um gesto de afeto, um cumprimento, um beijo e ate um "Tchau", mas nada. Levantei-me ainda pensativo e caminhei ate a porta do quarto e olhei o corredor, as paredes e os moveis. Levei-me ate a cozinha e sentei em um banco.
-Ele foi dirigindo?
Pergunto a Sara sentada em um banco próximo, ela nega com a cabeça e eu fico aliviado. O silencio toma o local e logo se torna impossível, começo a bater os dedos sobre a bancada observando o nada.
-Ele sempre foi assim...
Sara quebra o silêncio e eu viro a olhando.
-Tedy?
Ela nega e eu sinto um frio na espinha.
-O pai, Fernando.
Ela diz calma e eu podia sentir um pouco de culpa em sua voz.
-A... Assim como?
Minha voz tremula com um pouco de receio, eu queria saber mais, mas ao mesmo tempo não queria.
-Severo, rigoroso, impiedoso. Sempre quis prender todos em casa como se ela fosse uma fortaleza impenetrável, mas sempre foi contrariado... Quando Tedy deu seu primeiro surto esquizofrênico ele não sabia o que fazer, procurou varias formas de uma cura para o garoto, tentando todas que apareciam. Isso era novo na época... Ninguém sabia bem o que era.
Ela pra de falar e eu respiro fundo tentando não sentir dó dele.
-E então você foi chamada?
Ela nega.
-Minha mãe trabalhava lá e eu a acompanhava, as vezes brincava com Tedy por ser mais velha e quando o vi tendo surtos fiquei assustada não sabia o que fazer. Ele tinha cinco anos e eu doze.
-Como descobriu um modo de ajuda-lo?
Ela sorri.
-Como uma adolescente que sabia que nada era melhor que dormi eu o induzia a dormir para passar e funcionava. Bom, na maioria das vezes funcionava.
Ela sorri e eu fico sem entender.
-Como assim na maioria?
Pergunto e ela se vira para mim.
-Caso queira realmente saber precisa perguntar a ele, mesmo ele não se lembrando de muito. Não quero que fique com ele por dó, ele já passou por isso e não quero o ver assim novamente. -ela se levanta do banco – sei que você também já passou por boas da vida... Deve compreendê-lo melhor que eu.
Diz e sai, sumindo de vista. Fico parado pensando.
'Eu, quero ficar aqui por ele ou com ele?'
Olho ao redor, não sabia meu futuro. Não sabia quanto tempo eu demoraria em definhar novamente e fracassar com meu filho, com o serviço e com a faculdade.
'Eu quero ficar por conforto?'
Levanto e caminho ate a sala vendo os pedaços da mesa quebrada. Passo a mão nos cabelos que estavam mais longos que o de costume e em seguida paro a mão em meu queixo com a barba por fazer e analiso a sala.
'Quero ficar por proteção?'
Fecho meus olhos, eram tantas perguntas dentro de mim. Subo as escadas para o quarto e vejo Alex dormindo calmo e totalmente por fora do que se rolava aqui... 'Como eu o amo'. Olho para o canto do quarto e vejo as malas que eu estava arrumando, sigo ate elas e volto a preenche-las com roupas ate que pego a pequena roupa que Tedy tinha dado. Sorrio largo e meu corpo se enche de alegria, uma coisa que nunca senti. Seguro a roupa próxima ao rosto e a cheiro, lembro-me da flor que Tedy havia me dado e meu sorriso se alarga. Novamente a sensação de felicidade toma meu corpo, mas ela logo é derrubada pela cena da noite anterior. Tedy se agarrando com aquela mulher, meu estomago embrulha e eu saio do quarto indo ate o lado pegar minhas roupas.
'se ele se sente tão bem comigo por que fez isso?'
Lembro-me de ter feito algo parecido com ele na festa e paro na porta olhando o quarto.
'Eu também não sou a melhor pessoa'
Entro no Closet e fico parado na porta lembrando-me do ocorrido ali, meu coração bate forte, minha respiração fica entrecortada e eu me viro querendo sair dali e me assusto.
-Você está bem?
Vejo Tedy parado ali com o braço enfaixado e meus olhos se enchem de lagrimas, corro em sua direção e o abraço forte.
-Me desculpe.
Digo de uma vez e ele me abraça em retribuição.
-O que você fez?
Ele pergunta e o vejo analisando o quarto e me afasto de seu abraço e nego com a cabeça.
-Desculpe por bagunçar sua vida, por fazer você ter aquele apagão... Se não fosse por isso seu pai não teria vindo aqui e isso não teria acontecido.
Aponto para seu braço e ele sorri o sorriso mais lindo que eu já vi.
-Isso não é nada –Ele fala levantando o braço- Eu estou bem, nos estamos bem e isso é o que importa.
Volto a abraça-lo.
-Você esta sendo a melhor coisa pra mim.
Murmuro com a cabeça no seu peito.
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Amor para dois... ou mais.
RomansTedy, um cara solitario que entre varios erros resolveu fazer a coisa que mais valeu a pena, terminar com a pessoa que sugava sua alma. Depois de anos de tristeza e frustrações decide se aventurar de diveros modos e acaba por achar o amor em coisas...