Escolhida

Capítulo 9 - Fred

Eu havia saído de casa com a cabeça quente, meu pai e eu morávamos só num castelo imenso, certo que meu pai vivia de dar festas que demoravam semanas para terminar, mas mesmo assim era estranho morar ali.

Eu estava estudando e sendo preparado para substituir meu pai no trono, mas ele enfiou na cabeça que não queria que eu fosse como ele no quesito mulheres, então decidiu fazer uma seleção entre as filhas dos amigos para que eu escolhesse a minha esposa dentre as jovens que passariam uma semana no palácio.

Após discutir com meu pai sobre esse assunto absurdo, joguei umas comidas na sacola e saí de casa montando Apolo meu cavalo. Fui sem destino e quando dei por mim já estava na entrada do pântano. Eu o conhecia bem, vinha sempre aqui quando queria ficar só então deixei Apolo amarrado a uma árvore e segui pântano a dentro.

Já fazia uns vinte minutos que eu caminhava, quando ouvi passos pisando nos galhos secos de árvores, parei e fiquei observando quem seria a minha companhia ali.  Me assusto ao ver que não era um lobo ou outro bicho e sim uma garota e que garoa linda, loira com cabelos dourados e não parece estar com medo. Então decido falar com ela.

- O que faz aqui? - pergunto.

- Acho que me perdi. - ela disse.

- Onde você mora? Como chegou até aqui? - faço as perguntas querendo saber mais sobre ela.

- Eu temo lhe dizer a verdade e você fugir achando que sou louca. - disse.

- Vem vamos sentar naquele tronco, eu tenho comida aqui, podemos conversar enquanto comemos. - chamei vendo que poderia estar com fome.

- Parece que adivinhou que estou faminta.  - ela disse a mim.

- Pode comer tudo se quiser não tenho muita fome. - percebi que talvez estivesse faminta mesmo.

- Mas isso aqui dá para nós dois dividir tranquilo. - ela disse partindo um pão ao meio e me entregando um pedaço.

- Me conta tudo que te aconteceu eu não vou te chamar de louca. - insisti no assunto anterior.

- Eu fui deixada numa cabana dentro do pântano por minha tia, mas ouvi uma voz chamar meu nome e dizer que eu não temesse e fosse ao encontro da voz, então eu comecei caminhar seguindo a voz, as vezes eu tinha a impressão de estar sendo seguida e olhava para trás mas não via ninguém e a voz só parou no lugar onde você me encontrou. Sou louca? - ela perguntou e eu estava abismado com o jeito tão meigo dela.

- Não eu acho que você é uma escolhida. - falei.

- Como assim? - percebi que ficou confusa.

- Meu pai disse que meu avô dizia que as pessoas escolhidas por Deus para uma obra ele as direciona mesmo se estiver no fundo do oceano.

- Oceano? - ela perguntou, será que não sabe o que é o oceano?

- Sim o mar a praia, um monte de água junta onde as pessoas andam em cima num barco. - tentei explicar.

- Sim já sei, é que não conhecia por oceano e sim por mar. Jesus abriu o mar vermelho.

- Agora quem não entendeu fui eu, nunca vi um mar vermelho. - será que ela estava mesmo delirando?

- Deixa pra lá. Como se chama?

- Frederich mas pode me chamar de Fred. E você?

- Eu sou Li...Beatriz.

- Porque sua tia lhe deixou só na cabana?

- Acho que ela estava de cabeça quente. - eu tinha medo de falar para ele que ela era bruxa e ele pensar que eu sou também. - E você o que faz aqui só?

- Eu gosto de conhecer lugares diferentes, as vezes passo dias explorando a floresta ou pântano.

- Então você sabe sair daqui? - não entendi a pergunta mas respondi.

- Sim sei, para onde quer ir?

- O que tem além do pântano? - como assim? pensei.

Antes que eu pudesse responder um raio caiu em direção a árvore e fomos afastados pelo fogo e pela chuva forte, eu tentei ainda encontrar ela poderia ser que tivesse se machucado mas não a encontrei mais. Gritei seu nome várias vezes mas não encontrei e nem ouvi vozes. Me desesperei por ter que deixar ela só e não podia fazer muito tive que voltar para o castelo pois a chuva não parava e os raios eram fortes, mas se eu não fosse não poderia voltar com ajuda.

Antes de chegar no castelo vi Glauco o cigano amigo de meu pai e gritei por ele.

- Oi menino parece que advinha que queria falar com você. - ele disse descendo do cavalo.

- Deixe por favor eu falar primeiro. - então eu contei tudo que aconteceu a ele que se preocupou muito e mandou eu voltar para o pântano a procura dela e também foi me ajudar.

- A noite está quase chegando temos que encontrar ela logo. - eu dizia para Glauco já ficando desesperado.

- Sem tocha e com essa chuva acho inútil continuar procurando ela.

- Olhe Glauco ali na frente! - apontei quando vi a cabana, corri para lá me ferindo em alguns espinhos, já estava todo molhado e sujo de ter caído na lama e agora arranhado mas não ligava com isso, pois meu foco era achar Beatriz.

Entramos na cabana e não vimos ninguém, percebi que realmente era a cabana que ela comentou comigo pois tinha uma mala aberta com roupas femininas e pelo jeito seria dela.

- Não tem ninguém aqui Fred. - Glauco disse voltando de um dos cômodos.

- Olhe isso. - eu disse mostrando num dos quartos um altar para um deus estranho que eu não sabia quem era.

- A pessoa que é dona dessa cabana deve ser devota a outros deuses.

- É a tia de Beatriz.

- Como sabe? O que sabe dessa moça?

- A tia dela deixou ela nessa cabana e foi embora por estar com a cabeça quente, alto assim e a menina ouviu uma voz e começou seguir a voz indo de encontro comigo.

- Nossa pobre moça.

- Quando nos encontramos na floresta me disse que queria falar comigo.

- Sim, eu pensei no que seu pai me disse sobre a seleção e vi que seu pai está tentando te ajudar para não casar com qualquer uma ele quer dar uma chance para você escolher uma que goste.

- Talvez, mas não vou começar seleção nenhuma sem encontrar Beatriz.

- Já está apaixonado por ela?

- Claro que não, quer dizer sei lá Glauco só não consigo tirar ela da minha cabeça.

Decidimos voltar para o castelo e voltar na floresta no outro dia para procurar sem chuva e preparados para passar a noite.