Capítulo 40 - Fim da guerra

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Faz exatamente três meses e quinze dias que Fred partiu e não temos notícias de ninguém que foi com eles, as cartas não estão sendo entregues e eu não tenho mais como orar a Deus pedindo que ele volte, acredito que Deus pense que estou rezando e não orando.

Hoje eu não quis me alimentar, passarei o dia de jejum então fui até o jardim no meio do campo de rosas brancas que passaram a ser as minhas preferidas, peguei uma e fui caminhando com ela até encostar no tronco da árvore mas tudo isso de olho no caminho.

- Senhor, por favor que essa guerra acabe logo e que os guerreiros retornem em paz para seus familiares.

Ao olhar mais uma vez para a entrada vejo uma comitiva se aproximar e corro em direção a entrada para os receber, porém sofro uma grande decepção. Era um número grande de soldados que estavam sim vindo da guerra e nos trazia a notícia de que a guerra chegou ao fim e que finalmente todos poderiam comemorar, mas eu não via o guerreiro que eu queria ver ali no meio daqueles homens com caras de cansados e de roupas sujas, nada disso importava no momento pois minha vista passeava por entre eles procurando Fred.

- Beatriz onde estão nossos homens? - Estrela vem perto de mim que estou na entrada olhando a festa que os soldados fazem.

- Não os vi Estrela. - digo desanimada e ainda olhando para os soldados.

- Com licença majestade, o senhor Ilhós e o rei Frederich mandou avisar que estão no castelo de Vianna pois trouxemos mais de cem prisioneiros e vão ser investigados e julgados para eles então retornarem para cá.

- Obrigada, vão descansar ver a família de vocês. - digo e entro no castelo segurando o choro e ao passar pelas portas percebo que já estou chorando.

- Bia tenha calma agora sabemos onde estão e não há outro capaz de julgar os presos a não ser eles.

- Por que eu fui me apaixonar? Isso dói tanto.

- Mas essa dor é saudades e não paixão.

- Amanhã irei ter com ele lá em Vianna.

- Não senhora, não deixarei sair daqui pois ele não iria gostar.

- Estrela eu não aguento mais ficar aqui.

Ela me abraça e eu choro, percebo que chora também e juntas vamos para meu quarto, chegando lá nos ajoelhamos e oramos.

No dia seguinte eu acordo cedo e me arrumo mas concordo com Estrela quando ela diz que talvez ele não vá gostar e darei brecha para começar uma briga e resolvo ir até a sala do trono que tenho evitado todo esse tempo pois me lembra a nossa despedida.

- Majestade chegou isso para a senhora. - recebo a carta das mãos da criada com um sorriso.

"Minha amada, amanhã estarei chegando aí, estou ansioso para lhe ver e poder lhe abraçar, eu a amo cada dia mais e tenho pedido a Deus que abrevie os dias longe de sua presença. Estou com uma ideia e quero sua opinião, o que acha de nós dois aposentarmos Estrela e Glauco e os condecorar com um título? Eles poderão morar conosco e nos ajudar com os netos deles que creio serem muitos. Se estiver de acordo prepare tudo para duas festas um jantar na sexta para dar o título e uma comemoração em praça pública para comemorar junto com o povo o final da guerra e a inauguração de Lusivianna. Minha amada se puder imaginar a falta que me faz e como me arrependo de ter vindo. Te amo minha rainha."

Leio e releio e fico grata a Deus por ter me dado um marido perfeito. Abraço a carta com carinho e beijo então depois jogo ela na lareira para que Estrela não veja e não descubra os planos de Fred deixando de ser surpresa. Saio da sala em direção a cozinha que sei que ela está lá e ao chegar perto escuto ela falando e paro atrás da porta para ouvir.

- Ele não veio, está em Vianna ainda, eu disse tanto a ele que renunciasse esse cargo e que eu e ele fôssemos viver nossa própria vida, isso não é vida Rosário faz meses que não nos vemos estamos nessa idade e não podemos nem acordar junto. - resolvo entrar na cozinha deixando uma Estrela branca como uma tapioca.

- M-m-majestade? - Rosário diz estranhando o fato de fazer tempo que não frequento a cozinha.

- Oi Rosário como está? - digo mas ainda estou olhando para Estrela.

- A senhora quer algo? - Rosário pergunta e Estrela continua cortando verdura, percebo que segura o choro.

- Sim. Vim para que prepare um jantar para poucas pessoas na sexta, teremos no máximo dez visitas, mas quero tudo caprichado e de primeira qualidade. Onde está Anastácia? - pergunto ainda olhando para ela que não me olha.

- Ela está na biblioteca senhora, foi olhar um livro de receitas que pedi.

- Muito bem irei ter com ela lá, a senhora me acompanha senhora Ilhós? - pergunto e ela levanta a cabeça com os olhos vermelhados e sinto meu coração partir.

- C-claro que sim. - diz tirando o avental e vindo para perto de mim.

No caminho eu caminho na frente em direção a biblioteca e ela atrás de mim, curiosa do jeito que é e não fez pergunta ainda sobre o jantar.

- Bom dia Anastácia, preciso que organize uma festa para o sábado em praça pública, o motivo será a comemoração do final da guerra, toda a cidade deverá comparecer, quero tudo caprichado e por favor não nos coloque acima do povo, espalhe mesas na praça para que as pessoas sentem e sejam servidos, nós do castelo também ficaremos em mesas e se puder prepare atrativos para as crianças, agora lembre que primeiro teremos o culto e após isso poderá distribuir a comida. - falei tudo sem olhar para Estrela, pois Anastácia era uma jovem princesa que perdeu o direito de casar-se após ter sido vítima de estrupo e para não viver no país dela sendo apontada minha tia a trouxe para cá e a tornou a nossa governanta.

- Que maravilha uma festa após tanta guerra. - ela diz sorrindo. - Se me dá licença eu irei agora mesmo começar os preparativos. - diz e eu aceno a vendo sair.

- Estrela sente-se. - falo também sentando mas como não é comum eu ir para o birô ela estranha franzindo o cenho.

- Aconteceu algo para você está assim agitada e cheia de ordens? - ela questiona falando pela primeira vez após ter sido pega desabafando.

- Só feliz com essa guerra ter finalmente acabado.

- Mas os meninos ainda nem chegaram e já marcou jantar e festa?

- Se eles quiserem participar que cheguem antes desse dia. - digo sorrindo. - Agora preste atenção que o que tenho para falar é muito delicado.

- Eu estou dizendo que você está estranha. - ela fala e faço um sinal de silêncio.

- Eu e meu esposo temos nos servido de você e seu marido todos esses anos, eu mesmo desde que nasci, você e Glauco são para mim como meus pais, aqueles que a vida me levou e me devolveu na pessoa de vocês. É já assunto acordado por mim e por meu marido que vocês vão se aposentar. Agora mesmo eu querendo que fiquem morando aqui comigo no castelo não posso pedir isso a vocês então se quiserem ir morar em outro lugar o castelo de Vianna e as outras propriedades nossa lhe serão dada de presente caso se interesse em ter sua própria casa.

- Bia eu não estava murmurando, quer dizer eu estava mas era saudades do meu velho, não era nada contra você ou o menino Fred.

- Eu sei eu ouvi tudo e entendi, só que já faz tempo que nós estamos pensando em dar uma vida melhor a vocês. Inclusive você ainda trabalha no castelo de teimosa, pois sabe que eu tinha Lia justamente para lhe deixar livre.

- Eu agradeço sua preocupação com agente, mas é como você mesmo disse nós cuidamos de vocês desde que nasceram e não sei se eu saberia ficar longe.

- Nosso desejo é ver você esquentar a cabeça com nossos filhos.

- Já pensam em filhos?

- Fred pensa em filhos mesmo antes dele nascer.

Nos duas rimos e nos abraçamos e vamos atrás de Anastácia para olhar o que ela planejou de decoração para a festa.

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