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Troy ainda estava a espera de uma resposta minha. Mas o silêncio tomou conta de mim. Eu não sabia explicar aquele sentimento assim de uma hora para outra. E mesmo tendo em mente aquela proposta absurda e boba de íris, ainda sim aquele beijo despertou algo em mim. Logo em mim que sempre me  mantive longe de tritões por terem fama de serem sentimentalistas demais. Isso não era verdade para todos, alguns podiam ser extremamente frios e eu fugia de todos sem exceção.

Troy me olhou parecendo  angustiado, se virando para ir.

— só não desiste de mim. — digo antes dele ir. E não olhar mais para mim. Ele deve ter entendido que eu estava mais perdida do que uma gota no meio do oceano.

Nado para o lugar preferido de íris. No meio do caminho Gim me acompanha, Gim era um tanto lenta mas para uma tartaruga grande e verde, ela conseguia muito bem me acompanhar. Não demora muito e já estamos nós sentando nos rochedos que Iris tanto ama.

Para ela aquele era um dos melhores lugares. Aquela ilha que nenhum ser humano poderia ter acesso.

— e então, está conseguindo? — ela me pergunta com seu tom calmo.

— eu beijei ele.

— ótimo. — ela sorria e batia palmas. — mas se você o beijou, então por que essa cara?

— ele tem alguém. — digo um pouco mais triste. Quer dizer triste não por Tyler mas sim por Troy que ao me beijar fez fluir dentro de mim algo que nem mesmo eu sei explicar o que é.

— calma, é natural que ele seja comprometido. Isso não quer dizer que você tenha que desistir. — eu realmente não estava acreditando no que ela dizia.

— eu não vou destruir uma família. — digo um tanto alto, fazendo algumas sereias que estavam presentes nós olharem.

— eu não estou dizendo isso. Já pensou que ele pode estar mentido para você?

— não seria novidade, já que também estou mentido para ele. — ela me olha com o semblante irritado.

— Lavínia, entenda uma coisa, ninguém absolutamente ninguém humano pode saber que existimos. Entendeu? — disse segurando meus ombros.

— isso pode ser tarde.

— o que você quer dizer com isso?

— vocês tem que parar com tantos naufrágios. Sabe Íris eles podem não serem bons, mas se continuarem a morrer por conta dos naufrágios, vão acabar descobrindo que no mar de Ciano tem sereias. — ela me soltou para encarar a água reluzente.

— você tem razão. Eu soube dos dois naufrágios de hoje. Um você consegui salvar, o outro ninguém conseguiu. — ela parecia sentir pelo que aconteceu. Eu não me enganava tanto assim, com seus sentimentos que mudavam mais que as ondas.

— não é fácil controlar todo ser marinho desse mar. Talvez se eu me casar logo com Tristan seja mais fácil.

— não tenha tanta certeza. — digo sem pensar, atraindo seus olhos até mim.

— o que você quis dizer com isso?

— nada. Só chega de fazer pessoas inocentes morrerem. Está bem?

— vou ver o que posso fazer. — disse me abraçando.

— chega disso. Agora me diz o que está achando de conhecer a superfície?

— é estranho ver toda aquela gente coberta com panos, sendo que faz tanto calor. Mas fora isso os lugares são bem bonitos. Tyler me levou para conhecer um lago que é quente e frio. — digo despertando sua curiosidade.

— como assim?

— ele disse que de manhã se pode nadar...

— só falta você me dizer que nadou com ele? – ela me interrompe.

— claro, que não.

— não minta para mim.

— nadei. — digo envergonhada com minha mentira.

— ele viu sua cauda?

— não, a gente saiu rápido quando a água começou a esquentar. Pois era um lago dentro de uma fenda vulcânica. — ela me olhou mais uma vez e não me questionou mais.

— tenha cuidado Lavínia, marujos também mentem.

— eu já sei. Todos temos essa capacidade. — digo segurando Gim em meu colo.

— fato. Mas nem por isso temos que ser mentirosos sempre. Sabe Lavínia nem tudo é sobre mentiras. — Íris era um tanto indecisa no que dizia, quase sempre se contradizendo. Então não ousei questionar o que só nós levaria a mais um de seus debates sobre valores e princípios de ser um ser.

— e Troy? — ela me pergunta e eu olho bruscamente para ela deixando Gim cair no mar. Por sorte ela não sofreu nada grave.

— o que que tem ele? — digo um tanto mais nervosa que o normal.

— calma, não precisa ficar assim. Eu só queria saber se você tem visto ele? — ela me observa atentamente.

— sim. — digo sem dar tantos detalhes.

— que bom, porque eu não. — ela solta o ar pesadamente como se esperasse alguma notícia.

— olha eu preciso ir, tudo bem. — digo pulando na água sem esperar por mais especulações sobre o assunto. O que com certeza era o que me esperava na caverna.

Nado até a mesma, olho para trás mas não vejo Gim ela deve ter ficado em algum lugar comendo, já que é o que faz de melhor.

— Lavínia. Estávamos a sua espera. — Liana parecia bastante feliz me esperando de braços abertos na entrada da caverna.
Foi recebida com o seu abraço mais carinhoso e acolhedor.

— Toda sereia deveria ter uma amiga como você. — digo a beijando no rosto. Lhe arrancando um lindo sorriso.

— essa é uma qualidade que nem todas dão valor. — disse Liana se referindo a Celly.

— não me envolve nisso. — gritou Celly. Fazendo Li revirar os olhos.

— calma meninas. — digo atraindo as atenções delas para mim.

— mas e você como está? — Li me pergunta, enquanto nos sentamos na base da caverna.

— acho que estou bem... Quer dizer não sei. — minha voz saiu um tanto falha. Acho que Li conseguiu entender um pouco do que eu estava sentindo ou não.

— quer me contar alguma coisa?

— nós contar. Não esquece que também sou amiga dela. — Celly parecia enciumada.

— claro que não esqueci, você não me deixa. Mas voltando a você, diga bote para fora esses peixes serrotes que estão te cortando por dentro. — ri comigo mesma pela expressão usada pela minha amiga,  resumiu muito bem os meus sentimentos.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora