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Tristan

Depois que descobriram a existência de sereias em Ciano, esse reino ficou insuportável. Só se fala na morte dela e como vamos pega-la.

No castelo, no reino e em toda parte só se fala na maldita existência de sereias. Eu não odeio minha espécie, mas odeio o maldito momento em que me deixei encantar por Lavínia e seu jeito doce. Era claro para mim em todas as vezes que à vi de longe que ela faria algo para nós prejudicar, eu só não sabia onde e como isso aconteceria.

Reconheço que sou culpado por isso, afinal fui eu quem incentivou Íris à fazer com que ela conhecesse o humano mais de perto. Humanos são seres odiosos. Mentem, manipulam, te usam e ainda te matam.

E ela terá apenas isso, a morte.

Pois o humano já demonstrou que quer ver ela morta. Logo ele o mais estranho dos humanos, para mim está mais do que claro que ele esconde alguma coisa e eu teria todo prazer em descobrir se não fosse a descoberta de nosso povo.

O rei estava furioso, queria a todo custo que ela morresse em praça pública. Tanto era o seu ódio que se uniu com o humano esquecendo o acordo de não trazer humanos para o castelo. E  estavam os dois na sala de estrategia planejando como a pegariam. Queria não ter sido notado mas vi o olhar furioso do rei sobre mim, e fez sinal para que eu me juntasse à eles.

Ótimo agora também faço parte do grupo.

Os dois traçavam uma rota de navegação no mapa do mar de Ciano estendido sobre a mesa. Meu pai não precisaria navegar, mas precisa manter as aparências diante de Tyler.

— então o que acha? — Tyler me pergunta apontando para algumas rotas. Era quase improvável ela estar em um daqueles lugares.

— é pode ser. Se você for um bom nadador é claro. — ganho um olhar apreensivo do rei.

— e o que sugere?

— não precisamos das sugestões dele, já que ira em outro barco por uma rota diferente da nossa. — diz o rei tentado evitar atritos entre mim e o humano.

Tyrrell sabia muito bem que eu iria caçar mergulhando junto de outros grupos de soldados bem treinados e eficientes.

— e este local com uma nuvem negra marcado como perigoso? — Tyler apontava para a parte mais funda e praticamente inalcançável do mar. O lugar protegido pelas águas mais perigosas e santuário das primeiras sereias existentes em Ciano.

Ela não iria tão longe.

— esqueça essa parte, é impossível chegar até lá. — esbravejou o rei.

— tem certeza?

— tenho. Sabe das lendas envolvendo essa parte não sabe?

Tyler apenas confirmou com a cabeça. Todos sabem das lendas e não se atreveriam a ir tão longe. Para os humanos o lugar era amaldiçoado.

....

Segui nadando e vasculhando cada canto daquele mar. Ela não estava com Íris na ilha e nem na caverna onde dormia com suas amigas.

É isso.

Suas amigas devem saber de alguma coisa.

Nado em direção aos lugares favoritos de Liana e Celly, sei que podem estar nos bancos de corais ou a procura de algum cardume de sardinhas. Celly é caçadora seus instintos são bem apurados, qualquer gota de sangue e ela se transforma totalmente no pior de nossa espécie.

Encontro Liana em um navio abandonado cheio de corais. Ela está bem distraída e leva um susto quando me vê. É nítida a preocupação em seus rosto, ela parece bem mais pálida agora.

— Tristan...? O que faz aqui? Você não é muito de caçar corais é? — disse nervosa.

— não, não sou. Eu só quero saber de Lavínia, por acaso sabe dela?

Ela me analisou por alguns instantes.

— não. Eu não sei. — disse confirmando minhas suspeitas. Claro que como melhor amiga ela não diria onde ela poderia estar.

— e se soubesse também não diria. Isso que você está tentando fazer é terrível. Porque tanto ódio?

Ela pareceu se dar conta do que estava acontecendo. Lavínia deve ter dito o que o rei pretende fazer.

— calma, não é bem assim.

— não é bem assim. É o que é então? Porque matar uma sereia para agradar os cidadãos de Ciano só trará cada vez mais tragédia para o nosso povo. Eles nunca vão nos deixar em paz, a desconfiança de mais sereias vai sempre estar entre eles. — Liana estava brava e cheia de razão, mas o rei Tyrrell está omisso à isso. Ele só pensa em mata-la e conseguir a glória que virá disso.

— me desculpe Liana eu não posso fazer nada por ela. — ela me olha cada vez mais furiosa.

— covarde. Você é quem mais pode e sabe disso. Só não quer se indispor com seu rei. — suas palavras eram duras e verdadeiras.

— você está certa.

— sei que estou. E se eu fosse você desistiria disso e daria outro jeito que não fosse matar um de nós.

Mas que outro jeito se isso parece a única forma de  acabar com tudo.

— esse não é o único jeito e vossa alteza sabe muito bem disso.

Liana saiu deixando suas palavras tomarem conta de minha mente. Talvez eu soubesse mesmo ou não. Na verdade isso esta sendo muito confuso, porque por mais que eu queira buscar por Lavínia ela não fez nada para merecer um destino tão ruim quanto a morte.

Retorno as buscas por Lavínia e no meio do caminho acabo colidindo com um corpo menor que o meu. Era Celly. Ela pode muito bem saber de alguma coisa. Seu olhar é calmo e diferente.

Suponho que sabe de alguma coisa. Não sei se ela é uma boa amiga como Liana mas vou descobrir.

— olá Celly!

— olá alteza. — ela faz reverência. — o que deseja?

— bom você já deve saber que estou procurando por sua amiga não é?

— sim. Íris já me passou todo o drama e se quer saber eu não sei onde ela está. Mas sei que seu irmão está com ela.

Ela não se importa de entregar meu irmão. Eu já sabia. Ele é apaixonado por Lavínia e nunca deixaria alguém fazer mal a ela.

— se me permite um conselho alteza?

— prossiga.

— pense bem, em que outro lugar desse mar seria mais seguro para ela estar?

A pergunta de Celly me soava como uma dica. O mar de Ciano e grande mas qualquer um seria pego se tentasse fugir, a menos que estivesse protegido. E Cianeto era um dos únicos lugares para isso.

Eles não seriam idiotas. Ninguém passar por aquela escuridão.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora