As Sereias de ciano

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Lavínia

Em um instante eu estava encarando meu inquisidor sentido toda a dor dos antigos mortos em cada pedaço de mim e agora estou nesse lugar cheio de sombras, gritos e pesadelo ao que mais me parece uma floresta sombria e sinuosa. Minha cauda deu lugar à pernas. Pernas essas que ainda carregavam minhas escamas de peixe e cada uma delas estava doendo mais do que aquela faca atravessando minha garganta.

Ter passado pelo mar de sombras foi uma tarefa difícil mas nada comparado com a escuridão agonizante deste lugar. Tudo que vejo são sombras, vultos e gritos horríveis das pessoas que parecem reviver suas mortes assim como eu vejo a minha repetidas vezes e todas elas da forma mais dolorosa possível. Acho que esse pesadelo pode não ter fim... É tudo culpa de Tyler aquele humano de existência patética, ele vai ser usado assim como fez comigo.

"Aquele que deu a gloria também dará o caos"

Uma voz repetia fazendo minha cabeça girar e eu quase caí no chão forrado por folhas secas. Sentei escorada por uma árvore. Mais uma má escolha feita em um momento de dor. A árvore sussurra coisas horripilantes de se fazer com alguém, pensamentos tortuosos de quem já esteve alí no mesmo lugar que eu. E estava muito pior que eu.

Eu sequer sabia onde estava. Lembro de Lil dizer que após a minha morte eu iria para um lugar nem tão perfeito quanto o reino de Ciano e que todas os seres presos nesse lugar estavam esperando renascer ou seu espirito evoluir a espera de algo melhor. E que havia muito sofrimento no processo. Não imaginei que seria tão tenebroso.

' mate ele'

' ele tem que sofrer. Você sofreu'

' cuidado'

Todas essas palavras estavam me enlouquecendo rápido demais.

Sem esperança de retornar saí andando com dificuldade em meio a escuridão, pessoas passavam por mim em um estado nada animador. Eu não queria mais ficar aqui. Nem ser como eles. Estou em uma espécie de espiral dolorosa onde revivo todos os meus traumas dores que achei impossível serem revividas novamente e que agora rondam minha mente feito um redemoinho, destruindo minhas lembranças. Quando esbarro em alguém sem querer, acho que sequer prestei atenção no caminho que fazia.

Espera eu conheço esses olhos, faz muito tempo mas eu ainda os reconheço muito bem, são os mesmos que levaram minha família. Não a culpo de nada afinal é seu trabalho. Mas é doloroso para mim saber que tive o mesmo fim da minha família. Não lembro muito bem como eles morreram, Íris só me contou muito tempo depois que ela veio busca-los. E sei que não tem culpa de terem ficado presos em uma enorme rede de pesca, os humanos os pegaram em suas formas normais de peixe graças a um encanto de mamãe mas não havia ninguém para os salvar. Ela só chegou quando já estavam sem vida e os trouxe para que eu pudesse me despedir e por isso Íris não me deixava ter nenhum contato com humanos até Tristan a convencer.

A morte me olhava como se me conhecesse a anos, com seus cabelos brancos e sua tipica pele pálida de olhos em tons avermelhados me encaravam de uma forma doce e senti que era minha hora. Queria realmente voltar e fazer todos eles sofrerem mas se for minha vez eu quero ir com ela.

- doce garota! - ela se aproximou mais de mim. - eu queria poder te levar agora mas você recebeu a bênção dos antigos e vai retornar para apagar todo mau que ronda o reino de Ciano.

- e porque eu?

Não entendo por que me escolheram se já fui morta por eles?

- entendo que esteja confusa, nem tudo é como parece mas confie na sua força. A propósito não me chame de morte como todos que não sabem o meu nome chamam, pode me chamar de Zara.

Eu não teria por que desconfiar dela, afinal não me restaram muitas opções.

- venha comigo! Falta pouco para seu renascimento e eu vou te acompanhar para o lugar onde esta marcado. - disse docemente, eu até estranhei seu comportamento gentil já que alí só tinham pessoas correndo desesperadas de seus tormentos e ninguém parecia ligar em ser gentil e amenizar o sofrimento um do outro.

Pobres criaturas.

- sabe eu preferia mesmo ir com você já que não tenho mais ninguém por quem voltar. - digo com pesar fazendo ela me olhar.

- não seja dura. E os seus amigos?

Diante de tantas dores de lembranças ruins eu tinha me esquecido dos meus amigos mas eu sei que uma hora ou outra terei que pagar o preço. Renascer não vai ser tão fácil como zara está tentando parecer.

- é agora! - disse quando paramos em frente a um feixe luminoso e vibrante.

Uma luz em meio a escuridão que eu estava sentindo.

- você tem que passar pelo portal. Não pode mais ficar aqui! Tem que cumprir sua missão.

Não entendi muito bem o que ela quis dizer com missão e antes mesmo que eu pudesse perguntar uma força crescente me sugava para dentro do portal.
Enquanto eu o atravessava recebia flashes do que deveria ser feito.

Acordo vendo todos reunidos a minha volta emocionados inclusive Zara. Como ela podia estar em dois lugares ao mesmo tempo? Essa e varias outras perguntas me rondavam e tudo o que eu conseguia sentir era um estado de vazio e vulnerabilidade. Consegui me sentar ainda meio zonza eu só conseguia chorar. Falei com zara arrancando olhares curiosos dos dois e ela se foi com a promessa de um dia voltar e me levar de verdade desta vez.

Troy me tinha chorando em seus braços, sei que ele estava sofrendo por me ver nesse estado os dois queriam respostas. Respostas que nem mesmo eu saberia explicar ainda.

Eu só sabia que esse oceano nunca mais seria o mesmo. Eu não era a mesma.

Continua...