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Decidi que era hora de enfrentar as consequências de ser príncipe e bem esse não é o melhor lugar para isso. O marujo Tyler está aqui nessa taverna movimentada e cheia de bêbados e entre eles sentado em uma das mesas um pouco mais afastada do barulho estava Tyler bebendo sozinho. Ele não me parecia nem um pouco triste ou arrependido, seu sorriso mínimo mostrava que ele estava feliz. Quem em sua consciência ficaria feliz em matar outra pessoa?

Seu sorriso aumentou ainda mais quando me viu chegar e bater com tudo em sua mesa sem me importar se atrairia ou não olhares para nós.

— ei, calma alteza! — disse como se nada tivesse acontecido.

— como consegue ficar tão tranquilo sabendo que matou um ser inocente?

Ele bebeu um gole parecendo não se importar com minha pergunta.

— é simples alteza, agora sou o protegido do rei.

Eu queria dizer que ele estava enganado, meu pai nunca protegeria alguém só por ter feito mais um dos seus serviços sujos. Tyler era só mais um dos subordinados dele. Só consegui rir e sentir pena dele por que assim que não servir mais Tyrrell ira abandoná-lo como sempre faz.

— minha vontade era fazer com você o mesmo que fez com Lavínia.

— ah, isso tudo é pela sereia não é? O príncipe gostava dela!

— isso não é da sua conta. — gritei socando a mesa com força fazendo ele levantar.

— calma príncipe, não quero brigar!

— Eu quero. Quero te torturar até a morte, mas eu sei que não era isso que ela iria querer.

— não mesmo por que diferente de mim ela era uma alma boa.

Dei as costas a ele para ir embora mas seu riso de desdém me fez parar girando de volta e acertando um soco em sua cara de nada. As pessoas ali me olhavam incrédulos possivelmente se perguntando porque fiz isso. Não me importo com o que pensam me sinto vingado mesmo com Tyler me jurando de morte com o olhar.

Ele não revidou, então segui saindo enquanto as pessoas me abriam caminho. Agora eu tinha mais um inimigo e mais pendências para resolver.

Uma leve olhada no reino e ele parecia estar como sempre a não ser pela imensa movimentação de pescadores com suas fortes e enormes redes de pesca. Eu sabia que uma hora ou outra o interesse deles por mais sereias aumentaria só não imaginei que seria tão rápido.

Sigo a passos largos para o castelo com a sensação constante de estar sendo vigiado.

— estávamos a sua espera. — diz Tristan ao me dar passagem para o salão real.

— não vim por você.

— sei que não. Mas precisava de toda aquela encenação patética na morte da sereia?

Olhei furioso para Tristan eu poderia lhe matar aqui mesmo se ele dissesse mais alguma coisa. Continuei andando sem lhe dar muita atenção.

— oh, então não foi uma cena. Gosta mesmo dela? Gostava já que ela está morta.

Parei repentinamente com minhas mãos em punhos prontas para o segundo golpe do dia. Tristan parecia carregar o inferno dentro de sí. Era sempre assim depois que alguma coisa era lhe tirada, ele descontava em todos a sua volta. Respiro fundo para não lhe acertar forte e meu soco atinge a parede fazendo pelo menos ele se calar.

Continuo meu caminho até o rei.

— hora vejam quem é vivo sempre aparece. Demorou para se livrar dela.

Tinha me esquecido que Tyrrell consegue ser pior que seu filho.

— você não tinha o direito de mandar aquele humano matar ela.

— e quem melhor que ele? — riu. — soube que os dois eram até amigos, uma pena não ter durado muito.

— não precisava ter derramado sangue de um inocente. Sangue de um dos nossos. Você... — aponto para ele. — traiu nossa própria espécie! Faz ideia do que fez?

Ele e Tristan riam. Dois tolos que trariam a discórdia entre ambas as espécies.

— tenho tudo sobre controle. Já você filho ingrato o que foi aquele show na frente de todos? Fez aquilo para me humilhar? — ele estreitou seus olhos furiosos para mim.

Agora quem ria em descrença era eu. Como um ser pode ser tão abominável e não sentir a dor de outros?

— eu faria tudo de novo para tentar impedir a morte dela.

— claro o imbecil é apaixonado por ela. Deve ter passado o dia lamentando sua perda. — disse Tristan recebendo um olhar nada animado do rei.

— calado Tristan! Minha conversa é com o seu irmão. Não sei onde eu errei com você. Você tem tudo não precisa de uma sereia como aquela que só traria desgraça e sofrimento para o nosso povo.

Não acredito, o rei só podia mesmo estar deslumbrado com o reinado humano onde ninguém sabe o seu real segredo. Parece que esqueceu que também tem cauda e respira pelo pescoço, ele só consegue viver no castelo por conta da ligação com os lagos marítimos.

— está enganado, você é quem trará desgraça.

— basta! Não admito que fale assim comigo. — disse furioso.

Dei meia volta saindo do castelo com lágrimas nos olhos, meu pai não podia ter se tornado esse ser tão mal ou podia?

Claro que podia.

Minha volta para o oceano não foi assim tão tranquila pois Tyler resolveu me seguir. Um tolo que preferia seu rei a seu reino e iria sofrer como qualquer outro talvez até mais. Dei várias voltas pelo reino para despista-lo mas ele parecia incansável na sua busca por respostas. Respostas que só encontraria sabendo de toda a verdade e mesmo meu pai sendo coração de pedra ele não se atreveria a confiar em um humano traiçoeiro como ele.

Por fim consegui despistar Tyler na região dos lagos não no lago vulcânico esses eram outros lagos com ligações marítimas que ele possivelmente não sabe a origem.

...

Quando voltei Liana não me fez muitas perguntas ela estava muito nervosa para isso. Ignorei a morte plantada ali com seus olhos vidrados em nós e me concentrei no momento do renascimento de Lavínia, já está quase na hora.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora