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A maré já estava alta e a lua cheia estava quase atingindo o seu pico de poder, era um alinhamento perfeito para trazer ela de volta à vida. Eu concentrava minha atenção entre Lavínia e os raios lunares que entravam pelas frestas da caverna e refletiam no rosto de Lavínia.

Não sabia como iria acontecer, as pérolas já circundavam seu corpo tal como Lil mencionou que seria. Mas eu não tinha tanta certeza que funcionaria, não vejo nada de anormal acontecer.

— se não acontecer nada você sabe que vou levá-la não sabe? Já se passou tempo demais. — disse a sereia da morte inquieta.

Seu comentário só me deixou cada vez mais tenso.

— calma. Vai dar certo. — Liana tentava ser otimista mesmo estando uma pilha de nervos.

Então as pérolas começaram a brilhar em volta dela. Um brilho branco perolado de uma forte luz energética que a envolvia por inteira nos impedido de a olhar. Com a tamanha intensidade de sua luz que parecia cantar um cântico antigo e quase esquecido que eu nem se quisesse saberia reproduzir.

Meu coração pulava em um misto de medo e ansiedade conforme as luzes diminuam pareciam estar sendo absorvidas pelo corpo de Lavínia. Seu corpo parecia mais corado mas ela ainda estava em seu estado mórbido. Assim que as luzes se dissiparam não havia uma pérola sequer. Me aproximei dela e assim que toquei seu corpo uma corrente elétrica me atingiu interrompendo meu toque.

Ela estava quente. Muito quente para uma sereia.

Como isso aconteceu? Se estamos no mar?

— ela está viva? — Liana me pergunta repentinamente.

Eu nem conseguia pensar em nada.

— eu... Não sei! — digo em um suspiro falhado.

Eu não sei se ela esta mesmo viva.

— bom se ela não estiver viva está morta e se está morta eu vou levar. Com licença!

A morte não esperou que a convidassem e entrou no exato momento em que escutei um suspiro vindo de Lavínia. Não sei se isso é mesmo verdade ou é minha mente me pregando peças.

— viu ela esta viva! — disse Liana com lágrimas nos olhos. — ela mexeu um dedo, está vendo?

A mulher de olhos vermelhos agora bem perto de nós a observava minuciosamente parecendo não acreditar em seus próprios olhos. O corpo de Lavínia dava fracos sinais de que estava voltando, ela abriu seus olhos e levantou se sentado atordoada nos assustando. Mas algo estava errado, sua reação não era de alguém feliz por acordar. Ela parecia distante em outro lugar.

— Lavínia?

Demorou alguns segundos até ela me olhar de um jeito frio e assustador. Lavínia não era mais a mesma sereia de antes. Ela tinha um brilho estranho no olhar, um brilho que me dava medo.

— está tudo frio e escuro. — disse me abraçando. — não me deixa sozinha por favor.

Olhei para Liana e para a sereia de olhos vermelhos eu não sabia o que dizer. Minha pequena estava muito assustada e com medo. Seu trauma foi muito além de morrer.

— uma hora ou outra ela vai ter que pagar. — disse a morte.

— zara, porque você não veio me buscar? Lá era horrível! — Lavínia chorava encarando a morte a quem chamou de zara.

Nem sabia que essa criatura nebulosa tinha um nome.

— eu tentei querida. Mas eles disseram que você teria que voltar, então eu estava esperando para te livrar do seu sofrimento caso isso tudo desse errado. — disse limpando as lágrimas de Lavínia. — agora tenho que ir. Mas eu volto.

— promete que me leva quando voltar?

— prometo. Mas agora cumpra tudo o que lhe foi destinado. — disse indo embora.

As duas conversavam como se fossem velhas amigas. Lavínia deve ter sofrido muito para conversar de um jeito tão intimo com a morte. Assistindo Zara ir embora ela só conseguia chorar ainda mais em meu braços e eu não conseguia dizer nada para amenizar sua dor. Nada que eu dissesse iria fazer diferença. Pelo menos não agora.

— eles vão pagar por tudo o que fizeram comigo. — disse entre soluços. Suas palavras eram amargas e sombrias.

— calma Lavínia!

— não me peça calma Liana. Você não faz ideia do que eu passei naquele inferno de sombras entre morrer e viver eu preferia ter sido levada a passar por aquilo.

— então nós conte! Talvez te ajude a se sentir melhor. — digo e ela me olha ainda com lágrimas nos olhos.

Olhos cheios de raiva e dor. Uma dor que nenhum de nós seria capaz de entender e que ela precisava expulsar de sí mesma. Sei que superar traumas não é nada fácil mas é preciso para seguirmos em frente. E ela precisa seguir em frente mesmo tendo essa missão misteriosa que Zara disse.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora