Lavínia
Faltava pouco para chegar, mesmo com todo o medo e dor do lugar eu já conseguia sentir a paz e uma luz me invadindo aos poucos. Abrir os olhos e ver as enormes colunas de corais erguidas alí era um alívio para os olhos.
- Troy, pode abrir os olhos. Acho que chegamos. - digo sacudindo seus ombros, ainda sem conseguir parar de olhar para o maravilhoso santuário de corais a nossa frente.
- o que?
- conseguimos.
Ele ainda parecia imerso em seus próprios devaneios e pesadelos do escuro. Parecia um transe que só foi quebrado quando ele finalmente se deu conta de onde estávamos. Soltou minha mão e espalmou sua testa, queria ter certeza que não era um sonho.
E não era. O santuário estava bem alí e não era um truque ou uma ilusão. Não sei exatamente o que aconteceu em seu sonho mas seu semblante estava abatido. Ele me olha e me abraça firme.
Troy não quis me contar o que tinha visto no escuro então não insisti. Alguns demônios são difíceis de lidar imagina compartilhar com outras pessoas.
Nado me aproximando ainda mais dos enormes corais reluzentes com o reflexo da luz solar, suas colunas e arcos pareciam um castelo submerso.
— não se deslumbre tanto Lavínia. Isso tudo pode não ser o que pensamos.
Troy está certo. Mas me recuso a acreditar que isso é uma ilusão. Os ancestrais existem porém nunca ninguém que chegou até aqui voltou para relatar o que aconteceu. Acho que não é permitido falar o que acontece aqui.
— olá! Tem alguém aí?
O eco da minha voz se espalha pelo lugar, e tudo que vejo são peixes e mais peixes, espera aquela silhueta se parece muito com Gim. Confirmo ser ela quando Gim se aproxima da entrada e parece nos chamar para dentro do lugar.
— tem certeza que quer fazer isso?
— não tenho outra escolha.
Já cheguei até aqui e não iria parar para ficar pensando se ficava e morria ou embarcaria no desconhecido.
Troy segura minha mão e nadamos juntos para dentro do banco de corais novamente guiados por Gim. Desta vez não estava escuro e conseguiamos ver todo o colorido existente alí.
Percebi alguns olhos curiosos nos espiando atrás dos corais e até algumas risadinhas chegavam aos nossos ouvidos causando um frio na barriga. Tudo alí parecia mágico demais para ser verdade.
Paramos bem atrás de Gim quando ela finalmente parou bem de frente para uma sereia de calda e cabelos brancos. O brilho refletido em seus olhos me passava paz e confusão ao mesmo tempo. Tudo em Cianeto era uma mistura de paz e caos como se tudo fosse ruir de uma hora para outra.
O frio e a sensação gostosa de calor se misturavam fazendo leves bolhas na água. Meu medo crescia conforme seu olhar nos examinava sem desviar.
— não precisa ter medo, Lavínia.
A sereia sabe meu nome. Eu já deveria saber que ela deva saber tudo o que eu sei. Todos aqui sabem mesmo eu não tendo dito nada.
— temos as respostas para suas perguntas.
Eu queria perguntar mas não encontrava as palavras certas. Meu medo estava sendo mais forte que eu.
— você tem pouco tempo e se quer saber os ancestrais já sabiam da sua vinda.
— eles sabem que corro perigo? — ela confirma com a cabeça e meu sentimento não é dos melhores.
A vida está por um fio, sempre esteve.
— eles vão me aceitar aqui?
— sinto em te dizer que este é um solo intocado por pessoas de má fé, você não é uma delas mas põe em risco a vida dos demais. Sua descoberta desencadeou o início de um grande massacre se algo não for feito. Um rei cego por sua ira porá todos em desgraça. — Troy me encara ele sabia que o rei é seu pai justamente rei dos dois reinos e indigno de continuar seu reinado. — você vai morrer e não podemos te abrigar aqui.
Eu não queria entrar em pânico mas tudo que consigo sentir é dor a minha e a de todo mundo. Como pude me deixar levar por Tristan que nem conheço direito, por íris e por minha própria vontade de conhecer o mundo dos humanos? Fui fraca nas minhas escolhas.
Troy me abraça aflito. Ele sabe que sem a proteção das sereias logo serei encontrada.
— e o que vamos fazer agora? Você não pode deixar ela morrer. — Troy esbraveja.
— nós iremos proteger o templo e o mar. Sem este templo não tem como salvar toda nossa espécie. Já vocês só conseguiram entrar aqui por causa da tartaruga. Ela é o ser de coração puro. Vocês tem pureza mas não o suficiente para atravessar o escuro sem serem corrompidos por seus medos.
Por isso Gim estava sempre a nossa frente com um brilho diferente.
— mas... — ela nada a nossa volta parecendo observar alguma coisa. — onde conseguiu essas pérolas? — segurou meu braço onde estava a pulseira com as pérolas que íris havia me dado.
— íris me deu. — digo sem emoção.
— sim, Íris me lembro dela. — como assim ela a conhecia? — uma boa alma, bem nem tão boa. Afinal deixou se corromper por aquele ser. — ela parece magoada.
— fala do meu irmão?
— sim. O tritão de duas faces, ele não sabe quem é.
— qual é mesmo o seu nome? — Troy pergunta. Estou tão cansada de fugir que esqueci de perguntar.
— Lil.
— Lil então por que diz que Tristan não sabe quem é?
— ele vive na sombra do rei. Faz todas as vontades do pai e por isso não sabe muito bem as suas próprias. Agora mesmo ele não quer matar Lavínia mas está cego pelo ódio do pai e do humano.
— se não posso ficar aqui, não tem porque continuarmos com isso. — digo fazendo os dois me encararem surpresos.
— o quê? Não. Tem que haver um jeito. — Troy se desespera. Sei que eu também devia estar desesperada e aos prantos e isso só me faria mais mal e eu já estou.
— essas pérolas podem te salvar mas você pode não gostar do que tenho em mente. — Lil tinha um brilho estranho em seus olhos de um azul quase cinza. Esse brilho me fez ficar com medo.
Continua...

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As Sereias de ciano
FantasySe sereias existem, a isso é um mistério. Um mistério que os cidadãos revoltos do pacato e calmo bem pelo visto nem tão calmo assim reino de Ciano, banhado por mares de águas misteriosas, estão prestes a descobrir. Seria o fim para estes seres místi...