As Sereias de ciano

11

— por que eu sou o seu príncipe e você me deve respeito e devoção. E também porque se não soltar a moça você poderá ir para o calabouço sujo e escuro do castelo. É isso que você quer?

Tyler pareceu pensar sobre o assunto começando a me soltar lentamente andando para o outro lado da mesa.

— fez uma boa escolha marujo. — disse o príncipe me pegando em seus braços.

— isso não vai ficar assim. — disse Tyler se dirigindo para o outro lado do bar onde tinha alguns baldes.

— vamos alteza me tire logo daqui. — digo nervosa imaginando o que estaria por vir.

— você está bem?

— sim só me tire logo daqui. — digo vendo Tyler se aproximar ainda mais de nós e antes de chegar na carruagem ele lança o balde com água que nos molha por inteiro. Já consigo sentir o efeito da pérola diminuindo com a força da água.

O que antes eram pernas agora se transformavam novamente em cauda. O príncipe vendo tudo aquilo me pega no colo e me coloca dentro da carruagem.

— viram senhores ela é mesmo uma sereia. — Tyler gritava para as pessoas que estava certo. Vi que o príncipe ficou um tanto agitado ao ver minha cauda, mandando o cocheiro seguir as pressas para o castelo.

— eu não acredito que um segredo de anos se desfaça assim, do nada. — ele dizia inquieto. Vi sua pele com um brilho escamado de leve, não tão intenso quanto minha cauda que estava totalmente exposta.

— você é um tritão? — pergunto assustada e surpresa. Ele me olha com certo desprezo pelo que acabou de acontecer.

— não importa o que eu sou. Você não precisava espalhar esse segredo. Você nem sequer precisava estar entre eles. — disse ríspido encarando sua pele brilhante por causa das escamas prateadas.

Fiquei triste por um dos nossos não entender essa curiosidade.

— e você vossa alteza por qual motivo está entre eles? — minha voz saiu mais grave que o habitual.

— isso não lhe diz respeito.

— ah, diz sim. Tyler ira espalhar para todos o que somos e logo seremos perseguidos e se é mesmo um príncipe tem que se preocupar também. Talvez até perca sua coroa e acabe morto tal como nós. — ele ria descaradamente.

— eles sabem sobre você e não sobre mim ou você esqueceu que em nenhum momento minha real identidade foi revelada. Essa preocupação eu não tenho. Você sim deve temer todos eles. — ele olhava para estrada.

Isso tudo aconteceu por minha culpa. Íris vai me matar quando souber, se bem que ela nem vai precisar ter este trabalho Tyler fará isso por ela. Como me deixei enganar tanto por um humano? Por um sentimento egoísta de conhecer mais além do vasto e grandioso mar.

— você não precisa chorar. — ele passa seu polegar em meu rosto limpando minhas lágrimas que nem sequer senti que caíam.
— iremos resolver tudo isso. Eu ainda sou príncipe deste reino e não deixarei que nada aconteça conosco. — podiam ser palavras bonitas cujas quais eu não senti nenhuma firmeza. E se ele tentasse me enganar como Tyler fez?

A carruagem para repentinamente e ele me olha a essa altura minha cauda já tinha voltado a ser pernas por efeito das pérolas.

— chegamos. — ele avisa e desce primeiro para me ajudar a descer também. De perto o castelo era ainda maior.

— vossa alteza não pretende me manter preza aqui? Não é? — vi seu olhar brilhar em minha direção.

— claro que não. Eu não penso em te manter aqui por tanto tempo assim. — com " tanto tempo assim" ele deu a entender que estava sim pensando em me manter prisioneira. Tudo o que eu não queria.

— pensa em me manter aqui? — ele me olhar enquanto caminhamos para dentro do castelo.

— pelo menos até o rei dar um jeito definitivo em todo esse mal entendido.

— que jeito? Todos alí sabem que não foi um mal entendido. Por acaso pretende matar aquelas pessoas?

— não me entenda mal. Eu só quero garantir a sobrevivência de ambas as espécies. — achei o seu pensamento muito contraditório, como ele iria dar um jeito neles sem os ferir?

Entramos no grande salão de recepção do castelo que conseguia ser ainda mais bonito de dentro brilhante e luxuoso como eu nunca havia visto em toda a minha vida. Mais uma memória bonita para ser guardada, bom pelo menos isso.

— quem é ela? — ouvi uma voz grossa se aproximando de nós. O que me deixou bastante nervosa e apreensiva. — sabes que não pode trazer humanos aqui?

— calma pai. Ela não é humana. — o príncipe seguro de antes agora se mostrava preocupado.

— então o que ela é? — o homem de cabelos grisalhos na altura do ombro e um semblante sério com uma postura firme e intimidadora, me olhava parado a minha frente.

Eu queria mesmo não ter vindo para este castelo. Quem me garante que aqui não será pior do que ter que explicar tudo o que aconteceu a Íris? E pela cara um do outro eu sou mesmo uma intrusa.

— eu não quero atrapalhar, então já vou indo. — digo me virando mas antes mesmo de dar  qualquer passo uma mão segura meu braço.

— nem sequer pense nisso. Você é parte de um segredo muito importante aqui. — disse o príncipe.

— não vai me dizer que ela sabe?

— não só sabe como faz parte do nosso povo.

— não acredito em você. — disse o homem que suponho ser o rei deste lugar já que é pai do Príncipe. — quero provas.

— sempre duvidando de mim, da minha palavra.

— você sempre me deu motivos para não acreditar em você Tristan. — fiquei sem reação ao ouvir seu nome, seria ele o mesmo Tristan noivo de Íris cujo qual eu nunca vi?

— está pálida menina. Não precisa ficar com medo, não vamos te matar, como Tristan gosta de fazer. — eu desvio meu olhar do rei para o príncipe ainda não acreditando se tudo era verdade ou seria só uma coincidência infeliz.

— não tenho que provar nada para vocês.

— ainda por cima é mal criada. — disse o rei.

— vamos fazer um breve teste. Jogue ela no lago. — o rei disse e seu filho sem nem pestanejar segura em meu braço me arrastando para um lago todo  feito de pedra dentro de outra sala.

— me solte, me solte. — meus pedidos de socorro eram em inúteis.

Continua...