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— e Íris já sabe disso? — pergunta Celly.

— Não.

— melhor contar logo.

— contar o que? — Diz Íris surgindo na caverna nos assustando um pouco. Não esperava ter que confrontá-la tão cedo. — vamos digam o que vão contar e para quem? — ela perguntava séria.

— que a Lavínia salvou uma das nossas hoje de uma rede de pesca. — diz Celly tentando a distrair do assunto principal.

— se é isso o mar inteiro já sabe, e também que os marujos estão pensando que fomos nós que matamos um pobre homem. Dias atrás eles nem sabiam da nossa existência e hoje estão a nossa procura. — Íris olhava em minha direção como se soubesse de tudo. — não vais me dizer que tem alguma coisa a ver com isso? — ela me questiona parecendo lembrar de algo.

Fiquei nervosa só de lembrar de todas aquelas vozes insuportáveis gritando "morte a sereia". Tento me desviar desses pensamentos procurando minha melhor resposta para dar a Íris ou contar logo toda a verdade. Que eu bem preferia que ela soubesse pelos atos do próprio noivo.

Talvez ela se importe mais com ele.

Respiro fundo a água.

— vamos Lavínia diga logo. — ela estava impaciente.

— digamos que me envolvi em confusão. — digo meio nervosa esperando ela não se revoltar contra mim.

— que tipo de confusão? — ela pergunta se sentando na beira do chão da caverna. Celly e Liana nós observavam caladas.

— Tyler descobriu que sou uma sereia. — digo de uma vez esperando uma reação negativa dela que até agora se mostrava calma. Calma demais para o meu gosto.

— eu te disse que era perigoso. Mas a culpa disso também é minha por ter insistido que você ficasse mais tempo com o humano. — ela se sentia culpada e com razão. Mas isso foi culpa minha, eu coloquei todos que amo em perigo.

O mar que tanto amo em perigo.

— me desculpe, me desculpe Íris. — digo entrando em desespero.

— calma Lavínia, também não é para tanto. — Diz Celly tentando me acalmar.

— como não é? Todos sabem, e foram gritar "morte a sereia" quando o príncipe me levou para o castelo. — vi Íris mudar sua face de compreendida para chocada, talvez furiosa. Eu sequer conseguia a encarar direito.

— o que? Como assim todos sabem? E você foi para o castelo? — ela pareceu tão surpresa.

— sim o príncipe chegou bem na hora em que Tyler tinha acabado de ligar os pontos. O príncipe gentilmente me ajudou e me levou para o castelo, mas depois  ele e o pai dele queriam me matar na frente de todos que estavam do lado de fora. — as meninas assim como Íris pareciam surpresas e sem nenhuma reação.

— mal consigo acreditar no que você está dizendo. — Íris me encarava ainda sem muitas reações. — por que justo os reis que deveriam proteger todos os cidadãos de Ciano iriam te querer morta? — acho que ela ainda não entendeu.

— eles sabem. — digo em um suspiro pesado. — sabem o que sou, e por isso me queriam morta para mostrar a todos os cidadãos revoltos do lado de fora do castelo. — digo tudo de uma vez e ela me encara com sua face preocupada segurando minha mão.

— sinto tanto por ter feito você passar por isso. — ela diz em um lamento sincero.

— a culpa não foi inteiramente sua, foi eu quem quis subir para a superfície. Foi eu quem escolheu estar no meio dos humanos sem saber suas reais intenções. — digo sentindo uma turbulência estranha na água que não se parecia em nada com a nossa.

— não se Culpe tanto. — disse Li me abraçando.

— vocês não entendem. — digo e ela me solta não entendendo muito o que eu queria dizer.

— eles estão aqui.

— eles quem? — pergunta Íris tocando a água com sua calda devia estar sentindo alguma coisa também.

Mas não sei comigo era diferente, sentia que a morte me perseguia. E isso não era bom.

— os príncipes o rei. — digo inquieta.

— não estou te entendendo sabe que humanos não conseguem respirar de baixo dágua, não sabe?

— Íris eles não são simples humanos, eles são como nós e estão vindo atrás de mim. — digo nervosa.

— calma Lavínia, hoje é noite de lua cheia e dia de maré alta. Então pode ser só por isso a agitação do mar. — ela tentava me acalmar.

E talvez só por hoje eles não venham à minha procura.

— tudo bem. Já que não acredita em mim, melhor irmos dormir não é mesmo meninas? — digo olhando para meu reflexo refletido na água.

— não é isso Lavínia... E só que você veio estranha da superfície desta vez. — e ela queria que eu estivesse como? Acho que ela ainda não entendeu o tamanho do problema que criamos. Ou então deve ter batido com a cabeça em um dos corais para ter perdido sua sabedoria assim de uma hora para outra. Só pode.

— olha íris já estou farta, se não quer acreditar tudo bem não precisa amanhã você verá... — digo deixando a última frase morrer no ar, fazendo ela me olhar confusa sem me questionar mais.

Sem entender o meu tom enigmático e sombrio talvez, ela me deixa sozinha com as meninas. Acho que Íris não entende que corremos perigo.

Eu ía falar alguma coisa quando sinto meu corpo pesando e tudo ficando escuro a minha volta...

Abro os olhos com um pouco de dor pela claridade, sinto todo o meu corpo doer parece que estou pendurada de cabeça para baixo.

— o que está acontecendo? Por que estou pendurada? — perguntei mesmo sem saber se havia alguém no lugar que mais parecia um abatedouro, ao mesmo tempo que escutava vozes agitadas atrás da parede de madeira.

— então a bela sereia acordou? — aquela voz não me era estranha.

Não. Não ele.

me solte. Por favor. — eu me debatia em uma tentativa falha de me soltar o que piorava ainda minha situação. Meus pulsos ardiam pelo atrito com as cordas.

— veja príncipe, agora ela sabe pedir por favor. — Tyler andava de um lado para o outro me olhando enquanto Tristan via tudo sem fazer nada.

— Tristan seu idiota. — cuspi as palavras com toda a dor que sentia.

— por que você está fazendo isso com a sua própria espécie? — Tyler o encarou mas seus olhos azuis continuavam em mim. Toda a sua fúria continuava em mim.

— Lavínia... Acorda... — escutei uma voz familiar me chamando.
— Acorde, acorde Lavínia. — e eu despertei em um pulo tremendo assustada.

Para minha sorte tudo não passou de um sonho bastante real, mas ainda sim um sonho.

— Lavínia você está bem? — ele me pergunta parecendo preocupado.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora