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O mar era nossa arena em meio a destruição causada pela criatura dentro de Tyler, aqui ele não poderia machucar mais ninguém se não a mim.

—  a água está brilhante. — disse encarando a água do mar molhando meus pés. Vi sem baixar a guarda que ele dizia a verdade, a água exibia um brilho surreal.

— não é nada. — digo trazendo sua atenção de volta para mim.

— eles... Eles estão te dando poder não é? — fiquei em silêncio. — vamos responda! — sua voz saiu como uma ordem enquanto ele tentou pegar em meus ombros mas algo fez com que ele me largasse rapidamente chacoalhando suas mãos que pareciam estar vermelhas e quentes.

— você me queimou, sua... Sereia ardilosa.

— bom saber que você não pode mais me tocar. — bom talvez não enquanto eu estivesse dentro do mar.

— não seja tola vou te matar do mesmo jeito. — disse lançando um de seus raios em mim, que foi bloqueado por um escudo luminoso que se projetou em minha frente.

Sua expressão era de puro ódio e desprezo por não poder me partir ao meio alí mesmo. Então ele começou uma série de ataques de raios tempestuosos um atrás do outro contra mim e todos eram bloqueados por uma força externa vívida que me protegia. Que me queria viva.

Vendo que seus esforços eram inúteis parou me encarando erguendo sua mão para mim.

— vai ter que sair daí, e se não saí por vontade própria eu posso dar uma ajudinha. — disse me fazendo flutuar com sua magia para fora da água.

Ele me deixou cair na areia como se não fosse nada, senti meu corpo estremecer com o impacto e com a falta da proteção oceânica. Mesmo assim eu sentia o poder em mim mais uma vez, e eu sabia que não poderia simplesmente o separar do corpo de Tyler como fiz antes com Hertz e o rei.

Era hora do mal ser destruído de uma vez por todas, sem erros ou rodeios. Eu só queria saber como destruir o monstro sem destruir o monstro que me matou sem dó nem piedade.

— sabe o que é mais engraçado nisso tudo? Eu vou ter o prazer de te matar duas vezes com o mesmo humano. — disse se aproximando de mim novamente com seu sorriso de orelha a orelha. Sorriso esse que me causava arrepios.

Vamos Lavínia lute contra ele você é forte vai conseguir.
Cante alto de dentro para fora.

A ultima frase sussurrada pela brisa vinda do mar me fez lembrar minhas origens, quem realmente sou.

Eu sou uma sereia e sereias são seres traiçoeiros, podemos enganar qualquer um que nos perturbe.

Era isso!

Somos capazes de encantar até os seres mais imundos e de corações escuros como o dele.

Levantei graciosamente sem quebrar nosso contato visual, Tyler ainda era humano e não estava completamente dominado pelas trevas então eu conseguiria fazer ele se encantar por mim facilmente para realizar o que tenho em mente.

— o que pensa que está fazendo? — perguntou tenso e imóvel.

— apenas escute a minha voz.

— não! — disse tapando seus ouvidos com as duas mãos. — eu não vou cair nesse truque. — sua negativa só me instigava ainda mais, era o sinal de sua fraqueza.

— venha comigo! Eu vou te libertar. Não é isso o que sempre quis, ser livre? — digo enquanto caminho para trás em direção ao mar.

Vi seus sentidos sombrios relutando em me seguir, sem sucesso. Seu corpo agora era da minha voz, do meu encanto e me seguiria onde eu ordenasse.

— pare! Por favor pare! — pediu quando a água lhe atingiu o meio da cintura e de alguma forma lhe causava dor.

Dor essa que não deve ser nem a metade da dor que ele causou as outras pessoas.

— não sabia que demônios pediam por favor. — sorri vendo suas expressões de raiva e desprezo.

— você é desprezível! — disse sendo totalmente coberto pela água.

Agora estávamos onde eles queriam, o que ele parecia detestar por não estar conseguindo respirar com a pureza da água e o bem que ela parecia querer lhe impor. Ele abriu seus olhos furiosos segurando o ar o máximo que podia, sabendo que morreria em breve. Não pela falta de ar e sim pela força luminosa exercida pelo mar e algumas sereias que se juntaram a mim em um círculo a sua volta.

Nossa aura mágica e luminosa expulsava as sombras de dentro do humano Tyler e os separavam por completo. De um lado estava Tyler de olhos abertos parecendo não acreditar no que via nadando para longe de nós, e do outro estava o monstro sombrio preso dentro do nosso círculo mágico. Seu ser não tinha corpo era apenas uma bolha enorme de fumaça preta que tentava a todo custo sair do círculo.

— vamos acabar com ele. — disse a sereia ao meu lado.

Então começamos a cantar nadando para mais perto diminuindo e estreitando o escudo. Vi seus olhos amarelos e brilhantes presos em mim, de repente imagens estranhas de um homem e uma mulher se projetavam em minha mente com um bebê no colo. Eu era o bebê.

Se concentre! Isso é apenas um truque para te enganar.

Balanço minha cabeça na intenção de fazer as imagens pararem de entrar. A voz tinha razão aquilo era só um truque barato, usar minha família para escapar de seu fim.

O mar é seu lugar
A luz vai te guiar!

— pare com isso. — gritou atordoado.

Do amor você não entende
E isso vai te arruinar!

Lua que brilha no céu
E reflete no mar
Nos dá poder agora
Para com ele acabar!

Cantamos em coro recebendo o máximo de poder que conseguimos conduzir e mandamos para dentro do escudo fazendo a nuvem de trevas e escuridão gritar de dor explodir em filetes de luz irradiando para todo o mar. Fechei os olhos um breve instante por causa da luz intensa e vi meus pais sorrindo para mim, o que fez meu coração saltar de saudades e tristeza mesmo assim foi algo bom.

Quando abri os olhos não havia mais nada a nossa frente mas o escudo ainda estava lá para garantir que nada restasse daquele ser de pura maldade. Olhei para minhas amigas sereias verificando se estavam bem e quando voltei a olhar para frente o escudo tinha desaparecido por completo.

Enfim tínhamos derrotado as sombras mesmo ainda estando com a sensação de estar esquecendo de alguma coisa ou alguém.

A lembrei, Hertz e toda a sua falsa maldade.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora