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— me desculpe se te assustei. — Troy mantinha seus olhos presos em mim. — é que você parecia muito assustada em seu sonho que decidi te acordar.

— calma, ninguém me seguiu até aqui. — disse olhando para os lados, notando meus pulsos machucados.

— quem te fez isso? — disse segurando meus pulsos.

— o que você está fazendo aqui? — acho que fui grossa. A presença dele aqui representava um grande risco para nós, para mim.

— você ainda não me respondeu. Quem fez isso com você? — disse sem tirar seus olhos brilhantes dos meus pulsos queimados pelas amarras em meu sonho.

— eu não sei. Acho que foi só um sonho.

— sonhos não deixam marcas deste tipo. — ele me olha furioso. — eu vou matar quem fez isso com você.

— seu irmão estava no sonho pode começar por ele se quiser. — nem que eu explicasse mil vezes ele entenderia que o maldito sonho foi apenas uma das versões do que pode ou não acontecer.

— olha me desculpe. Nunca imaginei que ele iria agir assim com você. — ele suspira pesadamente encarando minhas mãos.

— acho que você não tem culpa. A culpa é só minha, sempre foi.

— não. Não é. — disse me abraçando. — sabe Lavínia temos que sair daqui, vamos fugir? — sussurrou em meu pescoço me causando um arrepio.

— para onde? — sussurro de volta. Ele parecia tão imerso e perdido quanto eu. Nunca imaginei que um dia precisaria fugir da minha própria espécie. Tristan com aqueles olhos azuis hipnotizantes conseguiu enganar a todos.

— eu não sei, só não podemos ficar aqui. — ele me encara. — ou você quer ser pega?

— talvez isso seja o melhor para todos. — isso acabaria logo de uma vez.

— não diga isso. Eles não irão se contentar só com você. — disse alisando meu rosto. —  eles já sabem que existem mais de nós.

— eu sei, eu seria só o começo. Maldito o momento em que decidi conhecer a superfície. — desvio meu olhar para o lado.

— ei, calma iremos dar um jeito. Tudo bem? — concordo e ele olha fixo em meus olhos e me abraça.

Como se o seu abraço fosse resolver tudo. Não iria mas pelo menos era reconfortante.

— e para onde vamos? — digo pulando na água. Ele pareceu pensar por um instante.

Eu sabia que no grandioso e cheio de vida mar de Ciano só havia um lugar onde ninguém humano ou sereia arriscaria pisar. Era improvável Troy querer ir justamente para as ilhas e cavernas dos primeiros patriarcas do reino marinho, onde era proibido qualquer outro ser que não fosse escolhido por eles entrar em seu santuário.

— você não está pensando em ir para Cianeto, Está?

— talvez seja nossa única saída.

— sabe dos riscos não é? poderíamos não ser bem aceitos ou representar um perigo maior para eles.

— eu sei. Mas isso é um risco que devemos correr, só não se sinta pressionada. Não vamos fazer nada que você não queira. — disse da maneira mais compreensiva possível. Seu rosto estava calmo e se não fosse pela pressa que o momento exige eu daria um beijo nele.

Pensei um pouco, nadando de um lado para o outro. Claro seria perigoso como tudo em Ciano  estava sendo até o momento.

— você não precisa ir comigo. — digo vendo sua face ainda mais preocupada.

— não preciso. Mas eu quero.

Ele se aproxima de mim para um abraço. Não nos restava muito tempo, cada minuto parada aqui sem fazer nada é um minuto à mais que Tristan e os outros ganham para me caçar.

— eles não vão te pegar, eu não vou deixar. — ele me beija sutilmente.

Acabamos o beijo com Gim aflita rodopiando a nossa volta. Eu podia sentir o medo do perigo emanando dela. E cada vez mais perto, precisávamos ir e rápido até Cianeto.

...

Seguimos nadando nas partes mais remotas e profundas do grande mar de Ciano. A escuridão do mar se intensificava cada vez mais indicando que estávamos perto.

Ouvi dizer que Cianeto era como o paraíso, e para alcançar o paraíso primeiro teria que enfrentar o inferno e suas criaturas. No caso de Ciano não era diferente, o escuro era a força mais poderosa de todo o mar. Não sabíamos o que iriamos realmente encontrar, era no escuro que se escondiam as criaturas mais improváveis e perigosas.

Paramos em frente a parede sombria que nos separava de nosso futuro refúgio. Só seres de coração puro e mente forte conseguiam atravessar a parte mais impenetrável do mar, sem ser corrompidos por seres que habitam este lugar.

Olhei para Troy buscando algum resquício de desistência mas seu olhar era firme e determinado. Ele estava fazendo isso por mim e eu fazia por ele. Pelo simples fato de não querer ver ele chorar por mim. Demos nossas mãos e tomados por uma onda de coragem entramos na escuridão.

O escuro era denso, frio e assustador.

Vozes e sussuros ecoavam por toda a parte chegando aos nossos ouvidos, era agoniante. Havia muita dor dentro desse lado do mar.

Eu não estava conseguindo ver muito bem, tudo era vulto até enxergar um ponto luminoso nadando à nossa frente.

Era Gim.

Ela nos guiava pela imensidão sem cores. Não entendi muito bem por que ela conseguia brilhar se não era um peixe de luz. Deve ser a pureza do seu coração de tartaruga.

Olho para o lado enxergando apenas a silhueta pouco iluminada de Troy, ele parecia calmo, mesmo assim consegui ver um brilho estranho no canto de seu olho, parecia ser uma lágrima. Lagrimas eram raras e quase imperceptíveis, alguma coisa devia estar errada com ele e eu tinha a impressão que logo descobriria.

Voltei a olhar para frente e o brilho iluminado havia se intensificado e nele eu conseguia ver o exato momento em que eu era pega por Tyler e Tristan, os dois estavam me segurando em praça pública no meio dos cidadãos de Ciano que gritavam alguma coisa inaudível. Eu sentia medo, e pavor. O brilho e a fúria vinda daquelas pessoas me faziam tremer e gritar sentindo toda a dor de ter uma faca arrancando minhas escamas e perfurando o meu corpo lentamente. Ver todo aquele sangue me deixou em pânico.

Só consegui ver o brilho ainda mais forte levando a dor embora.

Era Gim, me fazendo acordar dos traumas da escuridão.

O mar de sombras sentia dor, e tudo que estivesse em contato com ele também sentiria.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora