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Celly e Liana tiveram uma discussão feia a meu respeito. Eu estava errada sobre ela que queria mesmo me entregar então achamos por bem manter-lá presa por um tempo até termos um plano melhor para ajudar as sereias de ciano a se livrarem do grande mau que lhes rondavam.

Os humanos.

- vocês não podem me manter presa aqui!

- não seja tola é claro que podemos.

- Íris não vai gostar nada de saber que você está me mantendo presa aqui.

- o que disse?

- ah, você não sabe? Não contou pra ela Liana?

- contou o que? - dividi meu olhar entre uma Li tensa e preocupada e uma Celly que mesmo presa parecia triunfar sobre minha falta de informações.

- íris está com Tristan no castelo de Ciano.

Mal consegui acreditar que ela me trairia de novo por Tristan. E agora não só a mim como também seu próprio povo. Vejo que não tenho muito em quem confiar.

Os planos dos antigos não incluíam lutar contra sua própria espécie, mas diante disso não temos outra alternativa. Ela já escolheu seu lado, sempre preferiu Tristan a nós.

- isso é só mais uma prova de que ela não fará nada por nós, nem por você. - digo e Celly parece cair na realidade.

- está errada Lavínia. Ela não seria tão burra assim!

- a é? E de quem foi a ideia de conquistar o humano? Quem ajudou Tristan a me descobrir mais rápido? - isso eu não sabia se era verdade mas eu queria pressionar ela de algum jeito. - Não seja tão tola Celly, Íris está deslumbrada com todo o poder que um príncipe real pode lhe oferecer e é óbvio que ela não se importa nem um pouco onde você está ou com quem. - ela divide sua atenção entre mim e alguns peixes que nadam a nossa frente. - nem pense nisso.

- ah Lavínia todo esse seu sermão me deu fome. - disse tentando pegar um peixe com sua boca já que as mãos estavam amarradas.

Quando ela finalmente conseguiu pegar um e eu senti o cheiro de sangue na água algo dentro de mim parecia se revirar. Parecia querer aquele peixe um ser vivo tanto quanto ela. Eu estava entrando em colapso e Celly parecia se divertir com isso ainda bem que Troy chegou a tempo de impedir que eu fizesse algo que eu com certeza me arrependeria. Ele tinha saido bem cedo a procura por notícias do que estava acontecendo em Ciano e pela cara dele as notícias não eram boas.

- e então?

- o reino está um caos. Os marujos e os cidadãos só pensam em caçar sereias e estão nesse momento se organizando para uma pescaria. - disse aflito.

- está vendo Celly? O que eles querem é apenas a nossa extinção. - digo entendendo a gravidade da situação.

Nesse momento eu não sabia se conseguiria esconder meu retorno pois eu só pensava em evitar possíveis mortes ao nosso povo.

E eles? O que você fará com os que vão te atacar? - perguntou uma voz estranha dentro da minha cabeça. Isso eu descobriria, aquele povo não teve dó de mim e nem teriam.

- e então o que faremos? - Liana nadava inquieta de um lado para o outro.

- me solte, por favor não me deixe aqui! Eu ajudo vocês!

Celly implorava e mesmo assim eu não conseguia deixar ela ir. Nossa confiança nela foi quebrada. E agora o que importava era impedir que mais sereias fossem mortas cruelmente por pessoas que não entendiam que nós não iriamos fazer nenhum mal para eles, só queremos viver em paz.

Eu acabei com a paz e foi dado a mim uma nova chance de a restaurar.

- vamos avisar as sereias que não fiquem muito na superfície da água e claro poderíamos cantar mas isso acabaria com a vida desses reles mortais.

- depois de tudo que eles fizeram com você ainda pensa em poupar suas vidas miseráveis? - Celly me encarava incrédula.

- não precisamos ser como eles mesmo que essa seja parte da nossa natureza.

...

Já tínhamos avisado boa parte da população marinha de Ciano para ficar longe das margens, e como estávamos escondidos atrás de alguns rochedos podíamos observar toda a movimentação dos barcos de pescas. Dava para ver que dois dos barcos eram do reino pela coroa com duas caldas de peixes sobrepostas entalhada no casco das embarcações.

Era nítido o quanto o rei odiava ser parte peixe, ele preferia se aliar aos humanos a ser algo bom para ambas as partes.

Com a calmaria do mar os barcos se aproximavam cada vez mais, então decidimos tornar as coisas mais emocionantes. Bati minha calda na água algumas vezes para formar ondas e chacoalhar as coisas para eles, uma pequena turbulência atrasaria seus planos.

Isso até ver íris em um dos barcos com Tristan olhando em nossa direção. Como ela pode trair sua própria espécie dessa maneira a ponto de vir pessoalmente para nos caçar?

E sem perceber acabo aumentando os movimentos e virando duas das embarcações deles lançando seus homens ao mar. Não era o planejado mas a corrente levaria todos vivos ou mortos até a praia.

- não precisava ter feito aquilo.

- realmente não precisava, mas vocês viram o mesmo que eu vi?
Ela estava com ele como se tudo que ele fez a mim não tivesse significado nada. - digo vendo eles se jogarem ao mar para ajudar os humanos e desejo que eles vejam suas caudas contudo estão cansados demais para lembrarem disso.

- tudo tem uma explicação. - Troy sabia de algo que eu não sabia. - ela não precisava ter se juntado ao meu irmão para nos caçar.

- ela sabe que estou viva? - Troy desviou seu olhar de mim para Liana. - vamos me responda!

- eu não sei.

Era hora de uma visita a Íris e eu iria mesmo que isso significasse estar a mercê daquele reino outra vez.

Continua...

As Sereias de cianoOnde histórias criam vida. Descubra agora