Bad Liar

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Aquela havia sido a camisa mais cara que já comprara na vida. Costumava garimpar na Saks quando precisava de alguma roupa nova, sempre encontrando boas promoções de coleções passadas, mas dessa vez precisava impressionar de verdade. Dessa vez permitiu-se, com seu melhor sorriso, ir atrás do famoso paitrocínio e ganhar uma ajudinha extra com uma peça recém lançada.

Ajeitou os botões das mangas da Yves Saint Laurent Ethnic Jacquard quase branca e logo depois deu uma última checada na gola pontiaguda através do espelho do elevador. Nunca esteve tão elegante. Era como se estivesse prestes a se encontrar com Anna Wintour, quando na verdade era uma vaga para ser assistente sênior em uma grande empresa coreana de objetos eróticos caros e sofisticados. Bem, ambos os públicos-alvo faziam parte da mesma classe social, não faziam? E moda e sexo não eram ambos prazeres? Seu raciocínio retrocedia a cada novo ano que envelhecia. Sentia-se como Benjamin Button de vez em quando.

Riu consigo mesmo e abaixou o olhar para a pasta transparente nas mãos, onde seu currículo impecável estava pronto para ser lido. Precisava confessar que era um currículo impressionante, principalmente a última seção que apresentava suas capacidades poliglotas. Era fluente em quatro idiomas com apenas 24 anos vividos. É claro que cresceu ouvindo inglês e coreano nas mesmas proporções, então o aprendizado fora natural, mas japonês e chinês? Nem todo mundo, certo? Sem contar que entendia um pouco de espanhol. Incapaz de se comunicar, mas se alguém surgisse na sua frente gritando por socorro, ele entenderia.

Costumava ser modesto, mas quando se tratava de seu intelecto e de suas notas máximas na universidade, não havia porque fingir que era um acaso do destino. Gostava de estudar e tinha facilidade para o aprendizado. Já estava cansado de ouvir os colegas choramingando "Ah, Noah, como você consegue ser tão inteligente e esperto? Vai ser o próximo Lee Soo Man!". Era o único empresário coreano que eles conheciam, fazendo-o rir ao se imaginar administrando grupos de k-pop e tendo ideias desastrosas. Não, definitivamente não era sua área. Era inteligente e esperto, mas para determinados campos de atuação, como qualquer outra pessoa.

E o campo erótico definitivamente era uma das suas melhores áreas, apesar de nunca ter oficialmente trabalhado com algo do tipo. E era por isso que havia decidido arriscar e surgir na entrevista de uma vaga que exigia muita experiência sem ter experiência alguma no ramo.

Assistente sênior do CEO de uma empresa de brinquedos eróticos. Sem nunca nem ter vendido um vibrador na vida.

Riu mais uma vez, sempre ria quando ficava nervoso.

Já havia usado boa parte dos vibradores no mercado. Era um jovem de vida sexual muito ativa, era como um passatempo para si. Assim como ler um bom livro japonês ou comer um bom pedaço de torta de maçã na sua confeitaria favorita do Soho.

Noah Byun sabia fazer sexo. Tomava todas as precauções, era bem seletivo e até bem exigente. Então ele sabia falar sobre o assunto. Sabia o que era prazer sexual, assim como sabia que era difícil fazer uma torta de maçã bem feita ou escrever um romance intrigante.

Poderia, portanto, dizer que estava bem confiante. Não se sentiria intimidado por um homem importante e exigente, e não pelo fato de ser coreano assim como ele. E sim porque provavelmente entendia mais de sexo do que ele, que tinha o dobro da sua idade.

As portas do elevador se abriram e logo notou que o andar inteiro era reservado apenas para a administração da empresa. Havia uma própria recepção envidraçada, lhe dando até um pouco de náusea ao notar Manhattan enorme lá embaixo.

Ser nova iorquino não lhe garante imunidade alguma à medo de altura. Até porque só havia subido no Empire State uma vez na vida.

Identificou-se para a secretária também asiática – seu crachá só dizia "Emma", sem sobrenome algum para que Noah se orientasse. Ela lhe pediu que aguardasse em um dos sofás majestosos de couro negro enquanto informava James Park, o CEO importante e exigente, de sua chegada.

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