What 2 Do

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Escorregadio. Deveras escorregadio. E era óbvio que não esperava por isso. Na verdade, nem havia parado para pensar na questão antes de revirar seu closet e desenterrar o único calção da Nike que sua mãe, numa tentativa falha de incentivá-lo a ser mais esportivo, havia lhe presenteado no Natal passado.

E, desatento como era, nem se deu conta de que deveria ter experimentado a roupa completa antes de colocá-la na bolsa para usar no final do dia. Agora, parado na frente do espelho do vestiário masculino da academia que os Park frequentavam, percebeu que o calção era escorregadio, confeccionado em dri-fit, e um pouquinho apertado. Não a ponto de ficar ridículo, mas a ponto de ter notado que havia engordado desde o Natal passado.

Virou o corpo de costas e encarou a bunda marcada no tecido cinza escuro, que acabava na metade das coxas brancas e gordinhas. Pelo menos estava gostoso. Nada fitness, nada esportivo. Mas um pedacinho de mal caminho. Riu consigo mesmo e acabou se distraindo com o próprio corpo – era o que acontecia quando havia um espelho disponível – e só percebeu Charles atravessando o vestiário quando ele colocou a bolsa grande de academia em cima do sofá em frente aos boxes dos chuveiros. Pulou, abaixando a camiseta rápido.

- Não está acostumado a usar esse tipo de roupa? – O mais velho perguntou e Noah notou que havia um discreto sorrisinho de canto ali. Pigarreou, se aproximando e cruzando os braços.

- Nunca usei nada próximo a isso antes, senhor Park. – Noah respondeu, o observando retirar suas próprias roupas da bolsa. - É a primeira vez que visto, e minha mãe acertou meu número ano passado. Só que eu engordei.

Charles virou o rosto por um segundo e encarou as pernas semi-descobertas do garoto dentro do calção. Voltou imediatamente a atenção para sua bolsa, pigarreando.

- Não está tão ruim assim.

- Oh, não. Estou bem bonito. Mas é sempre bom usar o nosso número pra não parecer que pegou a roupa do irmão.

O chefe riu baixo, começando a se desfazer do terno.

- Sou o maior entre meus irmãos. Nunca passei por isso.

- É, já notei – Noah respondeu um tanto sem perceber, assistindo o chefe se desfazer do terno e seu perfume já gasto por ser final de dia mesclado com seu cheiro natural chegar em suas narinas.

Hmmm.

Oh, céus. Ele começou a se desfazer da roupa, concentrado em seu próprio mundo no qual precisava tirar toda a roupa do trabalho e vestir o traje da academia. Noah percebeu que poderia parecer meio doentio, parado ali o encarando, então se virou de costas e voltou para perto do espelho, onde também havia uma bancada de mármore e algumas cadeiras, e mais para o lado as pias.

Ainda dava para observar Charles sem se virar, é claro, através do espelho. Disfarçou um pouco, olhando para o celular que havia tirado do bolso, e então levantou de vez o rosto e o assistiu tirar a roupa. Desabotoou a camisa branca com cuidado – deveria ser caríssima – e suas costas largas e bronzeadas se fizeram visíveis.

E nelas, para o espanto do mais novo, havia uma tatuagem imensa. Era uma roseira que contornava todo o lado direito, rosas vermelhas e folhas verde-escuras mesclando-se em um mar de linhas revolto. No topo, perto do ombro, uma caveira surgia por entre as pétalas. Era a tatuagem mais bonita que Noah já havia visto na vida.

Os lábios separados e os olhos arregalados denunciavam sua reação. Seu coração batia forte dentro do peito por inúmeros motivos. Aquela tatuagem revelava muito sobre Charles, e ao mesmo tempo não revelava nada. Mas mostrava a Noah que aquele homem tinha uma história e que ele não fazia a mínima ideia de como era.

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