Don't Hurt Yourself

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Nunca havia trabalhado tanto como naquela semana. Seu chefe havia lhe pedido para chegar uma hora mais cedo todos os dias, e acabava sendo um dos últimos a deixar o escritório, bem depois do sol se por. Era uma daquelas semanas que corria pela cidade atarefado, comparecendo a reuniões menos importantes para que o chefe pudesse comparecer às mais relevantes. Descontando, é claro, as tarefas relacionadas à vida pessoal do chefe, como levar seus ternos para a lavanderia ou acompanhá-lo até a academia – era um homem de idade e precisava de alguém para carregar suas coisas e ajudá-lo a se organizar.

Seu emprego era uma mistura de administração pessoal e profissional da vida de seu chefe, e estava gostando bastante. Havia nascido para organizar e administrar, e ter o poder de organizar a vida de alguém importante fazia seu ego profissional bater no teto.

O único problema era que, durante o dia, não estava tendo muito tempo para fazer refeições completas. Só conseguia comer enquanto andava pela rua, usava o metrô ou dirigia, e enquanto você está se movendo desse jeito, é impossível fazer uma refeição bem feita. O máximo que conseguia comer eram sanduíches, mas às vezes não tinha tempo para parar em algum lugar e comprá-los, então no final do dia chegava em casa fraco, cansado e com a barriga roncando.

O que aconteceu naquela tarde de sexta-feira não havia sido sua culpa, mas odiou-se por ter passado por aquela situação na frente de Charles Park. Havia sido uma situação desconfortável e estranha para se passar na frente de alguém que você não tem muita intimidade e, acima de tudo, alguém que você não gostaria de mostrar defeitos. Noah não queria mostrar-se vulnerável na frente de Charles porque ele era o responsável por sua vaga na empresa, e, para si, era essencial mostrar-se eficiente o tempo inteiro. Assim, sempre era capaz de garantir que aquela oportunidade cedida tinha valido a pena.

Era um perfeccionista, afinal de contas.

Seu chefe, o CEO da empresa, havia utilizado – como sempre – o telefone que conectava seu escritório do escritório de Noah para lhe pedir que entregasse a Charles alguns documentos relacionados ao seguro de um dos carros que possuíam. Não soube entender direito se o que aconteceu foi a alimentação precária, que levou à pressão baixa, ou fato de estar sentado por muitas horas... mas o que aconteceu foi que Noah cruzou o corredor, estava prestes a atingir a sala de Charles quando sentiu-se extremamente tonto e fraco. No mesmo instante Charles estava saindo de dentro de sua sala e viu tudo. Noah fechou os olhos por um momento e se apoiou na parede, sentindo tudo girar à sua volta.

- Noah!

Se não estivesse passando mal, teria subido pelas paredes. Charles, no impulso do susto por vê-lo naquela situação, esqueceu-se de chamá-lo pelo sobrenome e se aproximou dele, imediatamente colocando uma mão em suas costas.

- Noah... o que houve? Está bem? – Ele perguntou, a voz grave e num tom extremamente novo atingiu um Noah desorientado mais para baixo, que separou os lábios secos para falar.

- Sim... sim senhor, apenas uma tontura – explicou-se, sua voz mais fraca e num volume bem mais baixo. Charles o observou por alguns segundos, ainda lhe dando apoio nas costas, parecendo tentar decifrar o que estava acontecendo.

- Escute... você está usando seus horários de almoço para comer? Sabe que você tem direito a uma pausa, certo? Das 13h às 14h?

- Sim senhor, não tenho muito tempo, mas...

- Não tem tempo? Mas é o seu tempo! Meu pai não pode usar o seu tempo para lhe dar tarefas... tudo bem. Vem comigo, você está branco.

Noah o encarou muito confuso, os olhos espremidos, e sem ter muita escolha o acompanhou até sua sala. Charles abriu sua porta e a fechou logo em seguida, sempre com uma mão em suas costas para lhe dar equilíbrio. O conduziu até uma das poltronas em frente à sua escrivaninha e o sentou ali.

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