Earned It

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Descobriu que Charles Park era muito bem casado na segunda semana de assistente sênior. Depois do fora do século, que ainda o deixava constrangido apenas por lembrar, decidiu seguir com o seu trabalho como se o homem não existisse. Só existiria se lhe pedisse algum favor, o que não aconteceu por duas semanas inteiras. Mal o via, na verdade. No horário que Noah chegava, ele já deveria estar dentro de seu escritório e lembrava de tê-lo visto apenas durante suas pausas para o almoço. Quando ia embora, Charles Park já havia ido para sua casa.

Estava relendo alguns documentos do chefe por ordem do próprio, era o que costumava fazer quando não tinha tarefas na rua. Ficava sentado em seu pequeno escritório auxiliando o chefe não só em questões empresariais mas também em questões pessoais, como organizar melhor seus horários e compromissos. Recebia muitas ligações, qualquer pessoa que precisasse entrar em contato com James Park se comunicava primeiramente com Noah, que encaixava qualquer que fossem as reuniões, encontros e compromissos do chefe em seu cronograma.

Estava se saindo muito bem, para falar a verdade. Era extremamente eficiente, o que fazia seu chefe sempre fazer questão de elogiá-lo quando executava, com êxito, alguma tarefa um pouco mais complicada. Aquele era o emprego dos sonhos para muitos, Noah tinha plena consciência disso. Portanto, dar o máximo de si em qualquer aspecto em jogo era seu principal lema. E estava tendo muito sucesso seguindo seu principal lema naquele primeiro mês.

As três batidas ansiosas o fizeram pular na cadeira. Ele murmurou um "sim?" educado, percebendo que não era o senhor Park mais velho, porque o chefe nunca costumava aparecer fisicamente por ali. Se comunicavam através do telefone interno e era sempre Noah quem entrava no escritório maior, o CEO nunca havia aparecido no seu. Por mais que os escritórios fossem um em frente ao outro, o chefe fazia com que Noah tivesse seu próprio espaço e se sentisse confortável.

A porta se abriu e Noah observou o homem alto e grande caminhar até sua escrivaninha, a mesma expressão entediada de sempre. Segurava uma pasta nas mãos enormes com veias visíveis. O garoto suspirou, sentindo o estômago arder. Não queria interagir com ele, não queria levar outro fora e se odiar por continuar o achando o homem mais atraente que já havia visto na vida mesmo depois do constrangimento.

Charles pigarreou, largando a pasta em uma parte vaga da superfície da mesa de Noah. O garoto observou a mão com a aliança claramente cara e voltou o olhar para cima.

- Quando tiver tempo hoje, faça três cópias de cada folha e me entregue no meu escritório. Não vou sair de lá até a noite. E só quando tiver tempo, as tarefas do seu chefe são prioridade.

Noah não pode nem abrir a boca para murmurar uma afirmação. Ele lhe deu as costas e bateu a porta. O rastro de perfume chegou até as narinas do garoto e ele engoliu em seco. Não havia janelas no pequeno escritório, o que significava que teria de respirar o ar com aquele perfume maravilhoso pelos próximos minutos.

Por que aquele homem era tão tenso, o deixando igualmente tenso? E custava pedir com mais bondade? Talvez até perguntar como tudo estava indo, já que não se falavam desde o primeiro dia?

Já havia conversado diversas vezes com Kai e Simon pelos corredores, ambos muito simpáticos e prestativos. Sempre perguntavam como Noah estava se adaptando e se precisava tirar alguma dúvida, pois o pai era quem tinha sempre a agenda mais lotada.

Por que Charles também não poderia ser assim? Será que o problema era Noah? Será que ele era normal com as pessoas, e apenas com ele tinha algo de errado?

Precisava fugir daquele perfume, e a única desculpa para sair do pequeno escritório sem janelas era ir fazer as cópias que Charles havia pedido. Suspirou, dando-se conta de que não era uma boa ideia fazer isso enquanto ainda estivesse lá dentro, e pegou a pasta nas mãos. Saiu de sua sala e atravessou o corredor dos escritórios, passando pelo saguão principal do andar e indo parar do outro lado, onde as salas funcionais se encontravam – como a sala de cópias, de arquivos, de produtos sendo estudados e até uma cozinha para que todos daquele setor mais superior usassem. Era uma bela cozinha para um escritório, Noah adorava ter de ir ali buscar chá e biscoitos para as visitas do senhor Park. Não é todo dia que você tem motivos para circular por uma cozinha de gente rica, certo?

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