Feldblume e Ciúmes

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– sentiu saudades? Feldblume. Vejo que não mudou em nada desde a última vez em que nos vimos.– soltou lentamente o outro. Yuuri se virou, seus olhos ficaram maiores com a surpresa.– surpresa!

– Albert!– gritou animado, faziam anos que não via o modelo alemão – a quanto tempo, não deu mais notícias desde Milão. Como tem estado?

– levando a vida como dá – brincou coçando a parte de trás da nuca, uma mania notável. O sotaque forte arrastava na língua natal do nipónico, para ele aquele idioma era bem difícil, mas como iria trabalhar naquele país pelos próximos meses nada melhor do que praticar com alguém já conhecido. O moreno levantou uma sobrancelha, conhecia esse movimento; ele não estava satisfeito com a resposta– é sério! Desde Milão eu tô trabalhando que nem um louco para cumprir alguns contratos. Até hoje não sei se ter ficado famoso naquele desfile foi bom ou ruim, não tenho tempo nem de coçar o c…

–não precisa continuar!– o cortou, prevendo o palavrão que viria. Conhecia a língua solta de Albert Petrus Strauss e não estava a fim de entrar em mais uma situação constrangedora por culpa dela e de seu dono nada discreto!

– por que?– a carinha de confuso do de cabelos claros passaria como fofa se o asiático não soubesse que era falsa, aquele cara era um ótimo ator. Os olhos escuros foram para as mãos do moreno, mais especificamente para as bebidas nelas– está acompanhado?– Yuuri pareceu processar a pergunta antes de se dar conta de o que foi fazer dentro da casa. Como pode ter esquecido de Victor?!

– ah!– o som saiu involuntariamente de seus lábios quando puxou o ar com rapidez – sim, estou!. Venha comigo, já demorei demais aqui!

***

Victor observava as estrelas ralas que despontavam no céu da madrugada, pensando em tudo e pensando em nada ao mesmo tempo. Tentava se encontrar a atual circunstância, ele e Yuuri eram o que afinal? Namorados? Noivos levando em conta o passado e o desejo de seus pais? Simples amantes? Ou apenas pessoas que compartilharam de um leito, mas que não duraria muito e logo cada um iria para o seu lado. Queria muito que a última opção não existisse, mas estava na lista de incertezas de sua cabeça paranóica e era alimentada por sua frustração de não ter conseguido tocar no assunto nos dias que ficaram juntos. Mesmo com todos os olhares admirados, gestos de carinho e a entrega de Yuuri, seu coração e sua cabeça ainda tinha dúvidas profundas sobre o ômega, afinal, não se conheciam direito.

Seu coração podia estar entregue, mas sua cabeça ainda não tinha ido a nocaute.

Uma taça com um drink colorido foi estendida à frente de seus olhos, e logo ao lado, um doce e belo sorriso era oferecei para si, retribuiu o sorriso e se endireitou no banco, aceitando a taça. Quando Yuuri sentou-se ao seu lado, pode ver o acompanhante que o seguia. Era alto, do mesmo tamanho que o Nikiforov, cabelos claros até um pouco acima dos ombros, olhos negros parecidos com os de Otabeck _ porém não tão sério ou ameaçador quanto o alfa _ tendo um brilho divertido ocultando outros sentimentos. As vestes não deixavam muito a vista, mas por suposição, diria que era magro e malhado. O sorriso que era dirigido ao russo não o agradava e muito menos quando o olhar do estranho mudou levemente quando pousou uma mão na perna de SEU ômega _ num ato de pura possessão.

– Victor, este é Albert. Um amigo que conheci num desfile em Milão – a animação do nipônico era genuína, o que não agradava ao platinado.

– Prazer, Nikiforov – não houve necessidade de Victor se apresentar, o modelo o conhecia muito bem por seus trabalhos e manchetes que lia quase que diariamente. Uma mão foi estendida e foi aceita pelo outro, mas o cumprimento recebeu uma força excessiva – nossa, você é realmente mais forte do que aparenta – riu.

Uma conversa seguiu, amena, porém regada de indiretas de ambas as partes. Yuuri, apesar de participar da conversa, ficava mais calado e solvendo de sua bebida enquanto prestava atenção no clima ao redor. Não era bobo para não perceber que Victor estava com ciúmes _ a prova era o braço em sua cintura, que não permitia que fosse a lugar algum e que apertava a cada vez que o alemão lhe dirigia a palavra. Não sabia se comemorava isso, por que era uma prova do interesse do alfa em si, ou de ficava com raiva por estar sendo tratado assim; como uma propriedade.

Já Albert, como todo bom cão farejador, a partir do momento em que tocou em um assunto complicado para o russo, a relação com Yuuri e suas intenções, continuou a insistir naquele ponto, vendo o quanto irritava o outro e adorava isso. Adorava provocar. E amava quando tinha retorno. O platinado era o tipo de pessoa que mais adorava, o tipo incerta e insegura que mantinha uma máscaras de forte e sóbrio sobre tudo. E odiava isso ao mesmo tempo que amava.

Sim, era complicado. E ao mesmo tempo simples.

Em um dado momento, um tailandês animado demais _ como sempre _ se jogou nos ombros de Albert e o arrastou para dentro da festa, alegando que este estava sóbrio demais para o gosto do anfitrião e não se importando com o esperneio do mais alto. Yuuri, após engolir o líquido restante num só gole, se pronunciou.

– posso saber o por que desse ciúmes todo?– a pergunta era franca, sem rodeios e foi feita sem que tivesse uma troca de olhares, o moreno continuava a olhar para frente.

– Não é nada disto Yuuri…

– eu não sou cego para não ver que você estava quase pulando em cima dele!– o platinado se manteve calado, estava errado de qualquer forma ou razão. Yuuri suspirou ao seu lado, aliviando a tensão. – Vamos pegar outra bebida.– se levantou e puxou o outro pela mão, o obrigando a acompanhá-lo – não precisa ter ciúmes, Victor, não existem outros braços para mim além dos teus.

***

Observavam do bar a festa se desenrolando na pista de dança, o ômega sentado sobre o colo do alfa como se ninguém estivesse olhando _ o que era em parte verdade por estarem quase todos na pista de dança ou bêbado demais para levantar a cabeça. Tinham acabado de sair da pista, tinha dado outra canseira no platinado com ajuda das músicas eletrônicas e remixes do DJ que tinha acabado de assumir. O clima tenso do jardim finalmente deixado para trás como se nunca tivesse existido.

Após aquela pequena declaração, simples porém sincera, de Yuuri, Victor estava mais seguro, despejava leves beijos em sua nuca e nos ombros descobertos pela blusa enquanto brincava com o penduricalho da gargantilha, o girando entre o polegar e indicador. Dava mordiscadas leves na nuca de Yuuri, e este sabia o que significava, o alfa queria mordê-lo ali; marcá-lo.

Já sentia o álcool fazendo efeito em sua visão, sua cabeça ficando mais leve, então deixou a taça de martini pela metade no balcão de mármore polido. Inclinando-se para trás beijou a bochecha de Victor e depois os lábios, não tinha malícia ali, apenas calor e carinho, conforto e paixão.

– vamos procurar aqueles dois? Não estou afim de carregar dois bêbados para casa.– riram saindo da posição confortável em que estavam. Não demorou muito para encontrarem o casal, estava até bem fácil, os dois eram um dos cinco casais que quase se comiam no meio da pista de dança. Otabeck já tinha perdido a blusa em algum canto da casa enquanto dançava enlouquecidamente e sensualmente com o loiro, que não se fazia de rogado e já tinha os cabelos desgrenhados, assim como as roupas amassadas e marcas de chupões cobriam seu pescoço. Ambos tão altos na bebida que nem reclamaram quando foram arrastados da pista e jogados perto do bar.

Seria uma longa noite…

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora