Nove meses e Sorriso da vida

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O cheiro de hospital ardia em suas narinas e as mãos tremiam se esfregando uma contra a outra, suas pernas não paravam quietas _ já não andava de um lado a outro naquela sala sufocante, apenas batia os calcanhares insistentemente no chão. Tremia, mas não era de frio, os braços do ômega que o abraçava e a mão de seu pai sobre seu ombro não o deixava sentir isso, tremia de nervoso e de medo. Nervoso pela situação delicada e com medo de todas as complicações que ela poderia trazer. Ele estava sofrendo? Eles ficariam bem? Os médicos estavam fazendo um bom trabalho? A cabeça do alfa não o deixava relaxar em nenhum momento.

– vai demorar muito ainda?– perguntou apreensivo, não iria aguentar mais!

– acalme-se Otabeck, um parto pode demorar horas – Christopher começou a repetir a mesma frase que tinha dito a apenas cinco minutos antes, quando o alfa moreno tinha perguntado exatamente a mesma coisa.– principalmente um natural… o médico disse que ele tem uma boa dilatação, então deve ocorrer tudo bem. Estamos aqui a apenas uma hora, tenha paciência por favor.

– parecem séculos, pai– era tão raro que fosse chamado assim que o coração de Chris até bateu mais rápido, mas evitou sorrir com isso. Não era hora.

– eu sei, todos nós nos sentimos assim, mas pense pelo lado bom. Vocês esperaram tão ansiosamente por este momento nos últimos meses: a sua filha está vindo ao mundo! Sorria rapaz, irá ver o rosto dela sem precisar de um ultrassom para isso, vai poder pegá-la nos braços pela primeira vez! Se concentre nisso e tente relaxar um pouco. Não pode entrar lá e encará-lo com essa cara de funeral.– os presentes riram de leve.

– tudo bem.– conseguiu sorrir um pouco. Pouco depois Victor entrou na sala carregando com ele uma mochila e uma bolsa branca com detalhes amarelo claro, ambas recheadas com roupas e coisas necessárias para alguns dias no hospital, tanto para Yuri quanto para o pequeno ser que estava vindo ao mundo.

– terminei de fazer a ficha dele, aqui– deu a carteira do Altin e a do loiro para ele e se sentou ao lado do namorado _ este que soltou o moreno e cedeu espaço para o loiro mais velho o acalmar. – e você, como está?

– estou bem Victor, só preocupado. – teve sua mão timidamente beijada pelo russo, como uma forma de dizer que estava ali caso precisasse dele.

O médico só apareceu cerca de duas horas depois, o semblante cansado não ofuscava o sorriso luminoso que cruzava seus lábios e marcava as bochechas com pequenas rugas. Todos da sala ficaram em alerta com sua presença e o primeiro a falar foi o próprio felizardo da noite _ ou dia, passava das quatro da manhã, já que as contrações começaram enquanto o loiro dormia.

– como estão?

–Ótimos! Não se preocupe – todos suspiraram aliviados– tudo ocorreu bem, o Sr Plisetsky ainda está acordado e já pode receber visitas, podem entrar todos, contando que façam silêncio. A menina está passando por alguns exames e logo voltará para o quarto.

Em silêncio, todos se encaminharam ao quarto indicado pelo senhor, Otabeck suspirou antes de entrar. O loiro estava deitado no cama e coberto até a cintura, tinha uma expressão cansada e preocupada enquanto amassava o lençol branco entre os dedos finos e longos. Respirava profundamente e tinha os batimentos monitorados por um equipamento, estavam acelerados. Uma enfermeira o vigiava afastada da cama com cara de paisagem. O alfa não resistiu e o abraçou como pode, quase deitando sobre ele, ambos quase chorando.

– você está bem?

– estou, mas onde está minha filha? A levaram sem dizer nada…– falava tudo de uma única vez, os batimentos aumentando ainda mais no monitor. A enfermeira se alarmou, mas foi impedida pelo alfa.

– calma, calma! Só a levaram pra fazer alguns exames de prevenção. Está tudo bem. Tudo bem.– o acalmou, os batimentos voltando aos poucos ao normal. A doutora Lee adentrou o quarto sem olhar para nada, sua expressão era puramente de alegria e admiração enquanto encarava o embrulho que segurava com um braço e brincava com a criança com a outra mão. O embrulho rosinha foi posto no colo do loiro _ que recebia ajuda para ficar sentado _ e este foi instruído em como segurá-la corretamente.

– parabéns, vocês tem uma linda e perfeitamente saudável princesinha. A levamos as presas por que ela não chorou no nascimento, estão achamos que teria algo obstruindo as vias nasais, mas não há nada, ela está perfeitamente saudável. –assegurou novamente enquanto auxiliava o loiro com a filha. Era tão pequena e frágil, os cabelos negros e fartos para uma recém-nascida, o rostinho pequenino tinha a pele tão fina e delicada que dava um tom rubro a toda ela, fazia um biquinho e barulhinhos incompreensíveis enquanto segurava o dedão do outro pai, que chorava tanto quanto o loiro. Otabeck estava se segurando para não chorar desde que chegou a aquele hospital mas naquele momento simplesmente não conseguiu mais evitar, sua filha era tão linda! Ainda não dava para determinar a quem havia puxado, mas aquilo não importava. O que importava era que aquele ser era composto de um pedacinho dele e de Yuri, nada mais e nada menos.

O outro casal presente também chorava, observavam um pouco afastados a felicidade dos noivos, Yuuri não sentia nada mais do que felicidade e um amor incondicional e fraternal por aquele bebê e por seus pais _ ao contrário da repulsa que uma pessoa em sua condição sentiria naturalmente, ele não era esse tipo de pessoa _ preferiram sair do quarto junto a Chris e a enfermeira. Deixando apenas a médica e, o casal e Verônica no cômodo. Não demorou muito para o choro começar, ambos pularam no lugar com o susto e quase se desesperaram, mas a médica estava ali para auxiliar os pais de primeira viagem naquela empreitada.

– dê de mamar, Sr. Plisetsky – o loiro corou, a olhando um pouco assustado e depois olhando para o companheiro. A mulher riu.– Não se preocupe comigo, estou aqui apenas para ajudá-lo. Vamos, não quer deixá-la assim por muito tempo, não? – mesmo envergonhado o loiro deixou ser ajudado, Otabeck segurou, desajeitado, a filha chorosa enquanto a médica ajudava com a roupa hospitalar – pode ser que fisgue a primeira vez que ela puxar, mas é normal, nada com que tenha que se preocupar– puseram a menina pra mamar nos seios pequenos dele. Realmente teve uma pequena fisgada quando ela começou a sugar o leite, mas nada que o incomoda-se de fato. Os olhos negros e puxados olhavam toda a cena com amor e devoção, admiração também. Era quase como um sonho, mas era realidade. O ajudou a apoiar melhor a pequena _ afinal o ômega ainda estava fraco pelo parto _ era tão levinha que quase não a sentia em sua mão.

Faziam pouco mais de nove meses que conhecia ele, nove que estavam num relacionamento de fato. Um namoro tão natural e espontâneo que sequer necessitou de pedido, simplesmente aconteceu. Seis que descobriu que seria pai e cinco que tinha feito uma promessa de casamento. Era como um timing perfeito que mirava para sua mais completa felicidade. E estava inteiramente realizado e feliz…

Para o loiro era estranho ter algo saindo de seu seio, a sensação era estranha, porém reconfortante e calorosa, até fazia um pouco de cócegas. Aos poucos _ e depois de ter trocado ela de lado _ ela foi adormecendo, ainda mamando, e a ninou com lágrimas nos olhos. Talvez o famoso “instinto materno” seja mesmo real, por isso relutou um pouco em deixar que a médica a colocasse no bercinho colado com a cama e o colocasse deitado na própria. Os olhos verdes não se desgrudaram da menininha até se fixarem e, no último instante de lucidez, encontrar verdes idênticos olhando de volta.

Enfim a vida sorriu para Yuri Plisetsky.

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora