Ficaram conversando descontraidamente até seus pedidos chegarem, falavam besteiras e faziam piadinhas com qualquer coisa que lhes vinha à mente. Davam boas gargalhadas e agradeceram o fato do restaurante estar com pouco movimento aquela noite, tinham mais liberdade para fazer brincadeiras e não incomodar ninguém _ ou ninguém quis os incomodar com reclamações. Quem levou seus pedidos até a mesa do casal _ ninguém que os visse teria outra impressão _ foi o mesmo garçom simpático que os atendeu anteriormente. Inicialmente, Victor estranhou a aparência da comida servida num domburi decorado, mas com o olhar de expectativa lançado por Yuuki sobre si, provou parte da comida.
-Vkusno!- exclamou o russo, era surpreendentemente bom! Um manjar dos deuses!
-eu sabia que ia gostar!- Yuuki sorria largamente enquanto o outro devorava a comida sem cerimónias. Começou a comer o que tinha pedido para si, quase delirou com o sabor do prato, estava espetacular. Conhecia o dono daquele restaurante, Shinomiya Kojiro era um antigo amigo de seu pai, que também atuava no ramo de restaurantes de grande porte, e era bem afeiçoando ao homem de cabelos rosados, apesar da grosseria característica deste.
- Realmente uma delícia - afirmou o alfa, pisando os hashi alinhados sobre tigela, agradecendo pela comida.- o responsável pela comida deve ser bem habilidoso.
- com certeza é- a acompanhante sorriu com a afirmativa, o que não agradou o alfa - o que foi?
- Você o conhece? - perguntou, com a cara fechada, mas tentando disfarçar aquela pontinha de ciúme que surgia naquela frase curta.
- sim era um antigo amigo de meu pai, me acompanha desde que nasci, mas teve que ficar vários anos fora graças ao restaurante que abriu na França... - Começou a falar, ainda olhando para o prato e parou quando levou uma porção a boca. Olhou o platinado a sua frente, e segurou o riso quando viu a carranca que se formava - o que foi? Já com ciúmes? - perguntou um pouco irônica.
- não é ciúmes...- talvez não seja ciúmes, completou em pensamentos.
***
Após o jantar, onde Victor repetiu o prato principal e a sobremesa, optaram por passear pela praia. A areia branca ainda guardava um pouco do calor que absorveu durante o dia, deixando a impressão de estarem pisando num grande e macio travesseiro, as ondas cristalinas quebravam na praia espalhando espuma e carregando pequenas conchinhas já corroídas pelo sal marinho. Não era noite de lua cheia, mas as estrelas iluminavam tanto quanto o astro que era a casa da deusa Artemis. Em suma, uma encantadora noite, perfeita para compartilhar com uma pessoa querida.
Perfeita para compartilhar segredos.
Yuuki caminhava ao lado de Victor, apertava um pouco os ténis por entre os dedos da mão, nervosa. Tinha vontade de começar a falar, mas o medo lhe prendia a língua. Temia abrir a boca e começar a gaguejar, ou começar a falar tão rápido que o russo não compreenderia nada. Não queria se passar por louca. A areia escapando por entre seus dedos lhe passava um sensação gostosa, mas estava longe de conseguir relaxar.
- oi ~ - o russo se pronunciou, agitando uma mão na frente dos olhos de sua companhia. Ela parecia desnorteada, isolada dentro de si- aconteceu alguma coisa? Ficou calada de repente.
- não é nada...- forçou um sorriso, qualquer um que visse diria que ela estava falando a verdade. Yuuki tinha talento para atuar, todos sabiam, mas não se atua na frente de quem atua.
- diga a verdade Yuuki - se pôs a frente dela, a fazendo parar abruptamente e olhá-lo nos olhos, os óculos caindo sobre o nariz pequeno deixava o caminho livre para os olhos cerúleos encontrar os castanho-avermelhado com total liberdade.- te conheço a pouco tempo, Yuuki, mas consigo dizer com clareza que você não está bem.- Acariciou a face dela, pondo as duas mãos sobre as bochechas coradas desta. Ela parecia a ponto de chorar!- pode me contar... estou aqui para ouvir-te.
A mão da morena, tão menor que a de Victor, cobriu a dele enquanto a outra alcançava seu peito. Se reenconstou no peito do maior, procurando não olhá-lo diretamente e procurando conforto em seu cheiro tão característico e agradável. Suspirou, como começar a falar?. Tinha tanta coisa presa em sua garganta que seu âmago embrulhava. As palavras praticamente se arrastaram para fora de sua boca, não pensaria, apenas iria pôr para fora tudo o que lhe atormentava por todos esses anos
-Nee, Victor ...quantas pessoas que são importantes para você não estão mais ao seu lado?- o platinado se surpreendeu com a pergunta. Não conseguia ver os olhos dela e sua voz parecia carregar um pesar tão grande que seu coração se apertou.- quantas pessoas importantes para você partiram? E o que fazer quando uma destas aparece de repente, quando você já se convenceu de que nunca a veria novamente? Como dizer quem você é, se essa pessoa, provavelmente, nem se lembra mais?
Soluços deixaram os lábios de Yuuki e Victor notou o cheiro de angústia no ar a sua volta. Seus instintos fizeram seu corpo liberar mais de seu cheiro a fim de acalmar a moça, mas não parecia adiantar, então enlaçou seus braços ao seu redor e a deixou chorar. Não sabia o que responder, se devia responder... Estava uma completa bagunça enquanto sentia o corpo menor tremer em seus braços e seu peito molhando com as lágrimas quentes e salinas desta. Não sabia lidar com pessoas chorando.
-esta pessoa é você Victor...- ela continuou. O russo se ajustou com a fala da moça, não tinha entendido o que ela quis dizer com aquela curta frase. Se afastou, a liberando do conforto de seu abraço, sua expressão era de pura confusão. A moça riu levemente enquanto enxugará as lágrimas que aos poucos paravam de rolar por seu rosto, porém seus olhos ainda continham tantos sentimentos dolorosos e angústia reprimida que o russo se surpreendeu com o fato dela ainda conseguir prosseguir - é estranho, não é? Nos conhecemos na infância, eu ainda era tão pequeno, mas consigo lembrar perfeitamente de cada minutos que passei ao seu lado, Victoru - o sotaque saiu carregado no nome do estrangeiro, teve vontade de rir com isso mas sua cabeça foi para outro lado; como assim 'pequeno'?
Yuuki se largou sobre a areia fofa e branca, sentando-se de qualquer jeito e sem importar com nada, como o fato de que a saia branca ficaria manchada. A memória do russo, que raramente trabalhava, começou a ligar pontos antes imperceptíveis para sua cabeça lenta e preguiçosa. Semelhanças. Cabelos negros, nipónico, pele tão clara e macia quanto um marshmallow _ foi assim que descreveu a criança que encontrou em sua infância, a única em que conseguiu um espaço eterno em sua memória _ olhos de uma cor tão única que era impossível de ser esquecida. Abaixou-se e agarrou a mão esquerda da moça onde se encontrava aquele belo anel dourado com um brasão estampado em baixo de uma pedra preciosa azul, retirou o anel com delicadeza e virou de leve a mão para o lado. Estava lá... aquela cicatriz fina e clara provocada por algo pontiagudo; um espinho de rosa. Se lembrava tão bem daquela cicatriz, do dia em que ela foi provocada e de quem a carregava exatamente naquele ponto, agarrou a mão menor que a sua com um pouco mais de força. Não permitiria que ela escapasse dele.
- Yuuri?
Os olhos castanhos se arregalaram, nem em suas mais profundas esperanças esperava que o platinado lembrasse de si.
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Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]
RomansaVictor Nikforov, um ator e modelo russo. Renomado e respeitado em vários países a fora. Uma pessoa particularmente reservada em sua vida pessoal e com muito poucos escândalos em sua ficha, animado e bem educado. Sempre preocupado com sua imagem. E t...