Sonhos e Lembranças

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Victor devia ser indicados um Óscar!. Sim, apesar de que ele já ter ganho um ou dois desses prémios, Yakov estava pensando seriamente no assunto. Mas dessa vez ele ia concorrer em outra categoria, a categoria de Drama queen.

O prateado ganharia o prémio fácil fácil, principalmente com o drama que ele arrumou para não sair da cama. Se encontrava largado sobre os lençóis bagunçados, quase enterrado no colchão macio com os braços pendurados para fora e cabelos mais que emaranhados. Gemia manhoso contra o colchão enquanto o mais velho tentava convencê-lo a levantar-se e tomar um banho. Tudo bem que ele já havia decorado o roteiro de cabo a rabo e as gravações só começarão no próximo mês, mas ele devia saber que se tratando da Gama-Pro _ imprensa responsável pela filmagem e elenco do drama_ eles poderiam ser convidados para algum evento ou almoço a qualquer instante! Então seria mais que o apropriado que o ator estivesse mais que preparado para tais convites. Mas não, ele preferia ficar largado na cama o dia inteiro e parecendo um mendigo!.

– Vitya!!– insistiu novamente Yakov após mais uma bronca quilométrica, insistindo que o platinado se levantar e tomar um banho ou comer alguma coisa, mas a única resposta que recebeu foi um gemido abafado. Suspirou tentando se acalmar. Como o Nikforov dava trabalho! Não tinha mudado nada desde a infância, sempre preguiçoso, sempre teimoso. Antes que formulasse mais uma bronca ou que arrastasse o outro russo para o banheiro o celular do mais velho começou a tocar, preenchendo o quarto com uma música clássica. Atendeu após confirmar o número, surpreendendo-se ao reconhecer o número  da agência da Gama-Pro. Comprimentou a pessoa do outro lado da linha com educação polida, se surpreendendo ao reconhecer a voz forte e um tanto autoritária da dona da imprensa.

– Srª Minako Okukawa a que devo…

– deixe formalidades para depois, Yakov Feltsman...

O russo mais velho deixou o quarto, indo para a sala do apartamento para ter mais privacidade. Victor, que ainda se encontrava largado sobre a cama, aproveitou o reinado de silêncio que que instalou pelo quarto para retomar sua soneca.

– Viten’ka– chamou a mulher de cabelos loiros tão claros que beirava o platinado, e olhos cinzentos brilhosos, quase ofuscantes. Nos lábios, o sorriso doce e gentil tão conhecidos pela pequena criança de cabelos prateados.– quero que conheça alguém – pegou o garoto de 7 anos no colo, o tirando da sala de música e se dirigindo a sala de estar do primeiro andar, um casal os aguardava, uma homem de cabelos negros e uma mulher um pouco baixinha e cheinha, com cabelos castanho avermelhado e de óculos. Não lembrava seus rostos, afinal, que criança grava o rosto de pessoas que só vira uma vez na vida?. Mas se lhe perguntasse em detalhes sobre a criança que se agarrava tão insistentemente as pernas da mulher de cabelos castanhos, saberia dizer-lhe tudo. Como eram fofas as bochechas redondinhas e coradas do menino, como sua roupa lhe caia bem, até mesmo como a armação azul do óculos combinava com seu rosto redondinho e com seu cabelos bagunçados. Ele era tão adorável que o pequeno Victor logo lhe dirigiu um gentil sorriso, mas o outro apenas encolheu-se mais atrás das pernas da mulher, amassando um pouco o tecido do kimono que a mesma trajava com as mãozinhas.

–ora ora, este é o pequeno Victor?– perguntou a mulher mais baixa, acariciando distraidamente os cabelos do garotinho de óculos. Veronika, mãe do prateado, afirmou positivamente com um de seus típicos sorrisos, apresentando os visitantes logo em seguida. Não conseguia recordar seus nomes, provavelmente por não ter dado atenção na época,era tão distraído. Apenas recordava o da criança, pois soava como uma pequena melodia aos seus ouvidos….

– este é Yuuri, Viten’ka…

Acordou com um puxão forte em sua orelha direita. Sentou-se assustado sobre os lençóis amarrotados, com os olhos ainda meio fechados e embaçados, letárgico de sono.

– Levante-se e se arrume temos um compromisso urgente!...– Yakov já iniciou seu monólogo de berros enquanto o outro russo ainda assimilava o sonho, ou melhor, lembrança. Deus como estava com sono!. Levantou-se preguiçoso com seus músculos e juntas reclamando do movimento, afinal não tinha levantadora cama desde a manhã do dia anterior, dirigindo-se ao banheiro. Queria continuar na cama, não tinha ânimo para nada no momento, mas trabalho é trabalho.

A quanto tempo não sonhava com sua infância? Muitos momentos tinham sido apagados pelo tempo e outros sequer tinham sido gravados por seu cérebro lento de memória fraca. Neste dia em específico, sua mãe lhe apresentou o pequeno japonês de feições fofas, o induzindo a guiá-lo pela casa e brincarem um pouco enquanto ela conversava com os pais do mesmo. Foi um dia divertido, adorou brincar com o menino, mesmo que Yuuri não se abrisse muito por timidez e por não falar russo fluentemente. Após retornar a sala com o menino, ouviu parte da conversa, palavras como ômega e alfa se repetiam junto a união de famílias e prole, nesta época não dera muita importância a isso, ainda era uma criança e não entendia muito do idioma em que conversavam _ francês, mais precisamente _ mas isso ficou em sua lembrança. Principalmente que dias depois disso pegara sua mãe chorando pelos cantos e sendo consolada pelo marido, seu padrasto Ivan. Ao que parecia pela explicações dadas por Ivan mais tarde do mesmo dia, o casal que os visitara tinha se envolvido em um trágico acidente de carro que ceifou suas vidas e a criança tinha sido dada como desaparecida. Tinha ficado tão triste, ainda doía lembrar-se disso.

Tomou um banho rápido e penteou os cabelos _o que lhe custou muita paciência e trabalho, pois os fios estavam muito emaranhados _ prendendo-os em um rabo de cavalo baixo e jogou-os sobre um ombro e vestiu as roupas que Yakov tinha separado para ele. Tudo automaticamente enquanto seus pensamentos rodopiavam em lembranças, só acordando dessas quando o táxi _ que nem lembrava de ter embarcado _ estacionou em frente a um restaurante e o mais velho lhe mandar descer.

O lugar era aconchegante, não muito sofisticado mas também não parecia um lugar corriqueiro. A decoração não possuía uma temática específica, sendo dividida em tons pastel e madeira, as mesas eram separadas por biombos vermelhos trespassado por arabescos circulares e o cheiro de comida chinesa pairava no ar, só lhe fazendo lembrar que não comia nada por um dia e meio. O russo mais velho lhe falava algo ao seu lado enquanto caminhavam até uma das últimas mesas do lugar, não dera muita atenção _  como sempre. Sentaram-se numa mais afastada das demais e um garçom logo os decepcionou, mas foi dispensado momentaneamente pois esperavam mais alguém. Victor ficou curioso com quem poderia ser, um dos atores que trabalharia no drama queria conhecê-lo? Ou algum editor desejava discutir sobre o roteiro? Ficou formulando suposições em sua cabeça até duas figuras aparecem ao lado da mesa. Yakov logo se apressou em cumprimentá-las. Eram duas mulheres, uma de cabelos castanhos e maquilhagem leve, trajando um terno feminino sob medida ao corpo magro, mas foi a outra que lhe fez perder o fôlego!

Continua...

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora