Botões e Frio

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Sentia seus dedos tremem por entre os do platinado e seus olhos enchiam de lágrimas, sua maquiagem já se borrava por conta da chuva e seus saltos não estavam muito bem apoiados na grama molhada escorregadia. Mas o homem à sua frente não parecia se importar com isso, nem mesmo com o cadáver do homem loiro caído metros atrás dela ou com suas luvas de seda manchas de sangue. Os olhos azuis estavam centrados nos seus, os fios longos de seu cabelo agarravam ao seu rosto e marcavam ainda mais seu maxilar juntos água pura que descia pela tez pálida quase que em câmera lenta.

As palavras que lhe eram proferidas eram doces e gentis, carregadas de adoração e luxúria. Como um doce pecado que se oferecia numa bandeja de prata para que o devorasse por inteiro, pedaço por pedaços saboreando cada nuance do corpo perfeito. Aquele homem era uma tentação para ela. Teve seu corpo puxado para junto do dele, colando os inúmeros tecidos de suas vestes, agora pesados com conta da água absorvida por eles, o hálito quente veio de encontro com a pele fria de sua orelha e lábios exploraram seu pescoço. O perfume do homem a atingia como nunca como uma droga nunca antes provada, feita especialmente para ela. A voz rouca lhe fez tremer, e o abraço firme em sua cintura a sustentou.

– Case-se comigo, minha amada– aquilo quase a levou ao chão, ele parecia o animal ali, não ela…

– Eh...Corta!– o diretor gritou, cortando todo o clima da cena que se desenrolava naquele instante. A iluminação foi retomada e a equipe largou seus postos, começando uma correria para arrumar e desmontar equipamentos de filmagem.– brilhante, vocês dois são fascinantes! Não me surpreenderia se fossem um casal de verdade!– Celestino riu, divertido com a própria hipótese que, na sua cabeça, era absurda. Yuuki e Victor se entreolharam, ainda abraçados e esquecidos da chuva que ainda os molhava. As bochechas do de cabelo moreno, que estava vestido de Elizabeth Bathory, se pintaram de um autêntico carmim, trazendo o outro a realidade e o fazendo soltá-lo com um sorriso.

Yuuri não sabia como agir, então apenas abraçou os próprios braços descobertos e gelados, tentando se aquecer do frio da madrugada. O diretor prendeu o platinado em uma conversa sobre a próxima cena a ser e as possíveis adaptações do roteiro, prestava atenção em Celestino e encarava de rabo de olho um Yuuri cabisbaixo e um pouco perdido, que tremia levemente. Só se atentou ao problema de estarem ali quando o outro cobriu a boca e espirrou. Cortou sua conversa com o diretor.

– assistente, o roupão! – gritou, chamando a atenção da equipe, abraçou Yuuri, o trazendo novamente para junto de si e sentiu os tremores do corpo diminuto. Ajudou o outro a caminhar até a tenda branca, os saltos não ajudavam muito e escorregavam na grama molhada, o obrigando a se escorar mais e mais no platinado. Era constrangedor para o ômega, mas a maquiagem borrada ajudava a disfarçar as maçãs coradas de seu rosto. Agradeceu a todos os deuses que vinheram a sua mente quando chegou ao solo seco e se sentou em um banquinho, um hobby atoalhado foi posto sobre seus ombros e relaxou com o calor.

Ainda espirrava um pouco, odiava o quanto seu corpo era frágil, qualquer queda de temperatura poderia resultar em uma série de problemas _ de crises de sinusite a uma forte gripe _ ficou ouvindo o diretor tagarelar sobre as próximas cenas e que iriam voltar para o estúdio em três horas _ o tempo para desmontar e quadrar o equipamento de filmagem. Victor não saia de seu lado, sentia sua preocupação e não sabia se o tranquilizada ou se só ficava contente por ele se importar com sua saúde e bem-estar. Quando o diretor parou de tagarelar sobre o que quer que estivesse falando, ambos os atores foram guiados até o trailer onde ficava os camarins.

Já estava contando os segundos pra tirar aquelas roupas molhadas, sua temperatura corporal estava baixando muito rápido e já sentia-se tremer. Dentro do trailer tinham três espaços, dois reservados para troca de roupas _ um reservado para Victor e outro para Yuuki, não se importaram muito em os por juntos naquele espaço pois todos pensavam que a atriz estava comprometida com Otabeck _ e o terceiro se resumia a uma grande penteadeira, com muita maquiagem e outros utensílios, uma mesa retrátil com uma cafeteira e alguns lanches, e duas portas, uma de entrada e outra que dava para a frente do trailer, onde ficava o motorista. Yuuki foi direto ao “cômodo” reservado a si, precisava tirar aquelas malditas roupas o mais rápido possível!

Fechou a porta com um baque, já sentando em um banquinho e tirando aqueles sapatos ridiculamente desconfortáveis, tendo que desfazer quase todo o caminho dos cadarços para que estivesse folgado o suficiente para tirá-los, desfez o laço de fita em sua cintura com um pouco de dificuldade _ o tecido não deslizava direito por contas a humidade. Porém, quando tentou desabotoar a trilha de pequenos botões de pérola em suas costas, não estava conseguindo os alcançar! Tentou de todos as posições possívei os desabotoar, mas não conseguiu. Suspirou derrotado, sentando no banquinho e apoiando o rosto entre as mãos, se não estivesse sozinho conseguiria arrancar aquele maldito vestido logo. Maldita hora que Otabeck teve que ir a uma reunião!

Tinha que tirar logo aquelas roupas ou com certeza ficaria doente. Não estava sozinho naquele trailer, mas não queria chamar Victor, só de imaginar seu rosto já começava a corar. Por mais que tivesse aceitado um “relacionamento” com o platinado, ambos não tinham avançado em absolutamente nada, tudo se resumia a mensagens e a beijos trocados nas escondidas do estúdio. As gravações estavam tomando cada vez mais tempo dos atores, nem mesmo Yuri estava dando suas escapadas e eles mal tinham tempo para conversar tranquilamente ou avançarem para algo mais. Pedir para Victor algo como ajuda para tirar suas roupas era algo extremamente vergonhoso e impróprio…

Mas não tinha outra saída.

Pegou seu celular, a hesitação e os dedos levemente trêmulos não ajudavam muito na procura pelo contato do alfa, aquando achou, novamente atrapalharam os digitar uma mensagem simples;

“Terminou de se trocar?”, demorou um pouco para o outro responder, provavelmente estava procurando o celular após ouvir o toque de mensagem.

“Sim, terminei”, respondeu, junto a alguns emojis que lhe fizeram rir. “Estava frio demais com as roupas molhadas, tirar foi a melhor opção” corou com a duplicidade da frase, mas não se desagrado de seus pensamentos.

“Poderia me fazer um favor?” perguntou, um pouco hesitante, não sabia se devia continuar o pedido ou não. Mas não tinha escolha! “Não estou conseguindo desabotoar o meu vestido, poderia me ajudar?” corou apenas em pensar em receber uma afirmativa. Quanta vergonha!

Se sentiu um pouco inseguro quando a resposta não veio, perguntas e mais pergunta fizeram sua cabeça girar e só piorou quando começou a espirrar. Já estava pensando mil e uma possibilidades, muitas delas de que o russo o tinha achado oferecido demais, quando três batidas ocas se fizeram presentes no cômodo, o assustando inicialmente, mas logo se moveu para abrir a porta. Destrancou a fechadura e abriu minimamente a porta, dando de cara com um Victor com uma mão ainda levantada _ provavelmente iria bater novamente _ assim que notou o moreno o encarando, sorriu, aquele belo e inexplicável sorriso de coração característico dele. Encabulado, permitiu que o outro entrasse.

Para sua infelicidade, notou tarde demais que o cubículo reservado para a troca de roupas era pequeno demais para comportar ele _ trajando um vestido característico da era vitoriana _ e um russo corpulento, óbvio que não estavam apertados, mas passava por si uma sensação desconfortável e claustrofóbica. Estava corado, envergonhado e com frio, tinha certeza que se abrisse a boca para falar alguma coisa seria um desastre, então se limitou a se virar e puxar os fios da peruca para frente, liberando suas costas de qualquer obstáculo. Sentiu o primeiro botão ser solto, o silêncio entre os dois era palpável.

Se pegou a observar o mais velho através do grande espelho, que cobria toda a parede a sua direita, ele parecia concentrado em sua tarefa e não parecia incomodado em ajudar o ômega. Pelo contrário, sua face parecia tranquila, até um pouco divertido com o constrangimento do moreno. O último botão foi solto e veste pendeu por sua costas o obrigando a cruzar os braços para segurar, sem falar nada, Victor começou a desatar as cordinhas do espartilho que tinha por baixo do vestido.

–sabe...não precisa ter tanta vergonha de me pedir algo.– ao terminar de folgar a peça, enroscou os braços na cintura do moreno, o trazendo para mais junto de si– “não me importo em lhe servir de escravo, madame.”– depositou um beijo na nuca do parceiro provocando um tremor gostoso, que lhe subiu pela espinha.

Yuuri quase gemeu, aquela era uma das falas do personagem interpretado por ele. Mais, por deus! Quase ficou duro!

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora