Razões e Ciúmes

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– Otabeck, você viu meus…!– a porta do quarto foi repentinamente escancarada, dando entrada para um moreno de olhos castanhos. Os dois se separaram imediatamente pelo susto e o sangue de Yuri fugiu de sua face por um instante, para depois tomar um tom forte de escarlate. Os três ficaram se encarando, sem saber em que buarco enfiar a cabeça!. O moreno, mais vermelho que um tomate maduro, se apressou em sair do quarto, batendo a porta atrás de si e correndo pelo corredor.

– desculpem por interromper!– os dois dentro do quarto poderiam ouvir antes da porta bater e o quarto ser tomado por um clima constrangedor. Yuri se jogou novamente entre os lençóis, escondendo o rosto completamente vermelho em um travesseiro.

Que vergonha!

***

Yuuri entrou em seu quarto, batendo a porta atrás de si. Seu rosto queimava em brasa e suas pernas ficaram bambas. Meu deus! O que aqueles dois estavam fazendo aquela hora da manhã?! Sua mente fazia um escândalo. É claro que podia ser apenas um beijo de bom dia, mas conhecendo como conhecia Otabeck, ele não ficaria só em um beijo. Não estava com ciúmes ou coisa do tipo, não tinha nenhum relacionamento sério com o alfa, apenas compartilhavam os lençóis por algumas noites e por pura necessidade. Estava feliz pelo outro não se prender a si, seja com quem quer que estivesse naquela cama com ele. Agora, pensando bem, nem tinha visto o rosto do indivíduo, a única coisa que conseguiu distinguir e que tinha longos cabelos loiros e pele clara.

Se celular tocou, a música poker face acusou a chegada de uma nova mensagem. Sentou-se na beirada da cama king size de lençóis azul bebê e com várias almofadas e travesseiros decorando, abriu o aplicativo de mensagens dando de cara com mais uma mensagem enviada por aquele numero já bem conhecido por ele. Um sorriso brilhante tomou a face do moreno, junto a um rubor leve.

“ bom dia, flor do dia! Como passou a noite?”

“ dormiu bem?”

Victor realmente tinha um jeito todo especial de animá-lo. Após a sessão de fotos, tinha incumbido Minako de conseguir o número do ator com o empresário baixinho e calvo que parecia estar sempre irritado com algo ou alguém, Yabov ou Yakov não lembrava direito do nome do sujeito _ por isso o dera o apelido de pachinko, por ser careca. Minako se recusou de início, não queria que Yuuri tivesse muito contato com outros atores para que seu segredo não vazasse para a mídia, mas após o moreno insinuar a lembrança de uma de suas gafes decorrente das bebedeiras da mulher, ela praticamente saiu correndo para falar com o velho com cabeça de pachinko. Desde então, quase dois dias, um dia e meio na verdade, estavam mantendo contato. A intenção do ômega, inicialmente, era conversar com o alfa até que se sentisse seguro para despejar toda a verdade sobre este. Nunca fora sua intenção enganá-lo ou esconder quem era, apenas se acostumou a agir como Yuuki e não conseguiu revelar-se para ele.

Yuuki, para Yuuri, era como uma máscara que ficava entre ele e outras pessoas. Algo que o permitia ser ele mesmo, mas sem seus ressentimentos e sentimentos, um ser aparte de si mesmo mas que continuava a ser ele em sua mais pura essência, complicado, porém verdadeiro. ‘Ela’ surgiu aleatoriamente,  quando uma das modelos que trabalhavam para seu pai adotivo, o ômega Christopher ou Chris como apelidou carinhosamente, tinha adoecido e não pode comparecer ao desfile, ele se ofereceu para substituí-la já que possuía um corpo bem feminino e caberia bem nas roupas por terem a mesma altura, mas depois deste desfile vários outros estilistas passaram a requisitá-lo para desfiles, tanto no Japão quando em outros países. De início era só uma brincadeira, um hobby inocente, mas quando sua fama se espalhou, veio o receio de ser descoberto e por isso parou, não queria que as pessoas achassem que a intenção dele era enganá-los e se sentiria extremamente mal caso isto acontecesse e um pouco ofendido. Mas Minako, a qual era uma grande amiga sua, o tranquilizou e o convenceu a participar do drama que sua agência iria financiar.

Ele tinha ficado muito surpreso ao ser indicado para o papel de protagonista, não se julgava com talento o suficiente para tal e estava muito inseguro, mas então, na festa de confraternização do elenco a quase um mês atrás, o platinado ressurgiu em sua vida, tão esplendoroso que achou que estava sonhando. Ele era como um sopro de primavera, sutil, elegante e que carregava com ele um ar galante para onde ia. Sentia que seu coração estava sendo levado novamente de si, roubado, tragado pela mesma pessoa. E esta não fazia a mínima ideia disso, estando tão alheia ao seu efeito sobre o ômega que sequer percebia o estrago que aqueles belos e únicos sorrisos lhe causavam. O destruíam e ao mesmo tempo remendavam, na mesma proporção.

No parque, tinha se deixado levar pelo clima agradável da tarde, divertiu-se como a criança que um dia deixou de ser, mas o clima romântico do por do sol o tragou de maneira tão intensa que esqueceu de que, naquele momento, Victor não estava vendo Katsuki Yuuri, estava vendo Yuuki. E foi naquele momento que a máscara que criara, a personagem fictícia e perfeita que vestia para poder encarar as outras pessoas, se tornou um muro entre ele e seu amado. Por isso não concretizou o beijo, mesmo desejando loucamente saber qual sabor teria os lábios de Victor, qual seria sua maciez e calor. Dúvidas como ‘o que ele faria se soubesse sobre tudo? Como ele reagiria?’ e ‘será que ele me aceitaria? Ou me expulsaria de sua vida para sempre por o ter enganado?’ rodeavam sua mente o tempo todo ao ponto de sentir sua cabeça pesar.

Não contou nada disso a Otabeck, ele com certeza ficaria extremamente preocupado e não queria isso, já bastava que ele se preocupava com sua saúde instável. Então procurou conselhos de outro ombro amigo, este que estava mais longe, mas que saberia aconselhá-lo como ninguém, Phichit sempre foi um ótimo conselheiro quando o assunto era sentimentos. A resposta não fora exatamente o que queria ouvir, mas com certeza o que já havia imaginado; contar tudo pra ele, e saber da boca dele o que diria. Não podia ficar se martirizando com dúvidas que tinham solução.

“ Victor-san, poderíamos nos encontrar qualquer dia?”

***

Após a porta ser batida e o som se espalhar pelo cômodo, o loiro e o moreno continuavam na cama. Ambos atônitos. A vergonha transparecia através da pele de suas faces coradas, o clima romântico entre eles tinha sido completamente arruinado. Yuri escondeu o rosto no peito do mais velho, desejando que o chão se abrisse para inflar a cabeça nele. Quanta vergonha!

– Vamos levantar–  o moreno se pronunciou, estava vermelho com o constrangimento, mas sua voz continuava a mesma, forte e fria– o café provavelmente já está posto.

O loiro separou-se do moreno e se encaminhou até o banheiro para fazer sua higiene matinal _ após o alfa dizer que haviam escovas e toalhas extras numa gaveta de um dos armários do banheiro. Otabeck, por outro lado, pegou uma muda de roupas e foi fazer sua higiene no banheiro do corredor. Ao acabarem tudo, o maior guiou Yuri por entre os corredores da mansão até a sala de jantar, onde a mesa já estava posta e organizada para receber os habitantes da casa que acordavam um a um. Yuri notou que o moreno que os interrompeu já se encontrava no enorme cômodo e conversava com uma morena de estatura média e cabelos negros vestida com um uniforme branco e preto, provavelmente a cozinheira ou governanta da casa.

O moreno notou a presença dos dois na sala de jantar, se virando e dando um belo sorriso junto a um caloroso bom-dia. Assim que dispensou a mulher com quem conversava, abraçou o alfa e recebeu um beijinho na testa como forma de comprimento. O loiro ao lado só os olhava e uma dúvida surgia por entre seus neurônios:

“ qual é a relação desses dois?” por algum motivo, um nó surgiu na boca de seu estômago. Desviou os olhos da cena e tratou de sentar-se em uma das cadeiras da enorme mesa tentando ignorar aquela sensação ruim. “isso não é ciúme!”.

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora