Sangue e Lençóis

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Assim que sentiu algo se romper sobre suas presas, Victor pode enfim retirá-las da carne macia do pescoço de Yuuri. O gosto metálico do sangue não era agradável, seu peito ainda doía e se revirava em pura agonia como resposta aos gritos de dor e desespero que ouviu. Sabia que a marca era algo bom, mas que o ato de fazê-la era uma experiência traumatizante e dolorosa para ambos os lados _ o ômega pela dor insuportável e, para o alfa, a culpa por fazê-lo sofrer. Seu nó enfim se desfez e pode se desconectar do corpo dele, a cena para ele não era agradável, e nem tão pouco bonita, havia sangue saindo da ferida na nuca e mesmo desmaiado os músculos de Yuuri estavam contraídos e tendo leves espasmos com a dor.

Tinha feito tudo sem avisar e ainda por cima estava despreparado!

Levantou as pressas e correu até o banheiro, quase caindo ao tropeçar nos lençóis da cama e nem se importou com sua nudez. Cuidar de Yuuri era prioridade! Pegou algumas toalhas secas no armário da pia e umedeceu uma com água morna, voltou com elas e se pôs a limpar aquilo tudo. Estava feio, tinha machucado demais! Estava sangrando, muito aquilo era normal?! Limpou até que o sangramento diminuísse e deixou uma toalha seca por cima. Revirou apressado as malas e agradeceu por achar o que procurava na terceira, Yuuri sempre carregava um pequeno _ porém útil _ kit de primeiros socorros, ele dizia que por se muito desastrado vivia trombando nas coisas, então sempre levar isso consigo era essencial, o quanto agradecia por isso! Conseguiu fazer um curativo ali com pomada analgésica e gaze e depois enfaixou cuidadosamente, suas habilidades em enfermagem não eram lá grandes coisas, mas sabia fazer o básico.

Aos poucos, pode ver a expressão de Yuuri suavizar e se tornar tranquila após alguns minutos. Pode respirar aliviado. Mas ainda tinha coisas a fazer, começou retirando o travesseiro manchado e rasgado de debaixo dele e o acomodou em outro, depois retornou ao banheiro e descartou as toalhas manchadas e pegou uma limpa _ agradecia a mania dos hotéis em deixar várias à disposição _ e a umedeceu com água limpa, limpou cuidadosamente o corpo dele, era mais uma forma de acalmar sua cabeça gritante do que outra coisa, e depois tomou um longo banho e escovou os dentes. O gosto do sangue parecia insistente em sua língua. Ao terminar tudo, colocou um pijama nele e em Yuuri e deitou ao seu lado, velando por seu sono e conforto.

***

Já pela manhã, os olhos castanho-avermelhado se abriram devagar, sentia-se pesado demais para ter vontade de se mover. Parecia a manhã seguinte a um porre de vinho barato. Sua cabeça girava e tinha o sentimento estranho de ter algo preso na garganta, estava sozinho na cama e seu peito parecia apertar ainda mais com isso. O sentimento de solidão era excruciante e se mesclava com uma culpa leve, quase ténue, que não sabia de onde vinha. Varreu o quarto com o olhar e percebeu que o russo não estava ali, provavelmente estaria no outro cómodo _ uma mistura de sala e cozinha que servia para as refeições e tinha alguns eletrónicos para preparar coisas rápidas. Não lembrava muito da noite passada, a partir do momento em que foi posto na cama aos beijos com o russo tudo era um borrão estranho, uma mistura de sons, cheiros, sensações e...dor?

Passou os dedos no pescoço e passeou por ali, onde sentia o desconforto quase sufocante, e constatou uma atadura fina que parecia ter sido trocada a pouco. Tinha se machucado? Escorregando no banheiro ou algo do tipo? Estava desconfiado e confuso, mas precisava ir ao banheiro, se arrastou pela cama até por os pés no chão e forçar pra se erguer, mas os joelhos cederam e caiu com tudo no tapete, soltou um gemidinho de dor com o impacto e se apoiou na cama pra se sentar. Suas pernas estavam dormentes e, agora mais acordado, sentia o cheiro fraco de sexo e sangue que o quarto guardava por culpa das janelas fechadas. O que tinha acontecido ali? Passos pesados e rápidos se aproximaram e o platinado surgiu feito um furacão, quase trombando com o batente da entrada sem porta que separava os cómodos. Via preocupação nos olhos azuis e sentia medo emanando dele.

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora