A Single Cold Rose

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Alisava os cabelos negros do anjo deitado sobre aquela cama de hospital. Dormia tão tranquilamente sob o efeito da anestesia que já estava se perguntando se não poderiam dar mais a ele, se Yuuri poderia ficar em estado de letargia até estar pronto para dar a notícia. Seus olhos ainda ardiam por culpa do choro desenfreado de minutos antes, seu rosto estava marcado pela vermelhidão e o inchaço destacavam ainda mais o azul, agora desfocado e pálido, dos belos olhos do russo. Tinham perdido algo que queriam muito, como dizer isso a ele, olhando para os olhos castanho-avermelhado? Provavelmente seria desastroso.

Suspirou pela milésima vez, encolhendo na poltrona e abraçando os joelhos com um braço, enquanto a outra mão ainda acariciava os cabelos negros e lisos. Que situação, pensou, estava perdido.

- se quiser...- o médico, que sequer se lembrava que estava ali, começou com uma voz baixa e neutra - eu posso dar a notícia, vai ser melhor assim - o platinado apenas concordou com um aceno de cabeça, rouco demais para proferir uma única palavra- é melhor que saia um pouco Sr Nikiforov, alguém ficará aqui por enquanto. Vá para casa e tente relaxar um pouco, não irá ajudá-lo se continuar assim - o platinado apertou mais os dedos, negando com a cabeça. O médico suspirou, desistindo - tudo bem então, me chame caso ele acorde. Tente melhorar sua expressão, ele precisará de repouso por enquanto - deixou o quarto, dando de cara com a família que esperava na área de espera ali perto. Dois loiros eram amparados por seus parceiros, um grávido que chorava silenciosamente escorado em Otabeck e o pai do ômega internado, este não chorava, mas demonstrava claramente sua dor.

Dentro do quarto, Victor se levantou e seguiu ao banheiro. Lavando o rosto na pequena pia, tentando melhorar um pouco as feições, Yuuri precisava dele agora, mais do que nunca. Se viu no espelho, estava um caco, orelhas e nariz vermelhas assim como ao redor dos olhos inchados e cabelos bagunçados quase ao extremo. Tentou se ajeitar como pode, molhando a nuca para ver se refrescava, tentando se acalmar. Seja qual fosse a reação de Yuuri, ficaria ao seu lado para dar conforto e tudo mais que precisasse. Quando retornou ao quarto olhos castanhos o encaravam confusos e um pouco trêmulos, provavelmente pelas luzes do quarto. A voz rouca o chamou, baixinho e docemente como sempre, mas estancou no lugar o olhando com uma culpa que não era de nenhum dos dois, quando enfim conseguiu ir até ele, apenas se sentou na beirada da cama olhando para os dedos cruzados e cotovelos apoiados nas coxas. Uma pose cansada e frustrada tão atípica quanto a situação.

- Vitya?...- a voz ainda estava baixa. O olhou nos olhos, os azuis umedecendo novamente - o que aconteceu? Por que está chorando?

- Yuuri, se lembra de alguma coisa da noite passada? - o ômega estranhou. Lembrava de ter ido dormir e acordar no meio da noite para ir ao banheiro por algum motivo que não sabia direito, mas o que aquilo tinha haver com acordar em um quarto de hospital? Tinha batido a cabeça contra alguma coisa? Desmaiou do nada?

- eu não sei, aconteceu alguma coisa? - o platinado sorriu disfarçando, sem coragem pra tomar uma atitude como sempre. Apenas o aninhou em seus braços num abraço apertado e apertou o botão na cabeceira da cama, achando o médico. Covardemente entregando seu dever a outra pessoa, como sempre fazia. O doutor entrou nos aposentos alguns minutos depois, Yuuri olhava a tudo confuso, não sabia como reagir às ações do platinado e a tudo aquilo.

- bom dia, Sr Katsuki. Como se sente?

- cansado e confuso. Pode me dizer o que está acontecendo? - perguntou e sentiu os braços ao seu redor apertarem mais e o médico suspirou. Era difícil dar uma notícia daquela para alguém com quem já conviveu por tanto tempo e sabia a história e desejos, sabia que seria uma pancada forte e temia as reações e seu paciente.

- o senhor deu entrada aqui aproximadamente às três da manhã com fortes dores e hemorragia - deu uma pausa para respirar- acontece, que em sua condição o útero não tem elasticidade o suficiente para comportar o crescimento de um feto, então seu corpo o expulsou. Eu sinto muito - evitou ao máximo utilizar a palavra aborto, tentando suavizar a narrativa.

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora