Cicatrizes e Marcas

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Cicatrizes; marcas eternas que são cravadas na pele. São símbolos de dor, marcas que uma ferida deixou para trás como forma de mostrar que esteve ali, nem todas elas são visíveis aos olhos e algumas são tão profundas que lesam seus portadores até levá-los a loucura. Mas aquela cicatriz, tão pequena e quase imperceptível, carregava um significado diferente. Aquele pequeno risco alguns poucos tons mais escuros que a pele alva daquele belo ser, carregava lembranças de um dia especial. Uma marca de um primeiro encontro, algo que ficaria gravado eternamente ali...

– Yuuri? É você, não é?– o olhar do alfa parecia transbordar expectativa e confusão, os dedos ainda entrelaçados aos do ômega sentiram o tremor do outro corpo. O moreno ainda permanecia atónito, abriu a boca para pronunciar algo mas a fechou em seguida, parecia surpreso demais. As palavras não lhe ultrapassaram a barreira dos lábios.

–e-eu achei que não se lembrava mais de mim– as palavras do de cabelos escuros só confirmaram as expectativas do russo, que o puxou para um abraço apertado. Sua mente formulava diversas perguntas enquanto seu coração acelerava, o nome Yuuri Katsuki se repetia e reverbera em sua cabeça como um mantra, era como um sonho tê-lo em seus braços, sentindo seu cheiro _  ou ao menos pode fazê-lo dias atrás, sentindo seu calor. Ele estava novamente ao alcance de suas mãos.

–como eu iria esquecer? minha pequena bolinha de marshmallow – o outro riu com a comparação. As mãos de Victor subiu para o rosto de Yuuri, acariciando levemente num ato de adoração.– aquele dia foi um dos mais felizes de minha vida, eu não podia simplesmente deletar de minhas lembranças.

–para mim também Victor, foi um dos mais felizes de minha vida, ao menos quando estive ao seu lado– apoiou uma mão sobre a do outro e deitou sua face sobre a mão grande e de textura um pouco mais grossa que a própria. Os olhos tão melancólicos que doíam na alma do platinado.

–me conte o que houve, por favor– pediu com carinho, os olhos escuros se fecharam e o ômega se aconchegou mais para perto do outro. Victor não podia sentir o cheiro de Yuuri,por isso não conseguia distinguir muito bem todos os sentimentos que atormentavam o mais baixo, mas este era tão transparente que conseguia ler parte deles através de seus olhos e ações. Ele estava triste, incomodado e com...medo?

– no dia seguinte ao nosso encontro...– iniciou após um momento de hesitação– quando estávamos voltando para casa, já no Japão, estava chovendo muito e um caminhão nos fechou na estrada, o motorista estava bêbado...– resumiu o máximo que pode a história de como perdera sua família de sangue, o assunto o deixava muito desconfortável e estava temeroso com a reação de Victor a notícia completa– meus pais morreram na hora e eu fiquei em coma por uns dias, com ferimentos graves e tive que passar por várias cirurgias de risco. Os médicos disseram que tinha sido um milagre eu ter sobrevivido.

O coração do alfa se apertou, seus instintos diziam que deveria abraçá-lo e o mimar até aquela tristeza ir embora, porém, não sabia se ele se sentiria confortável com isso então apenas se limitou a acariciar a face alheia. Tentando transmitir conforto, mesmo que apenas uma pequena parcela do que realmente desejava doar a Yuuri. Mas ele ainda permanecia temeroso.

– você sabe que eu sou um ômega, não é? – sua voz era pesada e carregava um que de alguma coisa que Victor não pode identificar, talvez fosse medo, talvez fosse uma pergunta retórica, não sabia dizer.

– Já desconfiava– respondeu, recebendo uma risada anasalada como resposta. O ômega levantou-se e começou a abaixar os suspensórios da saia, Victor se surpreendeu e corou com a atitude, mas Yuuri apenas abaixou parte da cintura da saia e puxou um pouco a blusa clara mostrando aquela cicatriz que tanto lhe angustiava. O platinado não conseguiu compreender a atitude, mas pelas mãos trêmulas do outro, sabia que o assunto não seria agradável.

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora