Olhos nos Olhos

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(AVISO: quando o Yuuri, vestido de Yuuki, estiver perto de alguém que não saiba de seu segredo será tratado com adjetivos femininos)
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Atravessaram os corredores seguindo o tailandês enquanto uma conversa animada era trocada entre o platinado e o moreno, não se viam há quase dois anos por culpa do trabalho. Yuri, mais atrás, mexia no celular tentando ignorar as baboseiras que falavam, mexia em uma rede social qualquer quando os dois a sua frente lhe dirigiram.

–chegamos– pronunciaram, já abrindo a enorme porta dupla de madeira escura. Deram de cara com um acúmulo considerável de pessoas e equipamentos de filmagem e iluminação. Repórteres e fotógrafos iam de um lado a outro como loucos, pedindo entrevistas e fotografia exclusivas dos atores, modelos e empresários presentes. Se espremeram por entre todos até a área reservada do elenco, onde tinha menos pessoas e estava mais calmo.

– atrasados!– notaram, tarde demais, a aproximação do Feltsman. O mais velho, que estava desde cedo ouvindo as reclamações dos produtores pelo atraso dos dois russos, tratou de despejar mais uma de suas broncas quilométricas sobre os recém-chegados. Victor com sua capacidade de ignorar completamente as broncas de Yakov, varreu a sala em busca de um rosto tão bem conhecido.

E lá estava ela, de pé ao lado de algumas pessoas e conversando com Minako, vestida de preto e vermelho. Tão delicada quanto as asas de uma borboleta e tão obscura quanto seu papel ditava, a mistura perfeita entre a inocência da atriz e a personalidade indomável e impetuosa de Elizabeth Bathory, a condessa de sangue a qual iria interpretar. Os olhos castanhos se dirigiram a si, como um farol em meio a escuridão. Era incrível, mesmo depois de uma rejeição tão clara a beijá-lo naquela roda gigante, Yuuki ainda era uma figura etérea, que o atraía como a luz seduz mariposas. Sabia que se aproximar seria difícil, mas estava disposto a tentar.

Observou, com uma gota de desconforto e ciúme não intencional, quando Otabeck,  um alfa com uma presença tão forte quanto a sua própria, abraçou a atriz por trás e apoiou o nariz em seus cabelos, sussurrando algo que fez Yuuki corar e abaixar a cabeça constrangida. Nessa hora queria ter a melhor audição do mundo!. Algo dentro de si se desagradou, forçando um rosnado baixo deixar sua garganta e escapar por entre os dentes.

– Não rosne para mim, pirralho ingrato!– ouviu Yakov gritar, assustou-se, voltando sua atenção ao outro russo calvo. Ele tinha entendido errado a situação, tentou explicar-se, mas só se complicou ainda mais. Com um suspiro, olhou novamente para a garota. Azul e chocolate se encontraram de surpresa, ela o estava encarando, tão profundamente que demorou alguns segundos para ela perceber que foi descoberta e virar a cabeça para o outro lado. Escarlate de vergonha!

Continha uma risada quando um certo tailandês retornou ao seu lado. Os olhos cinza escuro analisando as feições perfeitas do platinado.

– ora, ora senhor Nikiforov – cutucou propositadamente a bochecha do russo com o indicador, esboçando um sorriso travesso nos lábios.– Que olhar é esse, em? Tãaaao compenetrado naquela bela e solteira senhorita.– desceu o dedo, apoiando sobre o preto esquerdo do outro, o girando em espiral– Alguém aqui teve seu coraçãozinho roubado?

– do que você está fal…

– porém, Victor...– cortou abruptamente o russo, com um olhar sério e inseparável vindo se alguém tão amigável e desprendido como o Chulanonth – cuidado para esse mesmo coração não estar carregando facas e bombas, Nikiforov. – encerrou com um tom sério e acusatório, como se tivesse certeza de que cada palavra carregava uma verdade inegável.

–Phichit-kun!– Yuuki, o foco da estranha conversa, gritou do outro lado do estúdio, chamando a atenção do Alfa e do beta. O tailandês correu por entre todos, se jogando encima da atriz e a abraçando com força.

Ainda no mesmo lugar, Victor tentava processar as informações com seu cérebro absurdamente lento.

O que o beta moreno quis dizer-lhe com isso?

***

Aquela sessão de fotos não podia estar sendo mais ridiculamente monótona e chata. Pra inicio de conversa, ainda sequer haviam começado a fotografar o elenco principal, e já haviam se passado duas horas que estavam ali. Entre entrevistas e ladainhas sem importância, o Plisetsky conseguiu esgueirar-se por entre todos e escapar para fora da sala, dando sorte de ter decorado o caminho, e encontrar uma varanda meio afastada.

Estava sozinho, sem ninguém para importuná-lo ou encher seus ouvidos com broncas quilométricas da qual dormiria na metade. Tirou de um de seus bolos uma carteira de cigarros e um isqueiro, usando apenas uma mão para empurrar um dos palitos brancos até os lábios e o acender com a labareda fina do isqueiro com estampa de tigre. Deu uma tragada profunda, sentindo a fumaça descer por sua garganta e a nicotina começar a relaxar um pouco seus nervos em polvorosa.

Não lembrava em exato quando iniciou esse hábito de fumar, mas essa _ e acariciar Afrodite, sua gata himalaia _ era uma das poucas coisas em sua lista quase nula de coisas que o tranquilizava, mesmo que temporariamente. Escorou-se no beiral da sacada, deixando-se levar pela sensação de paz. O vento ainda era meio frio, mas o alimento considerável de temperatura acusava que o inverno logo acabaria e a primavera viria com força total, para mostrar toda a exuberância sublime daquele país.

Antes de viajar para o Japão, havia lido artigos sobre suas curiosidades, e encantou-se com as mesmas. Seus festivais, datas comemorativas e tradições, estava curioso com cada uma dessas singularidades, e, acima de tudo isso, estava curioso sobre a primavera, sua estação predileta, e suas variedades com a famigerada Sakura, a cerejeira que floria completamente anunciando o início da estação das flores. Estava ansioso.

– alguém tão belo não devia estragar sua saúde com algo tão nocivo como o tabaco– uma voz grossa e forte se fez presente, inundando seus volvidos, suas pernas tremeram e seu coração quase pulou pela boca. Não soube dizer se foi pelo susto ou pela voz do desconhecido ser tão sexy e autoritária.

– cuide da sua própria vida, seu intrometido– virou-se para a entrada da varanda, uma enorme porta de vidro e madeira pintada de branco. Um belo moreno, de corpo bem trabalhado e trajando calça jeans escuras e um suster colado e bem emoldurados ao corpo, estava escorado no beiral da porta e o mirando de cima a baixo com um olhar indecifrável e expressão imutável. Não devia ser mais alto que o loiro, tinham praticamente a mesma altura, pelo cheiro constatou que era, inegavelmente, um alfa.

Ele apenas soltou uma risadinha baixa, quase imperceptível, que fez a tez pálida das bochechas do loiro esquentar e se tingir de vermelho.

Continua...

Heart Of Kaleidoscope [Victuuri/ Otayurio]Onde histórias criam vida. Descubra agora