Quando eu acordei na manhã seguinte, demorei um pouco pra me situar. Eu conseguia ouvir chuva batendo na janela. Eu abri os olhos e encontrei Caroline quase em cima de mim, seu rosto calmo sobre meu peito, os olhos fechados e a boca entreaberta respirando baixinho. Seus braços estavam ao redor da minha cintura e metade do seu corpo estava em cima do meu, suas pernas espalhadas no colchão formando um "4".
Eu respirei fundo e fechei os olhos por um momento antes de olhar ao redor e vi a cortina branca filtrando boa parte da claridade. Aparentemente a chuva apesar de forte, não era suficiente para deixar o céu da manhã completamente escuro. Eu voltei meus olhos para a ruiva sobre mim e suspirei não resistindo em passar a mão pelo cabelo dela. Minha vontade era afundar os dedos entre os fios, mas como seu cabelo estava espalhado, eu não tinha dúvida que tinham vários nós e que ela iria acordar caso eu passasse os dedos por algum.Eu suspirei e olhei o teto inquieta.
Ela era tão linda.
Voltei os olhos para Carol.
Aquela bochecha fofinha amassada contra a minha pele, a expressão calma e a boca entreaberta. Eu queria mordê-la. Parei de mexer em seu cabelo, antes que eu me descontrolasse e apertasse aquela bochecha. Eu observei Carol se mexer e franzir o cenho, ela se mexeu escondendo o rosto entre meus seios e resmungou, logo se apoiou em seus braços ficando basicamente sobre mim. Eu a observei esfregar uma mão delicada pelo rosto e ela abriu os olhos lentamente até me olhar.
-Bo... -Ela se interrompeu, a voz rouca e lenta mal saindo, limpou a garganta incomodada e me olhou novamente. -Bom dia Day.
-Bom dia Carol. -Eu sorri e ela se sentou na cama, a coberta descobrindo o corpo pálido enquanto ela passava a mão no cabelo tentando o ajeitar. -Gostosa.
E então Carol parou e me olhou vermelha. -O que você disse?
Bom, agora não adiantava retirar. Eu já falei mesmo.
-Eu disse que você é gostosa. -Falei e me sentei.
A ruiva me encarou por alguns segundos antes de bater no meu braço e se levantar da cama.
-Idiota. -Eu franzi o cenho.
-O que eu fiz? -Perguntei confusa e ela me olhou sobre o ombro sorrindo do jeito que só ela sabia antes de se levantar.
-Se viste logo, eu quero comer alguma coisa antes de ir pro dormitório.- Ela disse e eu assisti ela caminhar até o banheiro.
Eu me levantei da cama e olhei ao redor do quarto procurando meu celular.
(9) ligações perdidas de: 11 9777-8669
Eu franzi o cenho e fiquei olhando pelas mensagens dos meus amigos me perguntando onde eu estive a noite toda. Caroline saiu do banheiro e ficou me encarando por algum tempo na porta, eu me senti incomodada e a encarei de volta.
-O que foi? -Eu a analisei, ela estava de braços cruzados já vestida encostada no batente da porta do banheiro e me olhando.
-Eu não sabia que você tinha mais tatuagens. -Ela se aproximou olhando minha costela e fez uma careta. -Não doeu?
Eu tinha algumas tatuagens pelo meu corpo, mas acho que com a chuva que estava tendo ultimamente eu não tinha tido nenhuma oportunidade de mostra-las. Eu tinha "Honey" escrito na costela.
-Doeu? -Ela perguntou curiosa.
-Não muito... Foi uma tatuagem rápida de fazer. Então não doeu tanto. -Eu a observei passar os dedos por cima da tinta gravada no meu corpo.
Eu observei os olhos castanhos atentamente enquanto eles observavam meu corpo, os dedos deslizaram pelo meu abdome e eu engoli em seco. Carol olhou em meus olhos e eu encarei cuidadosamente seus lábios entreabertos.-Não vai se vestir? -Ela perguntou se afastando, seus dedos deixando minha pele como se ela tivesse se queimado.
-Vou, só estava estranhando umas ligações que um numero desconhecido me fez...- Entreguei meu celular para ela.
Eu coloquei a calça e a camiseta e estava para colocar o sapato mas Carol ainda encarava a tela do meu celular.
-Algum problema? -Perguntei a e amarrei meu tênis.
-Esse número é da Vitória. -Ela falou e deixou o celular no colchão encarando o chão um pouco perdida.
Eu me aproximei e peguei o celular o colocando no meu bolso de trás junto com a minha carteira e puxei a ruiva pela mão para a levantar e a abracei. Ela suspirou e deixou a cabeça repousar no meu ombro. Depois de alguns segundos me afastei deixando uma mão na cintura dela.
-Ainda quer comer? -Ela sorriu e revirou os olhos.
-Você é a pior pessoa que eu tive a sorte de conhecer. -Ela empurrou meu ombro antes de passar por mim e eu ri.
-Você já não vive sem mim, admita. -Ela parou na porta e se virou.
-E o que você vai fazer se eu admitir? -Eu a olhei abrindo e fechando a boca. - Foi o que eu pensei. -Ela implicou antes de sair do quarto.
Eu ri baixo e neguei com a cabeça.
-Você não existe, Carol.
______________
Eu me sentei com Carol em uma das mesas da lanchonete e suspirei sentindo o cheiro de comida, meu estômago doeu pedindo misericórdia, eu precisava comer.
-O que você vai comer? -Encarei Caroline e ela abriu o cardápio.
-Acho que vou com o combo dois e um milkshake. -Ela fechou o cardápio e apoiou a cabeça nas mãos. -Você vai pedir o que?
-Um sanduíche e um chá. -Dei de ombros. -Tá cedo demais pra batatas fritas. -Carol me olhou como se estivesse pessoalmente ofendida.
-Nunca é cedo demais pra batata frita!
Eu ri e ela fez um bico que eu quis me rasgar por dentro de emoção.
Após comermos entre risadas, saímos do restaurante para andar pelas ruas de São Paulo. Suas mãos estavam pálidas de frio por conta do vento, se escondendo no bolso do moletom do The 1975 antes de tirar um fone sem ouvido e me entregar um lado.
-Coloca.
Sorri para Carol e aceitei o fone. Tudo de repente parecia poético, incluindo a presença dela.
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1460 dias de você (DAYROL)
Romance1460 Dias de Você é um romance sobre Dayane, uma jovem recém mudada de Goiânia, matriculada em uma faculdade em São Paulo em busca de realizar seu sonho de ser uma artista visual. Após se mudar para o dormitório da sua nova faculdade, ela conhece e...