O Boss

Capitulo 2

Quatro semanas depois

Cento e quarenta e dois, cento e quarenta e três, cento e quarenta e quatro...O ultimo azulejo do teto, lá ao fundo está partido. Esta agora. Tenho de chamar o pedreiro antes que começasse a prejudicar a minha contagem diária, causando-me stress, em vez de me ajudar a alivia-lo.

Estava ainda deitada no chão do meu quarto, depois de falar com o Lourenço um tipo que conhecera no supermercado na semana anterior (em vez dos habituais engates de bar, que nunca pareciam correr muito bem). Ele ligou-me para dizer que ira ficar preso no trabalho e ira chegar uma hora atrasado ao nosso segundo encontro (nunca mais fui sair com o Filipe, mas o Lourenço é bem mais inteligente e consegue ter uma conversa que não seja sobre a mãe), o que para mim era ótimo pois estava cansada e não me apetecia levantar. Respirei fundo, para me purificar, fechei os olhos e concentrei-me na minha respiração. Quando finalmente me acalmei, levantei-me, retoquei a maquilhagem e enchi um copo de vinho branco, antes de pegar no portátil.

Pesquisei empregos de marketing em Nova Iorque, no empregos.com, durante cerca de cinco minutos, até que me aborreci e fui para o instagram, como de costume. Procurar emprego e uma seca. Percorri as antigas publicações dos meus amigos e vi as mesmas coisas de sempre— Fotografias de comida, dos filhos e da vida que queriam que acreditássemos ser a deles. Uma fotografia de um tipo que conheci no secundário, com o filho recém-nascido nos braços, apareceu-me no feed, e eu lembrei-me imediatamente do homem com quem não andara no secundário: Matheus Carter.

No ultimo mês, pensei mais vezes no meu colega de escola fictício do que gostaria de admitir. Lembrava-me dele ao ver certas coisas. Um pote de manteiga de amendoim quem estava o expositor de ultima hora ao pé das caixas de pagamento (e que acabei por comprar); uma fotografia do Chris Hemsworth (que passaria facilmente por irmão gêmeo do Matheus Carter) ao folhear uma revista no consultório do meu dentista; o meu vibrador, que guardo na gaveta da mesa de cabeceira (não o usei, mas pensei em usar, pois até gradei a pagina da revista).

Desta vez, ao pensar novamente no homem, dei comigo a digitar o nome dele a barra de pesquisa. Quando o rosto dele apareceu no ecrã, suspirei alto e senti umas palpitações estranhas no peito, o que me pareceu absolutamente ridículo. MEUS DEUS!! Ele era ainda mais bonito do que me lembrava. Cliquei sobre a fotografia, para dar zoom. Estava de roupa desportiva — uma t-shirt branca, uns calções rasgados no joelho e uns tenis pretos. Ficava-lhe bem. Após cerca de um minuto a apreciar a beleza do homem, reparei que a t-shirt tinha um emblema: Ginásio Iron Horse. Havia um desses no quarteirão do restaurante onde tínhamos jantado. Perguntei a mim mesma se ele moraria ali perto.

Infelizmente, não iria descobrir, pois o seu perfil era privado e a única foto que podia ver era a do perfil. Para ver mais, teria de lhe enviar um pedido e esperar que ele aceitasse. Embora e sentisse tentada a fazê-lo, pus a ideia de parte. Iria achar que era louca ao enviar um pedido de seguir a um tipo que me considerava uma cabra, um mês depois de nos conhecermos numa saída com outras pessoas.

Porém, nada me impediu de guardar a fotografia, para mais tarde poder apreciar. Após mais alguns minutos a sonhar acordada com aquele homem, dei um sermão adulto e incentivador a mim mesma. Tens que encontrar um emprego, tens apenas mais uma semana de trabalho depois desta.

Sai do Instagram.

Resultou e passei os 50 minutos seguintes a pesquisar anuncios de oferta de emprego, à procura de alguma coisa —qualquer coisa — tem que ter alguma coisa a ver com marketig de cosmética, ou algo parecido. Sabia que não deveria apostar nas duas entrevistas que tinha marcado até agora, mas as opções não eram muitas. Havia ja perdido a esperança de vir a encontrar um emprego para substituir o que tinha há sete anos, e que até há pouco tempo adorava, quando a campainha tocou.