Capitulo 27

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Carolina:

O Evandro, o cunhado do Matheus, acabou de nos fazer o ponto de situação e voltou para junto da mulher. Estava com uma roupa azul de hospital, uma touca e uns sapatos de papel azuis, a condizer, por cima do calçado da rua.

Qual é a diferença entre aquilo que ele trazia vestido e a roupa de rua? — perguntou o Matheus. — Andou a passear pelo hospital e saiu da sala de espera com aquela indumentária. Está tão esterilizada como a roupa que trago vestida.

— Tens uma certa razão — disse eu. — Talvez façam o pai vestir aquilo para que ele sinta que faz parte da equipa.

— Talvez, mas do que conheço da minha irmã, o Evandro deve ser o único membro da equipa que ela esta a decompor, neste preciso instante, em pleno trabalho de parto.

Encolhi os ombros.

— Isso parece-me justo, se queres que te diga. Não foi ele que teve de carregar uma bola de bowling durante nove meses e não é ele que tem de sofrer durante o parto. O máximo que pode fazer é suportar uns maus tratos.

O Matheus dirigiu-me um sorriso.

— Ah sim?

— Sim.

Como só estávamos nós na sala de espera, levantei as pernas e aconcheguei-me a ele. O Matheus puxou-me contra si e pôs um braço a minha volta.

— Tencionas decompor o teu marido um dia?

Era uma pergunta estranha.

— Não diariamente, espero eu.

Ele riu-se baixinho.

— Na sala de partos, quero eu dizer. Estava a perguntar-te se pensas ter filhos um dia?

— Ah, bom — disse eu, a rir. — Essa escapou-me por completo.

— Deu para perceber pela tua resposta.

Pensei um pouco antes de responder.

— Nunca achei que ia casar, muito menos ter filhos. Acho que os meus pais não nos deram grande exemplo. Mesmo antes de tudo aquilo acontecer ao Gonçalo, passavam a vida a discutir. Lembro-me de brincar às casinhas com a minha melhor amiga Bruna, quando andávamos na escola primária. Ela fingia que era a mãe e estava a fazer um bolo, no fogão de brincar, e eu era o pai que chegava a casa e armava uma discussão. Um dia a mãe dela ouviu-no a fingir que discutíamos e pensou que fosse mesmo a serio. Quando lhe dissemos que estávamos a brincar às casinhas, ela perguntou-nos o porque de estarmos aos gritos, e eu expliquei que o papá tinha chegado a casa. Lembro-me de ela ficar a olhar para mim sem saber o que dizer.

O Matheus encostou-se mais a mim.

— Alguns anos depois, comecei a perceber as coisas e percebi que nem toda as famílias eram assim. Mas nessa altura já eu espreitava para baixo da cama duas e três vezes quando entrava em casa. Acho que era o medo de encontrar alguém escondido no meu apartamento que me impedia de me imaginar com a minha própria família.

— Parece-me que o que tu precisas realmente é de alguém que te dê segurança. O resto vem como um bónus.

Afastei a cabeça daquela cova confortável do ombro e olhei para ele.

— Talvez tenhas razão.

Era bom se fosse assim tão fácil.

Às 5 horas da manhã fomos acordados por uma voz bem alta. O Evandro parecia exausto, atordoado e absolutamente fora de si de tão feliz que estava, ao anunciar-nos que o seu primeiro filho já tinha nascido. Ele e o Matheus abraçaram-se e falaram durante alguns minutos, até que o Evandro lhe disse que era melhor ir ver como estava a mulher.

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