Capitulo 17

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Carolina:

Acordei com uma pequena mordidela no lóbulo da minha orelha.
O que...

A noite de ontem. A noite de ontem. Oh, meu Deus! Será?

Entrei em pânico e fiquei momentaneamente paralisada na cama, massacrando o meu cérebro todinho pela ressaca para me tentar lembrar do final da noite. Depois senti uma para bater-me no queixo. Que alívio!

— Nossa! — resmunguei. Virei-me e deparei-me com a Aisha a lamber-me a orelha e a bater-me de leve no rosto. Tapei a cabeça com o lençol para a impedir de continuar, mas ela não se deixou intimidar e subiu para cima de mim, instalando-se sobre o meu peito.

—Miau — disse ela, dando marradinhas ao lençol que me escondia. Tentei levantar o pescoço, mas doía-me demasiado a cabeça.

—O que é que tu queres?

—Miau.

—Ui — Até o miar dela era doloroso. Parecia que tinha um minúsculo baterista a fazer aquecimento dentro do meu crânio. A batida, sem ritmo, era como  se só soubesse tocar no prato. Ui.
Mas o que é que eu bebi ontem?

Lembrava-me do Matheus aparecer e de eu o arrastar para a pista de dança para poder tocar o meu corpo no dele e por à prova a sua força de vontade. Oh, meu Deus! Eu tentará levar o Matheus a fraquejar e fiz disso um jogo.

Dé-mos umas boas gargalhadas entre aqueles horríveis agora de aguardente de hortelã-pimenta. O Cris e a Bruna acabaram por se juntar a nós. Lembro-me que estavam bastante aconchegados um no outro. Mas, depois disso, tudo se tornou um pouco mais nebuloso.

Vim de táxi para casa.
Lembrava-me de me sentir cansada.
Muito cansada.
De sentir necessidade de fechar um pouco os olhos e encostar a cabeça, enquanto atravessávamos a cidade.
A minha cabeça.
E pousei-a, de facto..., no colo do Matheus.
Lembrava-me de ele me acordar e de roçar com a cabeça na braguilha das duas calças, ao levanta-la.
Oh, meu Deus!
Ele estava com uma ereção. E eu fiz um comentário sobre isso.
Bestial!
O Matheus ajudou-me a sair do táxi e pediu ao taxista para não desligar o taxímetro.
O elevador demorou uma eternidade. Quando entrei, encostei-me ao seu peito e respirei fundo, cheirando-o de perto.
Oh, meu Deus!
Disse-lhe que cheirava tão bem que me apetecia comê-lo.
Sugeri-lhe que comprasse uma cabana no bosque e cortasse lanha em tronco nu.
Ele aninhou-me firmemente nos seus braços enquanto nos dirigíamos para o meu apartamento. Vendo a coisa em retrospetiva, talvez eu precisasse mesmo do seu apoio para caminhar.
Chegamos à minha porta.
Lembro-me vagamente de o abraçar pelo pesco e de o convidar a entrar. Ele sorriu e abanou a cabeça.

— Nada me daria mais prazer do que entrar, por várias razões — disse-me ele, beijando-me no alto da cabeça. No alto da cabeça! — Mas não assim. Vê se dormes um pouco. —Tirou-me as chaves da mão, destrancou a porta e esperou que eu entrasse.

Uma das últimas coisas que me lembrava era de o ver encostado à ombreira da porta, com os braços cruzados, e de o ouvir dizer:

—Terminamos este jogo para a semana. As coisas vão tornar-se bastante mais divertidas no escritório, isso é mais do que certo.

Um pouco mais tarde, nessa manhã, cancelei o meu almoço com o Matheus, pois estava demasiado ressacada para sair da cama. Ele tentou persuadir-me a adiar para segunda-feira, mas fui evasiva e acabei por deixar de responder às suas mensagens.

—Bom dia! — O Matheus estava à entrada do meu gabinete, exatamente na mesma posição da outra noite, à porta do meu apartamento.

Eu passei o dia anterior a preparar-me psicologicamente para isto. Era uma profissional. Podia perfeitamente abstrair-me do que se passara no sábado à noite e trabalhar na presença do Matheus como se nada tivesse acontecido. Olhei para o meu telemóvel...
Eram 7h05 da manhã de segunda-feira e já estava a falhar.
Boa, Carolina!

O BossOnde histórias criam vida. Descubra agora