Carolina:
Uma vez encerrado o segundo dia de grupos de discussão, regressámos a Nova Iorque num voo ao início da noite. Depois de trabalharmos lado a lado, durante o dia, e dormirmos aninhados nos braços um do outro, fui percorrida por uma sensação de melancolia, a caminho do aeroporto. O Matheus estava em conferência telefónica com um dos seus fabricantes estrangeiros perdida nas minhas cogitações.
Ele cobriu o telefone com a mão, inclinou-se para mim e apontou para um grande placar, mais adiante.
— Queres lá ir, não queres?
Era um anúncio do Museu de O Feiticeiro de Oz.
Depois de desligar, puxou-me contra si e aconchegou-me nos seus braços o que me surpreendeu um pouco.
— Tu estavas ao telefone.
—Tens estado sentada tão longe de mim quanto possível, a olhar através da janela. O que se passa nessa cabecinha, Docinho?
Ponderei por instantes. Não me sentia minimamente cansada; não era isso que estava a projetar aquela nuvem de melancolia sobre mim.
Então porque estaria a mentir? Porquê esconder-lhe aquilo que estava a pensar?
Virei-me para o encarar.
— Por acaso, não. Estou a mentir. Passei o dia inteiro a pensar na mesma coisa.
Ele acenou com a cabeça.
—OK, conta-me lá.
— Bom... adorei o tempo que passei aqui contigo.
— Eu também adorei o tempo que passei dentro de ti.
Dei uma gargalhada.
— Não foi bem isso que eu disse, mas está bem. Acho que estou.. preocupada com o que vai acontecer quando regressarmos à realidade.
— Julgava que já tínhamos falado sobre isso. Vou dobrar-te sobre a secretária, fazer-te ajoelhar por baixo dela, deitar-te na mesa de reuniões... Tens uma agenda completa a cumprir quando regressarmos ao escritório. — Repuxou-me o tecido dos boxers — Foda-se. Estou ansioso por regressar ao trabalho. Talvez fosse boa ideia lá depois de aterrarmos.
Dei-lhe um encontrão brincalhão no ombro.
— Estou a falar a sério.
— Eu também. Foder-te é um assunto que trato com máxima seriedade.
— Bom, seja o assunto sério ou não, acho que nada disso deveria acontecer no escritório.
Ele ficou com uma expressão desanimada, como se eu lhe tives- se dito que o coelhinho da Páscoa não existia.
— Nada de sexo no escritório?
— Não me parece boa ideia que alguém venha a descobrir.
— Eu fecho os estores.
— Talvez seja mais seguro mantermos a distância no trabalho. É óbvio que estaremos em reuniões juntos, de vez em não haverá toques impróprios.
— Mais seguro para quem?
Era uma excelente pergunta.
— Para mim?
— Estás a perguntar-me ou a afirmar?
— Eu sou nova na empresa. Quero conquistar a atenção das pessoas, e não que me acenem com a cabeça porque eu ando a foder com o patrão. Além disso, quando... quando já não estivermos juntos, será bastante estranho para ambos. Darmos a conhecer as nossas interações ao escritório todo só iria piorar as coisas.
O Matheus ficou em silêncio. Olhou através da janela e a distância entre nós pareceu aumentar, embora estivéssemos sentados lado a lado.
— Como queiras.
Ao chegarmos ao aeroporto, passamos rapidamente pela segurança e tivemos de esperar mais de uma hora antes de embarcarmos no voo das 21 horas, pelo que fomos para a sala de embarque da primeira classe. O Matheus tinha ido à casa de banho, enquanto eu pedia bebidas no bar aberto. Um jovem bem-parecido parou ao meu lado, enquanto o barman abria uma garrafa de Píton tinto.
— Posso oferecer-lhe uma bebida?
Eu sorri educadamente.
— As bebidas são gratuitas.
— Raios. Esqueci-me. Nesse caso, ofereço-lhe duas.
Eu ri-me.
— Não é necessário, mas agradeço à mesma, seu gastador.
O barman pousou o meu copo de vinho no balcão e foi tratar da bebida do Matheus. Examinei o quadro eletrónico dos voos, por cima do balcão, para verificar se o nosso voo continuava marcado para a hora prevista.
Ao ver-me sondar o quadro, o tipo que estava a meu lado disse:
— O meu vo0 já foi atrasado duas vezes. Para onde vai?
Quando eu ia responder, uma voz grave atrás de mim, antecipou-se:
— Para minha casa.
O tipo olhou para o Chase, que estava junto das minhas costas com uma mão possessivamente enrolada à volta da minha cintura, e acenou com a cabeça.
- Já entendi.
Pegámos nas nossas bebidas alcoólicas sentamos-nos numa mesa sossegada, a um canto.
O Matheus olhou-me por cima da bebida, enquanto bebia.
— Habitualmente não sou, mas sinto-me bastante cobiçoso quando olho para ti. Não quero que nenhum outro homem se aproxime sequer de ti.
Olhámos-nos nos olhos.
— E por isso que estás aborrecido comigo? Por te estares a sentir territorial e eu não querer que ninguém no escritório saiba o que se passa entre nós?
— Não.
-Então porque é? Estás calado há meia hora. Desde que falámos, no carro.
O Matheus virou a cabeça e olhou em redor, como que a reunir ideias, voltando depois a olhar para mim.
— Tu disseste «quando» e não «se».
Eu franzi o sobrolho.
— No carro. Quando me disseste que não querias que as coisas se tornassem desconfortáveis no escritório, disseste «quando já não já não estivermos juntos». Já projetaste estivermos juntos», e não «se o fim da relação.
- Tens razão. Desculpa. É que o meu historial de romances de escritório não é o melhor. Despedi-me do meu último emprego por essa razão.
O Matheus olhou-me atentamente.
— Dá-nos uma hipótese. Talvez eu seja o tal que não te vai dececionar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Boss
Short StoryBaseado no livro "Quando o teu patrão é convencido, mas sedutor, arrogante, mas sensual, irritante, mas irresistível, o resultado só pode ser um..." Estas no primeiro encontro com um homem para lá de aborrecido. O que é que fazes? Finges ir á casa d...