Capitulo 6

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Ainda estava escuro lá fora quando cheguei á Carter Idustriers na segunda-feira seguinte. Como as luzes do edifício estavam apagadas e as portas trancadas, conclui que talvez tivesse sido um nadinha apressada no meu primeiro dia. Depois de vaguear durante alguns minutos em frente ao edifício, à espera que alguém aparecesse, decidi ir ao Starbucks beber café. Ficava mesmo ao lado do restaurante onde eu conheci o Matheus.

Havia uma longa fila para o café, embora ninguém parecesse disposto a ir trabalhar logo a seguir. Reuni-me às pessoas, como um com soldadinho, ocupando o meu lugar no ultimo da fila, e aproveitei para ver os e-mails. Assustei-me ao sentir uma mão no fundo das costas, mas foi a voz que me sussurrou por cima do ombro que me provocou um arrepiou na espinha. 

— Também sou o papel de parede do iphone?

Dei um salto.

— Pregaste-me um susto de morte.

— Desculpa, mas não podia deixar de espreitar. Calculei que a obsessão fosse bem profunda, visto que sou o fundo de ecrã do teu portátil.

— Virei-me e ergui o telefone.

— Até vejo que vejo algumas semelhanças, mas não és tu, decididamente, nesta foto.

O Matheus tirou-me o telefone da mão.

— O que é isto?

— É a Aisha.

— E verdadeira?

— Claro que sim. É mesmo feia, não é?

— É uma gata?

— Sim. É uma Esfinge, uma gata sem pelo.

Era de facto o animal de estimação mais horrível á face da terra. A cabeça era demasiado pequena para o corpo e o focinho parecia de um demónio.

— O meu padrasto comprou-a para o aniversario da minha mãe, porque ela tinha alergias e ela queria muito um animal de estimação. Acontece que não e ao pelo que é alérgica, por isso despachou-a para minha casa, este fim de semana, enquanto tenta arranjar-lhe outro dono. O meu padrasto gastou 2.000 euros por ela.

— Consegues perceber a ironia da questão? — Perguntou o Matheus.

— Ironia?

— Tens uma gata (pussycat) pelada e estás a iniciar um emprego cujo produto mais emblemático é...

Eu tapei a boca.

— Oh, meu Deus! Só tu poderias ver ironia nisso.

— O que posso eu dizer? Uma ratinha depilada é linda, e rendeu-me uma pipa de massa. Essa gata devia ser a mascote da nossa marca.

Eu ri-me baixinho.

— Terei isso em consideração no meu primeiro projeto de marketing.

— Mas afinal, o que estas tu a fazer aqui tão cedo? — perguntou ele, olhando para o relógio. Foi então que reparei que ele estava pronto para correr, e não de camisa e gravata.

— Quis começar bem cedo.

— O edifício só abre às 6h30. Eu ia agora correr, mas mostro-te como se entra quando está fechado, depois de bebermos o nossos café.

— Não tem importância. Eu posso esperar ate que abra. Não quero interromper o teu exercício.

— Detesto correr. Qualquer desculpa serve para adiar. Conduzir uma bela mulher ao meu escritório é a primeira desculpa que arranjaria. — Piscou-me o olho. — Especialmente uma mulher que vai acabar por dormir comigo.

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