*
Acordei às 10:00 da manhã. A Catarina e a Bia ainda dormiam como umas pedras. Ainda me sentia cansada, mas não conseguia dormir mais. Olhei para a tela do telemóvel que me dizia que horas eram e a resposta de André.-proteger do quê?
Pensei bem na resposta que ia dar. Não haviam muitas opções, ele estava a espera de um justificação e eu senti que a tinha de dar.
-bom dia. Desculpa, acabei por adormecer ontem à noite. Quis te proteger dele, ele é perigoso André.
Pelos vistos ele ainda dormia uma vez que não respondia. Não queria fazer barulho por causa delas que nunca mais acordavam. Fiquei no telemóvel, tinha de me entreter com alguma coisa.
Por volta das 11:30 já estavam as duas acordadas. Levantamo-nos todas para irmos tomar o pequeno almoço, parecia que não comia há 3 semanas com tanta fome que estava a sentir.
Catarina como sempre disse uma piada que originou gargalhadas de todas. A minha vontade de rir parou quando ouvi o toque de mensagem.
-bom dia. Eu não tenho medo dele e vou te proteger as vezes que forem precisas.
-afasta-te de mim, é o melhor.- senti um aperto no coração quando enviei a mensagem. Estava a expulsar da minha vida uma pessoa que fazia de tudo para me ver feliz. Não o estava a expulsar da minha vida apenas por causa do Rui, era também pelo medo de o amar.
-não vou desistir. -respondeu.
Um sorriso surgiu nos meus lábios quando percebi que ele realmente estava disposto a lutar por mim, mas desapareceu assim que me lembrei que não podia aceita-lo na minha vida.
Não respondi mais as mensagens que André me enviou, e foram bastantes. Ele estava a ser persistente.
Depois do almoço a minha mãe foi-me buscar a casa da Catarina. Assim que entrei no carro a minha mãe, olhou para mim como se me tivesse a avaliar.
-Olá mãe.
-Olá, dormiste bem?
-Dormi.
-E portaste-te bem?
Depois do interrogatório da minha mãe ficamos as duas em silêncio. Já não havia tema de conversa, além disso estava mais concentrada nos meus pensamentos.
Cheguei a casa e fui direito ao meu quarto encontrando Paulo pelo caminho.
-Então, como correu a noite?- perguntou.
-Bem.- disse tentando parecer simpática.
Entrei no meu quarto, pousei a mochila e deitei-me na cama a pensar. Aproveitei o dia para estudar um pouco e ler um livro a arte subtil de saber dizer que se foda. Que livro... deixa realmente a pensar.
A tarde passou a voar, assim que a fome começou a surgir a minha mãe chamou-me para a mesa.
Durante o jantar mal falei. Não me aprecia estar acompanhada, queria estar no meu mundo.
-Ileana? Não tens nada para dizer? - perguntou Paulo. Consegui controlar-me para não dar uma resposta torta. Não estava interessada em ouvir mais um sermão.
-Não, então?
-Ho, estás tão calada.- disse.
Até parece que costumo falar muito durante as refeições com eles.
-Pois se não tenho nada para dizer...- respondi.
Felizmente deixara-me no meu mundo à parte sem fazerem perguntas como fazem sempre.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Silêncio Profundo.
RandomIleana é uma adolescente com 17 anos. A sua vida deu uma volta enorme a uma dada altura da sua vida, como consequência dos atos de outras pessoas, Ileana teve de aprender a viver com duas coisas, depressão e mutilação. Transformou-se num coração de...