O despertador tocou. Eram 11:00 horas da manhã e já tinha mensagens do André a fazer-me lembrar que tinha de ir lá a casa. Só queria esquecer e voltar a dormir, mas algo dentro de mim não permitiu tal coisa. Algo dentro de mim pedia que me levanta-se, porquê? Ele tratou-me mal, porquê que uma parte de mim queria ir ter com ele? Por vezes gostava de voltar a ter um coração de pedra, era tudo mais fácil, é o meu conforto. Viver sem ter um coração de pedra, para mim, é viver confortável dentro do desconforto.
Tentei levantar-me da cama. Mas tinha imensas dores. Estava de férias e sozinha em casa, felizmente. Fiz mais um esforço para me levantar mas não consegui, foi em vão. Peguei no telemóvel e mandei mensagem a André a pedir que o mesmo fosse ter comigo à minha casa.
André não tardou a chegar. Contei até três e levantei-me devagar quando André tocou a campainha. Estava horrível, sentia dores em todo o lado, e o pé direito não me estava a ajudar, muito pelo contrário. Demorei imenso tempo até chegar a porta.
Andre olhou para mim assim que abri a porta.
-O quê que te aconteceu?? Estás bem? Senta-te.- disse preocupando levando-me com cuidado até ao sofá da sala.- porquê que não me contaste nada? O quê que aconteceu? Acidente de mota?-perguntava cada vez mais preocupado.
Fiquei a olhar para ele de cara trancada sem me aperceber.- agora já estás preocupado? Quando me expulsaste da tua casa não vi preocupação nenhuma.- disse passados alguns segundos. Comecei a sentir algo na barriga para além de dores, nervosismo.
-Tiveste o acidente depois de saíres da minha casa- perguntou com cuidado.
-Sim, tive. Mas vais dizer o que tens para dizer ou não? Porquê que queres falar comigo?- disse um pouco alterada.
-Eu...- fez uma pausa.- desculpa- disse dando-me um abraço bem apertado.
O meu corpo estava dorido, aquele abraço estava a matar-me de tantas dores que estava a causar.
-Desculpa.... eu não quero ficar sem ti, eu não posso ficar sem ti. Desculpa.- disse chorando, as suas lágrimas caíam, e ele já nem tentava ter poder sobre elas.
-O quê que se passa contigo? André? Estás a assustar-me.- digo abraçada ao mesmo.
-Eu... Eu tenho de te dizer uma coisa...- disse de cabeça baixa terminando o abraço.
Naquele momento passou tudo pela cabeça, se ele me tinha traído, se tinha apaixonado por outra pessoa, se ia viver para longe. Nestas situações tudo nos passa pela cabeça.
-André diz de uma vez...
-Eu... nada esquece.- disse levantando-se rapidamente do sofá. Nem deu tempo de impedi-lo, simplesmente foi-se embora, sem dizer mais nada.
Tentei levantar-me do sofá, mas as dores não permitiram que eu fosse a tempo de o impedir de sair.
Eu tinha de ir atrás dele...
Subi com calma até ao meu quarto. Ao entrar observei o papel que Ricardo me tinha dado com o seu numero para caso precisa-se.
Peguei no papel e apontei o número no meu telemóvel. Começou a chamar.
-Estou?- disse uma voz do outro lado.
-Ricardo?- perguntei para confirmar se era mesmo ele.
-Sim, quem é?
-Ileana.-respondi.
-Aaaah Ileana. O quê que se passa? Está tudo bem?
-Mais ou menos... precisava de um favor teu se não te importasses.
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Silêncio Profundo.
AléatoireIleana é uma adolescente com 17 anos. A sua vida deu uma volta enorme a uma dada altura da sua vida, como consequência dos atos de outras pessoas, Ileana teve de aprender a viver com duas coisas, depressão e mutilação. Transformou-se num coração de...