Acordei no dia a seguir por causa do despertador. Merda do despertador, pensei. Olhei para o telemóvel para desligar a porcaria do despertador que tinha acabado de interromper o meu sono.
Quando consegui finalmente abrir bem os meus olhos, o que era difícil por causa do efeito dos comprimidos, depararei-me com uma mensagem do André, já não há novidade nenhuma nisto.
-Bom dia princesa.- Leio enquanto se forma um sorriso nos meus lábios que tento desfazer, mas foi em vão. Fiquei a pensar no quanto gostava dele e no quanto ele me fazia sentir bem. Era capaz de correr qualquer risco para o proteger.
Apesar de não demonstrar, eu estava completamente caidinha por ele, não suporto admitir, mas é a verdade. Estava completamente apaixonada por aquele pessoa que conseguiu entrar na minha vida sem pedir permissão quando eu menos esperava.
-Bom dia!- respondi.
Continuei na cama enquanto ganhava coragem para deixá-la.
-Posso ir até a tua escola dar-te um beijo depois do treino?- perguntou. Ele treina de manhã, o seu treino acabava as 08:00. Se fosse a Ileana de antes a responder ela diria que não, mas eu não sei por onde é que essa Ileana andou, ela desapareceu quando se aproximou do André.
-Claro.- respondi.
Mais uma vez comecei a pensar, malditos pensamentos que não me deixam em paz. Eu vou sofrer outra vez. Estava concentrada nos meus pensamentos até que ouvi o toque de mensagem, aí a minha concentração foi parar novamente ao telemóvel.
-Confesso que estava a espera de um "não", mas mesmo que negasses eu ia.- respondeu-me. Aquela resposta fez-me revirar os olhos. Não suporto que as pessoas não respeitem quando digo "não".
Parei de responder. Ganhei coragem e levantei-me da cama finamente. Comecei-me a despachar-me rapidamente uma vez que tinha demorado mais tempo a fazer ronha do que devia.
-Não tens escola hoje Ileana?- pergunta Paulo da cozinha num tom irónico. Alto o suficiente para eu ouvir no primeiro andar.
-Vou agora.-respondo revirando os olhos. Não é fácil lidar com alguém que não nos damos bem logo de manhã. Muito menos viver na mesma casa dessa pessoa, sem ser do teu sangue. Acredita em mim, eu sei o que digo.
Demorei um pouco até descer, quem me conhece bem sabe que não pode acreditar no meu "vou agora". Não é uma questão de perder tempo para me maquilhar nem nada disso, eu não sou dessas coisas, eu sou lenta mesmo, ainda para mais com um sono tão grande que mal consigo ver as coisas por causa dos comprimidos.
Saí de casa as 08:00 por incrível que pareça. A minha aula começava às 08:25 o que da a entender que ia chegar a horas. Se fosse uma pessoa normal sim, chegava a horas, mas tratasse de Ileana Guerreiro.
Vi André a minha espera perto do portão assim que saí do carro.
A minha preocupação quando o vi foi olhar à volta para ter a certeza de que Rui não estava por perto. Felizmente, nem sinal dessa pessoa. Se é que se pode chamar de pessoa. Ele nunca mais apareceu, nunca mais me procurou. Isso trazia-me tanta tranquilidade como preocupação. Não estava preocupada comigo, estava preocupada com André.
Aproximei-me de André, e mais uma vez, sem me dar escolha nem a oportunidade de negar, beijou-me. Até parece que foi contra a minha vontade.
Os seus olhos castanhos concentraram-se nos meus assim que os nossos lábios se afastaram.
-Amo-te tanto Ileana.- Disse com os olhos brilhantes. Apesar de sentir que as suas palavras eram sinceras, não acreditava que alguém me amava verdadeiramente.
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Silêncio Profundo.
RandomIleana é uma adolescente com 17 anos. A sua vida deu uma volta enorme a uma dada altura da sua vida, como consequência dos atos de outras pessoas, Ileana teve de aprender a viver com duas coisas, depressão e mutilação. Transformou-se num coração de...