Capitulo 19

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André acabou por adormecer. Só restava eu, os meus medos e os meus pensamentos.

Continuava coberta pelos braços de André, o que tornava a noite um pouco menos cruel.

Comecei a pensar em tudo um pouco.

Não há maior vazio que a saudade.
Não há maior aperto do que a perda.
Vivo num mundo a preto e branco. Onde sinto saudades de quem está mesmo ao meu lado. Onde sinto aperto por quem ainda não partiu. E assim vou vivendo. Com as vozes do medo na minha cabeça. Medo da solidão apesar de me sentir bem nela. Sinto-me bem sozinha. No final de contas, só nós mesmos ficamos. É pela nossa pele que correm as lágrimas enquanto o vazio das saudades nos destrói, o aperto no coração no sufoca, enquanto todas as promessas que foram feitas por outras se destroem ao sabor do vento por falta de atitudes e excesso de palavras. E assim vou vivendo, num mundo com conversas paralelas em que cada um de nós fingimos ouvir os outros enquanto estamos a ouvir apenas o nosso pensamento. Pensamento esse que tem todo o poder sobre nós. Pena que eu não consiga travar o meu.

Soltei-me dos braços do André pois já estava a ficar desconfortável. Afastei-me, indo para a outra ponta do colchão. Irónico, num momento a ideia de estar sozinha assustava, no outro já parecia uma óptima ideia.

Talvez porque os meus pensamentos obsessivos sobre quem vai ficar e quem vais sair da minha vida chegaram.

Naquele momento o André não me pareceu alguém que fosse ficar até ao final da minha vida.

Aos poucos e poucos fui adormecendo enquanto flutuava sobre os meus pensamentos.

****

Acordei com a mãe do André a acordar-nos.

Demorei tanto tempo para adormecer para no final não poder dormir o tempo que quiser.

André continuou a dormir, aproveitei a deixa para fazer companhia voltando a dormir. Um sono leve, assim como foi toda a noite.

-Amor?- chamou André para me acordar, o que não foi difícil.

Abri os olhos devagar e olhei para ele.

-Bom dia.- disse-me com um sorriso.-dormiste bem?

-Bom dia. Mais ou menos.- respondi.

A reação dele mostrou que aquela resposta era óbvia.

-Vamos comer?- perguntou.

-Vamos. - respondi levantando-me com um sorriso.

****
Os dias foram passando até chegar a hora de voltarmos para casa.

O tempo foi passando. O tempo passa sem darmos por isso. Quando dei por mim já não precisava mais de comprimidos para dormir, sorrir ficava cada vez mais fácil ao lado de André. Mas a vida é madrasta, e nunca sabemos o que nos espera.

Passados alguns meses do acampamento, André já tinha a carta de condução.

Formamos uma relação cada vez mais forte. Já não sentia tanto medo. A vida começava finalmente a assentar.

Amadurecer ao lado de alguém, conquistar coisas que sempre desejamos conquistar ao lado de quem amamos é realmente único e mágico.

Estava a tentar afastar a pessoa que sempre quis.

***

Era de manhã e estava sol, nada melhor do que andar de mota com um dia bonito.

Acordei e tinha uma mensagem a dizer "bom dia amor" de André como sempre.

Silêncio Profundo.Onde histórias criam vida. Descubra agora