Uma possível história de amor

"Verdade ou desafio?"

"Não, não sou Luna! Faz o que você quiser"

Ele me disse com uma voz tão fria, que um calafrio percorreu minha espinha, levando minha irritação e me trazendo a realidade.

Eu não devia ter gritado isso na frente de todos, que nos assistiam com um olhar curioso. Não que fosse mentira, mas eu também sabia que não era de todo verdade. Mesmo tendo pedido para sermos primeiro amigos, nossa relação sempre foi confusa, como se, só estivéssemos nesse patamar porque eu pedi que estivéssemos. E, eu não posso negar que de certa forma, o deixava, e confesso, que até gostava de como ele me tratava. Mas, a forma como ele falou, me deixou muito irritada, mesmo que ele fosse meu namorado isso NUNCA o daria o direito de falar daquela forma comigo.

Quando ele passou por mim, não consegui dizer nada, fiquei ali imóvel em meio aos meus pensamentos, observando-o me dá as costas e ir em direção a sala. Só consegui me mover, quando o peso dos olhos curiosos me tirou do meu estado de choque. Enquanto a adrenalina se esvaia do meu corpo, fui andando vagarosamente para a sala e respirei fundo antes de entrar. Não me atrevi a olhar para ele, com medo que ainda estivesse com raiva e fizesse uma cena na frente dos nossos colegas.

Mas, ele não o fez, na verdade quando olhei para ele rapidamente durante as últimas aulas, ele não olhou para mim. Quando bateu o sinal para irmos embora, enrolei arrumando minhas coisas, pensando que ele viria falar comigo, mas ao invés disso ele colocou seus fones de ouvido, pois sua mochila nas costas, e passou por mim, sem nem pestaneja, como se eu fosse uma das cadeiras da sala. Eu não sei bem o porquê, mas a atitude dele, fez com que eu sentisse uma pontada no peito. Sem jeito peguei minhas coisas e sai, me encontrando com a Luci que me esperava do lado de fora da sala.

_ Você está bem? Parece pálida. – Ela pergunta com um tom preocupado.

Devo estar mesmo, porque nesse momento estou atônita. Pensei que ele fosse, ter qualquer reação, se desculpar ou continuar a discussão. Não que ele fosse me ignorar e me tratar como um nada.

Não consegui responder então apenas acenei com a cabeça que sim. Mentindo claro, mas não queria falara sobre isso. Na verdade, tudo que quero agora é estar em casa, na minha cama, ou na minha sacada, digerindo o turbilhão de emoções que foi esse dia.

Quando chego em casa, minha mãe não está, e suspiro de alivio. Oque eu menos preciso agora é que ela me encha de perguntas, devido a minha cara abatida. Já basta o Rô que veio o caminho todo, dizendo que eu estava com uma cara "chata" e querendo saber o motivo.

Subo direto pro meu quarto, tomo um banho quente, pego um livro que estou terminando e vou para a sacada. Mas, acabo largando o livro de lado, já que não consegui eliminar um paragrafo se quer, porque toda vez que começo a ler, minha mente viaja para a cena em que ele passa por mim, totalmente indiferente.

Penso no que dissemos e da forma como dissemos, e me sinto um pouco culpada, por ter tido tão severamente que ele não era meu namorado. Penso em lhe mandar uma mensagem pedindo desculpas pelo que disse, mas decido falar com ele amanhã no colégio, afinal não sou a única culpada aqui.

Resolvo fazer o jantar para minha mãe, que parece bastante cansada, e é bom que arrumo uma distração para minha mente. Decido fazer espaguete com almôndegas, não estou inspirada para fazer, algo com muito detalhes, mas acaba ficando melhor do que eu imaginava.

Ajudo o Rô com seu dever de casa, e depois subo para antecipar algumas lições. Gosto de estar sempre antecipada, assim não tenho que preocupar, com possíveis imprevistos. É bom ter o controle das coisas, e talvez seja por isso que sou tão receosa quanto ao Peter, não tenho o controle de nada, quando se trata dele, nunca sei como ele vai agir, ou que vai pensar, ele é imprevisível, totalmente diferente de mim. Depois de ter que ler o enunciado dos exercícios umas quatro vezes, desisto e vou me deitar, me obrigando a fechar os olhos e adormecer.