Prólogo

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Selena Gomez

Alguns diriam que ela era o próprio demônio na terra.

Eu, por outro lado, tinha a mais absoluta certeza que se o diabo estivesse presente, cederia aos seus caprichos por medo.

A verdade é que minha chefe nunca foi uma pessoa fácil de se lidar, sequer se dispunha a isso. Parecia que a mesma tinha um fascínio pelo difícil. Algum tipo de prazer inexplicável em ver as pessoas gaguejando à sua frente.

— Foi uma pergunta simples, senhorita Jenkins.

— Desculpe eu.— Engoliu o seco em nervosismo, trocando o peso de perna logo em seguida — Acho que não entendi.

— Você é burra? — Lovato repetiu a pergunta anterior, mantendo o semblante ameno — Ou isso é algum tipo de atuação?

— Não, eu só pensei que...

— Qual seu cargo, senhorita Jenkins?

— Modelo.

— Então, sinto em te informar, mas você não é paga pra pensar, é paga por ser bonita — Afirmou erguendo a sobrancelha — Pode parecer algo horrível de se dizer, mas é assim que o mundo da moda funciona, se não gostou, então não entre.

— Senhorita Lovato, por favor me desculpe. Foi um acidente.

— Sei que foi, e é só por esse motivo que não irei te demitir imediatamente. Agora saia da minha sala.

Engolindo as lágrimas, a modelo ruiva se distanciou da mesa, provavelmente agradecendo aos céus por não ter sido demitida.

O crime dela?

Bem, eu não sabia ao certo, algo sobre derrubar café na tapeçaria de dez mil dólares que minha futura chefe tinha em seu escritório.

Assim que o som da porta de vidro foi ouvido, segurei com mais força minha caneta. Demetria tinha o poder de intimidar qualquer um com um simples olhar.

Ela suspirou pesado, antes de levar a mão ao telefone fixo de sua mesa e discar um número ainda desconhecido por mim.

— Dianne Jenkins, quero ela demitida até o final do dia.

Simples assim.

Em um simples telefonema ela havia tirado o emprego da moça que há segundos atrás implorava por perdão.

Abaixei o olhar pensativa, onde eu estava me metendo?

— Algum problema com isso? — A voz dela fez com que meus olhos se erguessem em uma velocidade impressionante.

— Hãm, não, senhorita Lovato, nenhum.

— Ótimo. — Ela então fez uma breve pausa para analisar o meu currículo por cima. Não pareceu se importar em realmente ler antes de amassar na minha frente e jogar na lata de lixo ao lado da mesa — Você sabe o porquê de eu analisar as candidatas à minha assistente pessoalmente?

Neguei instintivamente com a cabeça e a vi se inclinar sobre a mesa.

— Porque eu odeio erros. Mas, admito que eu mesma venho falhando na minha função uma vez que nenhuma das garotas aguenta o tranco...

Eu não sabia se poderia responder à observação dela, acredite, eu tinha algo interessante a acrescentar, provavelmente falaria se aquela fosse uma entrevista comum, e se eu não tivesse acabado de ver uma garota sendo demitida por derrubar café.

— Me diga uma coisa, senhorita... — gesticulou com as mãos.

— Gomez.

Se tivesse lido meu currículo saberia.

— Senhorita Gomez. Você precisa desse emprego? Ou está aqui por algum tipo de capricho?

Eu entendi o significado da pergunta. A clássica história de "milhões de garotas matariam por esse emprego". Bem, elas que afiassem seus machados e facas bem longe de mim, eu não era uma delas.

Na verdade, talvez fosse, mas não pelos mesmos motivos.

— Eu não estaria aqui se não precisasse, senhorita — Tentei soar educada em minha resposta.

— O que quer fazer da vida? Creio que seu sonho não seja ser minha assistente.

— Bem, na verdade, eu acabei de terminar a faculdade de administração... — Eu ia continuar, mas ela me interrompeu.

— Você é de Nova York?

— Não, nasci no Texas. Me mudei pela faculdade.

— Tem família aqui? Amigos?

— Também não. Ainda sou nova em Manhattan, não conheço ninguém...

Ela se recostou na cadeira me analisando, e a súbita sensação de que eu estava indo mal, me atingiu em cheio.

— Isso quer dizer que está disponível vinte e quatro horas por dia.

— Bem, não vinte e quatro horas, mas...

— Isso não foi uma pergunta — Afirmou me cortando — Obrigada pela entrevista senhorita, alguém ligará para você amanhã, te dando um retorno.

Era isso?

E todo o discurso sobre o porquê de eu querer trabalhar na empresa que havia ensaiado tantas vezes no chuveiro?

Me levantei calmamente, acertando minha saia ao meu corpo. Lovato, não fez questão nenhuma de esconder o grande X que havia feito ao lado do meu nome impresso em uma de suas folhas de papel.

Internamente, meus olhos rolaram em descrença e eu me permiti dar as costas e sair da sala da editora chefe com a certeza de que aquele não era o meu lugar.

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