Em suas mãos

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Demetria Lovato

A cor sumiu de seu rosto por alguns segundos. Ela não parecia ter processado muito bem minhas palavras, e por alguns segundos se manteve estática.

— Me desculpe. — Pedi, quando percebi que talvez houvesse sido precipitada. Mais uma vez, estragando tudo...— Vou chamar um táxi pra você ir pra casa. Está tarde, não quero que pegue o me...

Os lábios dela se chocaram de súbito contra os meus. As mãos contra meu queixo, me puxando delicadamente em sua direção, enquanto a calda de morango que a pouco eu provava se misturava em nossas línguas dando ao beijo um gosto adocicado.

Minhas mãos escorregaram para os seus quadris quase imediatamente. Ela me agarrou pelo pescoço, me puxando pra ainda mais perto, fazendo meu corpo pressionar o dela contra o balcão.

Porra, foi tão gostoso.

O beijo era lento, intenso. A forma como nos pressionávamos uma contra a outra, criando atrito. O jeito como Selena segurava minha nuca de maneira possessiva, enrolando alguns fios de meu cabelo em seus dedos....

O modo como minha calcinha umedeceu levemente quando ela segurou minha mandíbula, se permitindo mordiscar meus lábios. Ela tinha um sorriso mínimo e malicioso no canto dos lábios, um que me fazia ter vontade de a erguer no meu colo, e a levar contra a parede, apenas para que eu tivesse apoio, e a chance de ver sua reação quando eu colocasse meus dedos dentro dela.

Mas não era isso que ela queria, ou era?

Um fato sobre Selena era que ela me deixava confusa. A criatura mais controversa que eu já tive a chance de conhecer, em um dia me expulsava da sua casa e dizia que nossa relação seria apenas profissional. No outro, invadia meu prédio para me ver, e me roubava beijos.

Me afastei.

Ela se manteve no lugar. Imóvel. Parecia analisar minhas reações.

— É melhor você ir embora — Falei baixo. Eu não queria mais fazer parte daquilo. Se ela estava confusa sobre o que sentia sobre mim, tudo bem. Mas eu não arriscaria tudo de novo.

— Fiz algo de errado? — Ela questionou baixo. Confusa. — Pensei que a gente.... Pensei que quisesse.

— E eu quero, mas não assim. Quer dizer... O que é isso? O que você quer de mim? A gente fica nesse jogo, se omitindo. Nunca realmente sentamos para conversar sobre nós. Eu nem sei se existe um nós.

— Existe um nós.

— E o que nós somos? Num dia você diz que me odeia e no outro me beija. Você me deixa confusa pra caralho. — Admiti, passando a mão pelo rosto, num gesto de ansiedade — O que você sente por mim, Selena?

— Eu... Eu não sei.

— Céus, isso é errado pra caralho — Falei para mim mesma. — Nós somos algo, huh? Não só empregador e empregada.

— Não é só isso... Você sabe.

— E o que é? Somos amigas? Eu te conto coisas, mas tudo o que eu sei sobre você, é seu endereço e que tem um gato. Que tipo de amizade é essa? — Dei uma pausa, esperando uma resposta que não veio — Eu não quero estragar as coisas, Selena. Eu já disse o que sinto por você. Não é segredo. Mas se isso realmente for pra frente; se realmente formos continuar com essa... relação. Eu não vou estragar tudo pelo sexo. Eu.... Eu não quero te afastar.

— Você se arriscaria por mim? — Sussurrou

— O que?

— Colocaria seu coração em minhas mãos?

Eu suspirei, encarando sua feição ansiosa por uma resposta.

— Ele já está nas suas mãos.

Foi quando ela se aproximou, agarrando minha mão enquanto me condizia dentro de minha própria casa. Como se conhecesse o lugar melhor do que eu mesma.

— O que está fazendo? — Indaguei quando abriu a primeira porra do corredor.

— Conhecendo.

Minha boca se abriu para contestar, mas eu desisti porque percebi que não importava. Numa situação comum, com outras pessoas me puxando pelo braço pelos cômodos da minha casa, eu provavelmente já estaria aos berros.

Mas não era uma situação comum.

Não era qualquer um.

Era ela.

— Qual delas? — Selena Indagou quando chegamos ao segundo piso.

— O que?

— Seu quarto. — Murmurou, finalmente se virando de frente para mim. Correu a ponta dos dedos pelo meu rosto, passando o polegar pelo meu lábio inferior. Mantive meus olhos nos dela, acariciando seu pulso ao mesmo tempo — Eu não quero ser sua amiga.

BreakAway (Semi)Onde histórias criam vida. Descubra agora