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Rioston está fixamente olhando para o teto. Acordou a pouco, mas não saiu da cama. O sentimento de nulidade toma conta do seu ser, e senti-se um nada.

Mesmo tendo pago à justiça pelo acidente que matou Veruska, Rioston sofre por saber que mesmo se ficasse preso a vida toda, nunca traria a moça de volta à vida.

A dor da sua alma está a cada dia mais latente.

Ele sabe que o pouco mais de cento e vinte segundos que esteve morto, mostrou-lhe o outro lado da morte... Rioston ainda lembra-se do aviso:

"Você precisava voltar para ajudar as pessoas a se encontrarem."

Pensando alto ele fala:

— Como vou ajudar as pessoas a se encontrarem, se nem eu estou me achando? Estou literalmente perdido... Não sei o que fazer da minha vida. — Rioston chora deitado olhando para o teto e cada uma das suas juntas doem.

Ele limpa as lágrimas e passa a observar as cicatrizes que decoram seu corpo. São muitas e estão por todos os lados.

O acidente fez três ano no mês passado. Rioston está cumprindo um ano de pena alternativa, depois de passar quase um ano internado no hospital. Porém, as lembranças de Veruska morta sempre vêm tirar-lhe o sono, num sofrimento ímpar e diário.

Todas os dias, um fisioterapeuta vem ajudá-lo com sua perna esquerda.

Ele sente as dores aumentando.

Rioston senta na cama. Suspira. Foi difícil, mas levantou-se.

Ele consegue sentar... Prefere muito mais a dor física do que a dor na alma. A dor de ter assassinado uma pessoa.

Seus amigos o visitaram no hospital, e disseram que não foi culpa dele... mas se ele não tivesse bebido ou se não tivesse olhado para o celular... Veruska estaria viva.

A bengala está a um passo de distância dele. Mas, parece que tem um quilômetro entre eles. Os separando.

— Vamos Rio, força. — Ele fala, puxando de si para levantar-se. — Você é mais que tudo isso! Opa. Consegui. — Rioston com paciência espera sua cabeça parar de girar e poder entender qual caminho seguir.

A sua higiene pessoal demora sempre umas duas horas.

Ele não tem pressa e ver essa situação, como um momento para investir seu tempo com pensamentos positivos.

"O médico sempre o diz, que somos o que pensamos, logo não serei eu quem falará o contrário."

Olhando para o espelho, o rapaz de vinte e seis anos começa a repetir:

— Base para Hostoun! Câmbio! Alguém na escuta? Câmbio.— Ele agora muda a voz, tampando a boca com a mão dizendo:

— Adiante para Hostoun, Base.

Sem conter mais o sorriso, Rioston gargalha sozinho no banheiro... Depois seu semblante fica sério. As memórias do dia trágico chicoteiam-lhe novamente a alma.

Por mais que tente continuar a viver, qualquer coisa o leva de volta ao dia do acidente.

Em segundos ele vai da mais alta gargalhada, para o mais profundo choro.

Rioston chora muito!

Chora alto.

Os fluidos nasais saem em abundância pelo sofrimento gerado em seu coração.

BORBOLETA PRETA - COMPLETO - Lançado 14/02/2019Onde histórias criam vida. Descubra agora