— Bem chegamos. — Avisa Rioston parando o carro no lado direito da Avenida Conselheiro Aguiar... Mas na frente de uma casa.
— Não caibo em mim, meu Deus... Quanta apreensão está esse meu pobre coração. — Anita, agita as mãos mostrando sua imensa ansiedade. Rioston, deixa de olhar para ela e volta sua atenção para a entrada da casa.
— Você num disse que era um prédio?
— Eu não lembro de ter dito isso! — Anita é pega de surpresa com a pergunta de Rioston, que volta a olhar para a casa que tem muro baixo e murmura:
— Sério? Estranho... Eu jurava que havíamos falado em porteiro, apartamento... Eu devo ter entendido errado. — Rioston, embora diga que entendeu errado, dentro de sua cabeça ele sabe que ouviu corretamente.
— Nós falamos sobre muitas coisas no caminho. Eu realmente não devo ter entendido sua pergunta. Mas, se quiser desistir... Não vou ficar chateada. — Rebate Anita com voz nervosa.
Rioston, sai do carro, levanta seu banco, pega sua bengala e com cuidado atravessa uma das Avenidas automobilísticas mais movimentada da capital pernambucana.
A casa tem um muro branco. Baixo. Há dois portões, o primeiro é o do muro e o segundo é uma grade de ferro que pega todo o terraço e antecede a entrada para dentro da casa.
As duas grades são trabalhadas com desenhos em losangos.
Inúmeras roseiras saem pela grade da entrada da casa, e sobem pelos dois lados do muro. A garagem cabem uns três carros e sua parede é toda na cerâmica champanhe, com flores desenhadas em algumas delas.
A luz da sala está acesa. Alguém assiste o jornal das oito horas da noite. Rioston olha para o carro. Anita está sentada virada para ele, de lado.
O rapaz toca a companhia, que fica na parte esquerda e onde o muro é mais alto, fazendo a divisa com a casa do vizinho.
Alguém abaixa o som da tv.
Um homem, aparentando uns sessenta anos, sai e ver o jovem de bengala no seu portão.
— Não tenho esmolas agora. Passe outra hora.
— Desculpas senhor. Não estou pedindo esmolas. Estou procurando por Sérgio.
— Você está na casa errada. Não há nenhuma pessoa com esse nome aqui.
— Perdoe-me pela insistência... Mas preciso falar com ele, e tem mais alguém que também deseja.
— Você também é surdo meu jovem? Vou repetir: Não há nenhum Sérgio morando aqui!
Rioston sente uma pontada de raiva beliscar seu coração. Porém, por querer ajudar Anita, ele engole a raiva.
— Eu tenho um recado da esposa dele.
— Meu jovem, desculpas a ignorância do meu esposo. — Uma senhora com cabelos curtos e brancos, passa por trás do marido. Ela está usando uma camisa branca com o nome de um político local, e uma saia azul escura. — Mas, compramos essa casa pela Caixa Econômica Federal. Não mantivemos contato com os proprietários.
Rioston suspira pelo fracasso. O marido de Anita, já não mora mais ali.
— Muito obrigado pela ajuda. E peço desculpas por incomoda-los.
— Não há de que, talvez a vizinha saiba de alguma coisa. E ela é mais simpático que meu marido, vai com certeza lhe tirar as dúvidas.
— Obrigado minha senhora pela ajuda. — Rioston vê o marido jogar um resmungo para fora e logo em seguida entrar na casa, deixando sua esposa para lhe responder:
— Não há de que meu jovem. Deus te abençoe.
Rioston acena positivamente com a cabeça e vai até a casa do lado.
Ele bate palmas, e pergunta se há alguém em casa.
Ninguém responde.
Ele chama novamente, e de novo o silêncio o responde.
O rapaz atravessa a rua, e entra no carro.
— O que foi? — Pergunta Anita curiosa.
— O seu marido já se mudou.
Anita fica parada no escuro. Seus músculos faciais não expressam nenhuma reação.
— Não Entendo o porquê dele se mudar... E ainda levou o Tavinho. Meu Deus que dor no peito.
— Vocês foram felizes nessa casa?
— Sim! Desde que nos casamos moramos nela. Nosso filho nasceu em nosso quarto. Há uma piscina por trás dela. — Pausa. Anita cerra os olhos. Rioston vai abraçá-la, mas ela com as mãos pede que fique afastado.
Ele obedece.
— Anita, amanhã voltamos e conversamos com a vizinha deles. Eles disseram que ela vai ajudar e mora a mais tempo aqui.
— Eu estava com esperança que seria mais fácil.
— Minha amiga, precisamos descansar. Eu vou te levar à casa da minha família. Meus pais moram a poucas quadras daqui.
— Façamos assim, eu não vou ficar a vontade. Poderia me deixar na casa da minha irmã? É no Edifício Acaiaca.
— Claro, sem problemas.
Rioston, faz o percurso de volta até chegar no prédio que fica na orla da praia de Boa Viagem. No passado, quando era permitido a prática do surf, o local preferido como o "Point da azaração".
Anita desce do carro, circula e para na frente de Rioston.
— Rio, muito obrigado por tudo que está fazendo.
— Que isso, só me agradeça quando acharmos seu esposo. Amanhã vai ser um novo dia... Você vai ver. Apenas descance.
— Eu digo o mesmo para você. Durma bem. — Anita afasta-se em direção à entrada do prédio. Rioston da partida, seguindo para a casa dos seus pais.
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BORBOLETA PRETA - COMPLETO - Lançado 14/02/2019
SpiritualRioston sofre um grave acidente de carro, onde ele morre por mais de 2 minutos. Nesse período de EQM (Experiência Quase Morte) ele volta à vida diferente de como saiu dela. É nesse mundo conturbado, cheio de remorso e culpa que Rioston encon...